A Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) apagou de seu perfil no Twitter a publicação com a foto de um homem armado com espingarda que celebrava o Dia do Agricultor, comemorado nesta quarta-feira, 28. Nas redes sociais, o órgão sofreu críticas por relativizar a gravidade da violência no campo.O governo apagou a publicação diante da má repercussão, e substituiu por outras imagens de homens do campo. Dessa vez, nenhum deles está armado.
"A imagem utilizada anteriormente, em referência à segurança no campo, deu margem a interpretações fora do contexto", declarou a Secom por meio de nota.
A imagem utilizada pela Secom na publicação original está disponível em bancos de imagens genéricas e pode ser comprada por R$ 45 a R$ 3 mil a depender do tamanho e da resolução escolhida para download. A fotografia é identificada como "Silhueta de caçador carregando espingarda no ombro e observando".
No ano passado, causou polêmica a utilização de um gráfico genérico de banco de imagens numa publicação do Ministério da Ciência e Tecnologia que defendia a eficácia de um vermífugo contra a covid-19. O gráfico não tinha base em dados reais. Em abril de 2020, o governo usou uma imagem genérica de crianças, também de banco de imagens, para a divulgação do programa Pró-Brasil.
O texto que acompanhava a foto publicada nesta quarta ressaltava que o presidente Jair Bolsonaro "estendeu a posse de arma do proprietário rural a toda a sua propriedade", em referência a uma lei sancionada em setembro de 2019.A mudança na regra permite carregar a arma por toda a propriedade, e não apenas na sede do imóvel rural, como era previsto antes da nova legislação. A menção à nova lei não aparece mais nas redes da Secom.
A propaganda logo provocou forte reação contrária nas redes sociais e os termos "agricultor", "jagunço" e "Secom" ficaram entre os assuntos mais comentados do Twitter.
No mundo político, o tom foi principalmente de crítica. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), escreveu: "Será dessa forma que nosso agronegócio quer ser visto e respeitado no mundo?". O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) declarou que o governo faz a "simbologia do ódio e da morte em todos os espaços". Tanto Ciro quanto Leite querem ser candidatos a presidente em 2022.
Parlamentares e líderes de esquerda associaram a imagem à mílicia. O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) criticou a peça e afirmou que o dia "não é da milícia rural". O deputado estadual Goura Nataraj (PDT-PR) também classificou a ação como "miliciana".
A publicação também virou piada. "Feliz dia do jagunço", tuitou um usuário. Outro brincou que o "novo padrão" da Secom é homenagear profissões sempre as representando com armas nas mãos.
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