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‘Se não tiver voto impresso em 2022, vamos ter problema pior que os EUA’, diz Bolsonaro

Presidente volta a criticar sistema eleitoral brasileiro após invasão no Congresso americano; Maia vê ameaça e ministros do TSE repudiam tese de fraude

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Foto do author Daniel  Weterman
Por Daniel Weterman, Rafael Moraes Moura e Matheus de Souza

BRASÍLIA – Um dia após a sede do Legislativo dos Estados Unidos, o Capitólio, ser invadida por extremistas que não aceitam a derrota de Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro voltou a colocar em dúvida o sistema eleitoral brasileiro. Numa conversa com apoiadores nesta quinta-feira, 7, disse que, se não houver voto impresso em 2022, o Brasil pode ter um “problema pior” que o registrado nos EUA – o ato terminou com quatro mortos e 52 presos.

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O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), considerou a declaração uma ameaça de Bolsonaro, já preocupado com uma eventual derrota nas urnas daqui a dois anos. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) repudiaram a tese de fraude.

“Qual foi o problema (nos Estados Unidos)? Falta de confiança no voto. Então lá, o pessoal votou e potencializaram o voto pelos correios por causa da tal da pandemia e houve gente que votou três, quatro vezes, mortos votaram”, disse Bolsonaro.

Após ironizar eficácia da vacina, Bolsonaro disse que imunizante será comprado pelo governo federal caso a Anvisa conceda autorização Foto: Dida Sampaio/Estadão

A hipótese de que mortos votaram já foi desmentida pelas autoridades eleitorais ligadas ao partido Republicano, o mesmo de Trump, e não há indício de que as pessoas votaram mais de uma vez – a eleição americana é decidida no colégio eleitoral. Tribunais de dezenas de Estados negaram recursos feitos com base em alegações de fraudes levantadas por Trump.

“Se nós não tivermos o voto impresso em 2022, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”, afirmou o presidente brasileiro, em frente ao Palácio da Alvorada. A pressão pelo voto impresso é recorrente nas falas de Bolsonaro. Em 9 de março do ano passado, ele disse que apresentaria provas de que as eleições de 2018 foram fraudadas para que ele não vencesse no primeiro turno, mas nunca o fez. 

Presidente da Corte eleitoral, o ministro Luís Roberto Barroso cobrou ontem responsabilidade pelas falas. “Se alguma autoridade possuir qualquer elemento sério que coloque em dúvida a integridade e a segurança do processo eleitoral, tem o dever de apresentá-lo. Do contrário, estará apenas contribuindo para a ilegítima desestabilização das instituições”, disse.

Já o vice-presidente do TSE, ministro Edson Fachin, disse que a invasão do Capitólio deve colocar em alerta a democracia brasileira. Ao destacar a realização das eleições de 2022, afirmou que “quem desestabiliza a renovação do poder ou falsamente confronte a integridade das eleições deve ser responsabilizado em um processo público e transparente”.

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O ministro do Supremo Alexandre de Moraes disse que os Estados Unidos “certamente” saberão responsabilizar os responsáveis pela invasão. “Discursos de ódio e agressões às instituições corroem a democracia e destroem a esperança em um futuro melhor e mais igualitário.”

Ao comentar as declarações do presidente, Maia disse que elas indicam que o mandatário não aceitará uma eventual derrota nas próximas eleições. “Como Trump, me parece que Bolsonaro é um jogador que não admite uma derrota e ele já vai organizando o campo das ameaças com dois anos de antecedência.” Segundo o parlamentar, a fala se soma a outros “ataques às instituições”, como o Congresso e o Supremo. 

“É um ataque direto e gravíssimo ao TSE e seus juízes. Os partidos políticos deveriam acionar a Justiça para que o presidente se explique”, afirmou Maia. Parlamentares da oposição também criticaram o presidente. Líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ) disse que todos devem trabalhar para “preservar a democracia”. “As ameaças de Bolsonaro continuam, agora reforçadas pelo péssimo exemplo de Trump.”

Líderes das bancadas do PT nas duas Casas protocolaram representações contra o presidente no TSE e na Procuradoria-Geral da República. 

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