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PT aposta em Carapicuíba para fazer ‘cinturão vermelho’ em São Paulo e barrar avanço de Tarcísio

Legenda do presidente Lula quer retomar influência política na região, mas enfrentará uma centro-direita alinhada ao governador nas eleições de 2024

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Foto do author Zeca  Ferreira
Atualização:

O desempenho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas no ano passado ampliou o ânimo de petistas para a retomada do chamado “cinturão vermelho”, conjunto de cidades na Grande São Paulo governadas pela sigla entre 2003 e 2016. Isso porque Lula venceu Jair Bolsonaro (PL) em 23 dos 39 municípios da região. Com esse resultado, o PT vai buscar reconquistar prefeituras que já foram comandadas pela legenda nas eleições de 2024. Porém, a participação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como provável cabo eleitoral de candidaturas de direita inaugurará um novo cenário de polarização, opondo os ocupantes dos Palácios do Planalto e dos Bandeirantes.

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O município de Carapicuíba, com 387.121 habitantes e um orçamento de quase R$ 800 milhões, será um dos locais que vai abrigar o conflito entre Lula e Tarcísio em 2024. Administrada pelo PT entre 2009 e 2016, a cidade deu a Lula 53,48% votos válidos na última eleição, ante 46,52% de Bolsonaro. Assim, o diretório municipal do PT já começa a se mobilizar na construção de uma candidatura viável para o ano que vem. Do outro lado, o grupo político ligado ao prefeito Marcos Neves (PSDB) busca um nome para sucedê-lo. O prefeito, que se classifica como de centro-direita e que não é próximo de Bolsonaro, já disse que gostaria do apoio de Tarcísio.

Ao lado de outras seis cidades, Carapicuíba forma a Sub-região Oeste da Grande São Paulo. A área já foi um reduto petista no passado, com cinco dos sete municípios sendo comandados por prefeitos do partido entre os dois primeiros governos de Lula e a gestão de Dilma Rousseff (PT). O PT, no entanto, não governa nenhuma dessas cidades desde 2016. De lá para cá, a região — que possui um orçamento de R$ 14,2 bilhões para 2023 — passou a ser administrada por siglas mais à direita no espectro político, como PSDB e Podemos.

Carapicuíba, com orçamento de quase R$ 800 milhões, terá disputa entre aliados de Lula e de Tarcísio, em possível prévia de 2026. Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo

Em 2022, Lula venceu Bolsonaro na região nas mesmas cinco cidades que já foram governadas pelo PT: Carapicuíba, Itapevi, Jandira, Osasco e Pirapora do Bom Jesus. Assim, o objetivo de lideranças locais ligadas ao PT é de aproveitar a volta de Lula ao Palácio do Planalto para impulsionar os candidatos de esquerda nas eleições municipais do ano que vem. Porém, avaliam que a missão não será fácil e passa pela retomada do legado de gestões anteriores do PT na região.

“Estamos em um grande trabalho de reconstrução do PT, porque nós passamos por maus bocados. Agora, nós estamos ressurgindo das cinzas”, diz o sociólogo Sérgio Ribeiro, que foi prefeito de Carapicuíba duas vezes, entre 2009 e 2016, sobre a situação do partido na cidade. Nos bastidores, Ribeiro é considerado o candidato da sigla para a disputa à Prefeitura. Porém, ele ainda não se apresenta como pré-candidato e diz que está cedo para a construção de alianças eleitorais. “Devemos pensar no melhor para a cidade”, diz.

Na última terça-feira, 12, a Câmara Municipal de Carapicuíba rejeitou as contas apresentadas pela gestão Sergio Ribeiro no ano de 2016. A decisão da maioria dos vereadores da Casa acompanhou um parecer do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP). Questionado sobre o tema, o ex-prefeito afirmou que não teme a inelegibilidade, uma vez que o documento elaborado pelo TCE não aponta irregularidade insanável que configure ato doloso. Porém, ele comentou que o fato pode ser explorado por seus adversários políticos.

Centro-direita dá espaço a Tarcísio mas não se empolga com Bolsonaro

Embora Bolsonaro tenha conquistado expressivos 46,52% dos votos válidos em Carapicuíba em 2022, ele não deve subir em nenhum palanque na cidade nas eleições do ano que vem. Isso porque o atual prefeito do município, Marcos Neves (PSDB), tem um perfil mais moderado quando comparado ao ex-presidente. “Não sou muito favorável à questão da polarização. Acho que quem perde com tudo isso é a política”, diz o prefeito, que está no segundo mandado e não poderá disputar o próximo pleito.

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Com dois mandatos de deputado estadual e outros dois de vereador, o prefeito é hoje um dos políticos mais influentes da cidade. Além disso, ele é filho de Luiz Carlos Neves, que comandou Carapicuíba entre 1983 e 1988. Atualmente, seu grupo político reúne oito partidos, incluindo o PL de Bolsonaro. Segundo Marcos, o nome do candidato que representará o grupo na eleição de 2024 ainda não foi escolhido. “Nós combinamos que vamos tomar essa decisão entre fevereiro e março do ano que vem. Quando você toma essa decisão muito antecipadamente, você divide o grupo político”, explica. Desde 1993, nenhum prefeito de Carapicuíba consegue emplacar um sucessor.

Prefeito de Carapicuíba, Marcos Neves (foto) tem desafio de fazer sucessor e escolherá aliado para concorrer contra candidato do PT Foto: Werther Santana/Estadão

Na eleição passada, Marcos apoiou a candidatura do hoje governador Tarcísio de Freitas somente no segundo turno das eleições. Entretanto, desde então, os dois se aproximaram. No ultimo mês, o prefeito foi recebido pelo governador para discutir prioridades da cidade. Questionado sobre o apoio de Tarcísio no ano que vem, Marcos conta que “espera sim contar com o apoio do governador” e que “isso facilitaria a eleição de um possível sucessor”. Porém, ele pondera: “O apoio é importante, mas você tem que fazer a lição de casa. Se você não fizer a lição de casa, não vai resolver ter o apoio”.

Já sobre um eventual apoio de Bolsonaro, o prefeito é bem menos entusiasmado e se limitou a explicar que é contra a polarização. Rival de Marcos Neves, o petista Sergio Ribeiro também não espera que haja algum representante do bolsonarismo na cidade na eleição de 2024. “Carapicuíba ainda não teve nenhum bolsonarista na disputa pela prefeitura ou se lançando como deputado estadual. Existem os eleitores do Bolsonaro, claro. Mas candidato ‘bolsonarista raiz’ nunca existiu”. Na avaliação de Ribeiro, 10% do eleitorado da cidade vota na extrema-direita por ideologia, enquanto outros 10% votam na esquerda pelo mesmo motivo.

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“Os outros (80%) são aqueles que transitam. Há o evangélico conservador, mas que vota no Lula por ele ter sido o presidente que acabou com a fome. E tem aquele cara que não é um fascista, mas que vota no Bolsonaro porque acredita que o Bolsonaro tem uma retórica sincera e que não é da hipocrisia”, conta.

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