Secretaria e manifestantes dão versões distintas sobre uso de ‘sangue falso’ em confusão na Alesp

Governo Tarcísio diz que Polícia Civil ‘não descarta hipótese’ em inquérito após encontrar batom líquido vermelho no local; manifestantes negam e vídeos mostram confronto violento no plenário

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Foto do author Samuel Lima
Atualização:

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, subordinada ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), declarou nesta sexta-feira, 8, que não descarta a hipótese de que manifestantes tenham usado “produtos artificiais com coloração e aspectos semelhantes ao sangue humano” para fingir ferimentos após confronto com a polícia na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp). A pasta disse que teriam sido encontrados materiais do tipo entre pessoas que estavam no plenário, mas nada foi apreendido, e que as circunstâncias do caso ainda estão sendo apuradas. Os manifestantes, porém, dizem que um batom estava com outras maquiagens na bolsa de uma manifestante e tem textura completamente diferente de sangue, e divulgaram um vídeo que mostra uma mulher sendo atingida na cabeça (veja abaixo).

A alegação de uso de sangue falso foi explorada por bolsonaristas nas redes sociais. Eles alegam que teria existido armação no caso. Houve de fato, porém, confronto violento entre a Polícia Militar e manifestantes antes da votação do projeto de privatização da Sabesp, na quarta-feira, 6 de dezembro, que terminou com manifestantes e policiais feridos. Além das cenas gravadas (veja abaixo), o Estadão confirmou que pessoas foram atendidas na área de saúde da Alesp, localizada no terceiro andar do prédio. A Casa Legislativa enviou nota oficial mencionando os atendimentos, mas não prestou detalhes dos prontuários.

Pancadaria e conflito na Alesp com manifestantes contra a privatização da Sabesp e policiais militares. Foto: Tiago Queiroz / Estadão

A informação de que a Polícia Civil de São Paulo abriu uma investigação para apurar o caso foi noticiada na quinta-feira, 7, pelo site Metrópoles. A suspeita se baseia num vídeo que circulou entre policiais, deputados e integrantes do governo paulista. Nele, uma pessoa não identificada abre um tubo de batom líquido vermelho que teria sido encontrado no local e passa o material no braço de outra.

Em nota, a Unidade Popular (UP) disse que o batom estava na bolsa de uma militante junto com outras maquiagens e “tem uma textura completamente diferente de sangue”. O partido diz que a alegação é “absurda” e reitera que manifestantes foram agredidos e sofreram sangramentos por conta de golpes de cassetete desferidos pelos policiais. Ao menos dois PMs também tiveram cortes na cabeça.

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Relembre o caso

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A sessão extraordinária que discutiu o projeto de lei de privatização da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), na quarta-feira, 6, foi marcada por um confronto entre manifestantes e a Polícia Militar. O projeto foi aprovado por 62 votos a 1, sem a presença da oposição no plenário.

Imagens da confusão mostram manifestantes forçando um vidro que separa o plenário da plateia e tentando invadir o local. Para contê-los, agentes da PM usaram gás de pimenta. A substância se espalhou por todo o plenário e fez deputados esvaziarem o local às pressas. Manifestantes ficaram feridos, e quatro pessoas foram detidas.

Deputados da oposição se negaram a retomar os debates após o episódio e acusaram o presidente da Alesp, deputado André do Prado (PL), de cercear a atividade parlamentar com a continuidade da sessão. A base aliada de Tarcísio criticou a oposição dizendo que a confusão seria uma estratégia para protelar a análise do projeto, aprovado em seguida. A matéria deve ser judicializada.

Nesta quarta-feira, Justiça de São Paulo manteve a prisão de dois manifestantes detidos durante votação da privatização da Sabesp. As prisões em flagrantes foram convertidas em preventiva em audiência de custódia realizada nesta quinta-feira, 7. Os presos são o estudante da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e integrante do Movimento Correnteza, Hendryll Luiz Rodrigues de Brito Silva; e o membro do Movimento de Luta de Classes, o professor Lucas Borges Carvente. Já a presidente estadual da organização Unidade Popular, Vivian Mendes da Silva; e o membro do Movimento Luta de Classes, o metroviário Ricardo Senese, tiveram concedida a liberdade provisória.

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