O fim da CPI dos Correios completa um ano nesta quinta-feira, 5. Até agora, nenhum dos envolvidos foi punido. O relatório final reconhecia a existência do "mensalão" - pagamento de uma suposta mesada a parlamentares para votarem a favor de projetos do governo - pedia o indiciamento de 124 pessoas entre nomes conhecidos como o dos ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken. Até agora, das 19 autoridades que receberam o relatório, 15 não prestaram conta ao Congresso Nacional. Parlamentares que fizeram parte da CPI querem responsabilizar os órgãos públicos que ainda não tomaram as medidas necessárias. O texto final fazia uma série de recomendações ao Ministério Público e a vários órgãos do Poder Executivo, como os ministérios das Comunicações, da Fazenda e da Justiça. Houve, de fato, a contundente denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, uma semana depois do fim da CPI. Souza concluiu que o mensalão era operado por uma "sofisticada organização criminosa", envolvendo 40 pessoas; que o "chefe do organograma delituoso" era o ex-ministro José Dirceu; e que do núcleo principal da "quadrilha" faziam parte três ex-dirigentes petistas: José Genoino, Delúbio Soares e Silvio Pereira. Mas até agora, o Supremo Tribunal Federal ainda não apreciou a denúncia. Ou seja: não há processo, nem réus. Muitos dos envolvidos voltaram à cena política. Foram reeleitos nas últimas eleições e assumiram mandato na Câmara, como os petistas José Genoino e João Paulo Cunha. Apesar de não ter disputado as últimas eleições, o ex-deputado José Janene acabou de ser eleito tesoureiro do PP, embora tenha obtido uma aposentadoria por invalidez na Câmara. A CPI começou após o aparecimento de um vídeo em que Maurício Marinho, funcionário dos Correios, aparece recebendo R$ 3 mil de propina. Na fita, Marinho diz estar agindo em nome do então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Jefferson reagiu denunciando o mensalão, o que levou ao desmembramento da CPI. Pessoas que foram denunciadas pelo deputado - cassado posteriormente - também não escaparam da lista: Dirceu - também cassado -, por corrupção ativa; Marcos Valério, por falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, corrupção ativa etc.; Delúbio Soares, por falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, crime eleitoral e peculato; e Silvio Pereira, por tráfico de influência.
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