BRASÍLIA - O secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, delegado Júlio Danilo, declarou nesta segunda-feira, 26, a que a intenção do governo do Distrito Federal é desmobilizar nesta semana os acampamentos de bolsonaristas concentrados no Quartel General do Exército, em Brasília. “Eles (Exército) fizeram um movimento na semana passada de tentar ir desmontando barracas, já ir desocupando, mas eu acredito que nesta semana vai se intensificar isso daí. Nós temos constante contato com eles, com o Exército, para que a gente possa avançar nisso”, disse Danilo ao Estadão.
O grupo está reunido no local desde quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) perdeu a reeleição para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Eles têm ecoado um discurso golpista de intervenção militar para impedir que o petista tome posse.
Há duas semanas, no dia 12 de dezembro, após a prisão de indígena bolsonarista que faz parte do movimento, vândalos queimaram carros, ônibus e depredaram prédios públicos e privados na área central de Brasília. No dia 24, véspera de Natal, um gerente de posto de combustível do Pará tentou explodir uma bomba em uma área próxima ao Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. Nos dois casos, as forças de segurança do DF confirmaram a ligação com os bolsonaristas acampados no QG.
O secretário não descarta novas prisões envolvendo os dois casos nos próximos dias. “Outras ações serão realizadas em decorrência dessa prisão (do homem que tentou explodir a bomba). Fora que a gente tem investigação em andamento em relação aos atos do dia 12. Outras diligências e ações serão realizadas.”
Danilo também afirmou que a posse de Lula, no dia 1º de janeiro, vai contar com 100% do efetivo da Polícia Militar. Para entrar na Esplanada dos Ministérios será necessário passar por revistas e, além disso, o trânsito será fechado e haverá barreira anti-drone, com o fechamento do espaço aéreo no local, e a presença de snipers. É esperado um público de cerca de 300 mil pessoas, de acordo com a equipe de transição de governo.
O governo eleito demonstrou alguma apreensão com a segurança posse depois desse episódio da bomba perto do aeroporto? Vai haver alguma reavaliação do esquema de segurança?
A gente está em contato constante com a equipe de transição, toda semana a gente tem reunião. Essa semana ainda tem reunião para gente poder fazer os ajustes, nós temos ensaio agendado para a posse. Então a gente está em contato direto. Não tenha dúvida que o planejamento é reavaliado sempre. Essas ocorrências do final de semana chamam atenção, isso vai ser considerado e a gente tem reunião essa semana para poder estar discutindo o tema. O nosso contato é constante, falo com o doutor Andrei (Passos, futuro diretor-geral da Polícia Federal) quase que diariamente. Ele é responsável pela coordenação da segurança do presidente Lula e quem está também responsável pela segurança da posse é o doutor Felipe (Seixas), que é da equipe do doutor Andrei também.
Quem tem participado dessas reuniões?
Essas reuniões que a gente tem feito têm uma abrangência grande. As forças de segurança sempre participam, todas elas. As reuniões que temos agendadas envolvem também os órgãos de segurança da área central, a polícia da Câmara, do Senado, do Supremo (Tribunal Federal), o Itamaraty, que está responsável pelo cerimonial como um todo, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) participam conosco. Ou seja, a gente tem reunião essa semana com todos esses parceiros. E reuniões pontuais que a gente tem com grupos temáticos. O pessoal que vai tratar de trânsito, a gente tem uma equipe de batedores que também fazem a questão setorial, temos a equipe de operações especiais, que fazem também esse grupo temático, grupo de inteligência faz a reunião temática também. A gente vai discutindo, eles vão analisar, tudo isso que aconteceu no final de semana está sendo tratado, os órgãos de inteligência estão trabalhando essas informações também. A gente já hoje, a partir de hoje, deve estar dando outro direcionamento.
Vão acontecer novas prisões?
A investigação está em andamento, costumo não falar em investigação, isso é um protocolo que eu tenho. É o delegado (Robson Cândido, chefe da Polícia Civil) que está tocando e eu respeito muito. Outras ações serão realizadas em decorrência dessa prisão. Fora que a gente tem investigação em andamento em relação aos atos do dia 12. Outras diligências e ações serão realizadas.
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Há alguma possibilidade de os acampamentos no QG do Exército serem desmontados antes do fim do ano?
Essa era a nossa intenção. Por nós a gente teria feito outros ajustes lá. Ali é área militar, a gente não pode atuar, simplesmente chegar lá e atuar. Eles (Exército) fizeram um movimento na semana passada de tentar ir desmontando barracas, já ir desocupando, mas eu acredito que nesta semana vai se intensificar isso daí. Nós temos constante contato com eles, com o Exército, para que a gente possa avançar nisso. Sempre coloquei à disposição não só as forças de segurança, como também a estrutura do governo do Distrito Federal, o governador já deixou isso a disposição. A gente está sempre trabalhando sob demanda deles e o que for nossa circunscrição a gente vai fazendo.
Quais dificuldades o Exército está colocando?
Eles não colocam dificuldade. Isso fica de acordo com a interpretação deles e a gestão interna. Eles não colocam dificuldade nenhuma, estão adotando medidas, algumas barracas foram desmontadas na semana passada e vamos ver como isso vai avançar durante a semana.
As área hoteleira, que vai receber muito apoiador de Lula e também já está ocupada com apoiador de Bolsonaro, vai ter a segurança reforçada no dia da posse?
Esse reforço já se deu. Desde o dia 12 aumentou até a presença ostensiva. A gente sempre teve a presença policial, mas a presença ostensiva nossa aumentou. Terá aumento de efetivo na área central. Até em decorrência da concentração de pessoas, a gente vai ter a lotação dos hotéis acima de 80% para o período de final de ano. A gente já teve um aumento de efetivo. Agora no período de natal a gente tem um programa que se chama programa de intensificação natalina de policiamento. Então a gente já aumentou o número de policiais na rua, principalmente na área central.
E no aeroporto?
A investigação está em andamento, a gente tem um protocolo específico para o monitoramento de áreas críticas. A gente vai estar atento, estamos trabalhando esses dados, a inteligência está trabalhando esses dados até para poder ver como circulou essa informação e tudo isso. A gente está acompanhando não só o aeroporto, como outras áreas críticas, como por exemplo estação de fornecimento de energia, de fornecimento de água, áreas de grande circulação de pessoas, todas essas áreas a gente vai manter um acompanhamento e vamos trabalhar. Já existe um protocolo de acompanhamento e agora é trabalhar o que aconteceu, trabalhar informações para que a gente possa redirecionar ou direcionar novas ações, novas medidas.
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