Semipresidencialismo e brecha para Bolsonaro; entenda as propostas que Congresso quer avançar

Congresso quer votar neste ano propostas que pretendem mudar o sistema de governo e criar novas regras para as eleições de 2026

Foto do author Gabriel de Sousa

BRASÍLIA – O Congresso Nacional começou o ano de 2025 com pautas na mesa que pretendem mudar o sistema político e eleitoral do País. Algumas delas podem já afetar as eleições do próximo ano, enquanto outras promoverão alterações a longo prazo, como a troca do sistema de governo de presidencialista para semipresidencialista.

O Congresso Nacional deve votar pautas que afetam o sistema eleitoral brasileiro em 2025 Foto: Roque de Sá/Agência Senado

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Para valerem em 2026, as mudanças devem ser aprovadas até setembro deste ano. Segundo apurou o Estadão, os parlamentares querem que um modelo de voto distrital misto e o aumento do número de deputados estreiem no próximo pleito. Há expectativa também para a criação de um código eleitoral que unifique toda a legislação sobre o tema.

Em outra frente, parlamentares aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reúnem forças para reduzir o prazo de inelegibilidade imposta a ele, abrindo brecha para a sua candidatura ao Planalto.

Outras propostas, como o fim da reeleição para cargos do Executivo e a adoção de um sistema de governo semipresidencialista, que desidrataria responsabilidades do presidente enquanto aumentaria os poderes do Congresso, devem ser analisadas ao longo deste ano.

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Conheça as propostas que tramitam no Congresso e as expectativas dos parlamentares para quando elas devem ser votadas:

Redução do prazo de inelegibilidade

  • Qual é a proposta?

A proposta quer diminuir o prazo de inelegibilidade determinado pela Lei da Ficha Limpa, de oito anos para dois anos subsequentes ao pleito em que ocorreu um crime de abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação.

  • Como é hoje?

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Atualmente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) segue o prazo determinado pela Lei da Ficha Limpa, que é de oito anos. A legislação coloca o mesmo período de impedimento para políticos condenados por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, racismo e tortura após o início do cumprimento da pena. Foi esta medida que impediu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de se candidatar na eleição presidencial de 2018.

  • O que muda?

Caso seja aprovada, a proposta vai beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, padrinho político do autor do texto, o deputado federal Bibo Nunes (PL-RS). A proposta foi apresentada após o TSE declarar o ex-presidente inelegível até 2030 por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. Com a mudança em vigor, o prazo seria reduzido para até 2024, abrindo brecha para a presença do capitão reformado nas eleições de 2026.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Bibo Nunes (PL-RS) Foto: @bibonunes1 via Instagram
  • Qual a previsão dela ser aprovada?

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O PL quer que a proposta seja aprovada na Câmara ainda neste semestre e, por isso, batalha pelo comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, onde o texto está parado. Ao Estadão, Bibo disse que o partido pode iniciar uma obstrução - isto é, paralisar as votações no Legislativo - para pressionar a entrada do projeto que beneficia Bolsonaro na ordem do dia.

PEC do Semipresidencialismo

  • Qual é a proposta?

A proposta busca alterar o sistema de governo do País, incluindo um primeiro-ministro, que seria escolhido pelo chefe do Executivo, mas monitorado pelo Congresso. Caso aprovada, a mudança no sistema político brasileiro passaria a valer a partir de 2030.

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  • Como é hoje?

O Brasil adota o sistema de governo presidencialista, em que o Presidente da República, representante máximo do Poder Executivo eleito por voto popular, é o chefe de governo e o chefe de Estado, podendo ser retirado do cargo apenas por um processo de impeachment.

  • O que muda?

O modelo retiraria os poderes do presidente, que se tornaria apenas um chefe de Estado e não um chefe de governo. Ou seja, o primeiro-ministro, indicado pelo presidente, seria o responsável por apresentar um plano de governo e colocá-lo em prática. O poder do Congresso aumentaria já que, com maioria absoluta - isto é, 257 deputados e 41 senadores - seria possível derrubar o nome indicado pelo Planalto.

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  • Qual a previsão dela ser aprovada?

A proposta deve ser analisada pelo Congresso ao longo do ano de 2025. Conforme apurou o Estadão, uma aprovação pela Câmara, onde está hoje, pode acontecer no primeiro semestre a depender do ambiente político da Casa.

Aumento do número de deputados

  • Qual é a proposta?

Atendendo a uma determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que deu até o dia 30 de junho para a Câmara dos Deputados redistribuir o número de cadeiras por Estados, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), quer aumentar o número de parlamentares de 513 para 527.

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  • Como é hoje?

Atualmente, a Câmara tem 513 deputados, mas, caso a Câmara não faça as alterações demandadas pelo STF, sete Estados devem perder cadeiras mediante uma determinação feita pelo Supremo: Rio de Janeiro (4), Piauí (2), Paraíba (2), Bahia (2), Rio Grande do Sul (2), Pernambuco (1) e Alagoas (1).

Outros sete Estados ganhariam vagas: Pará (4), Santa Catarina (4), Amazonas (2), Ceará (1), Minas Gerais (1), Mato Grosso (1) e Goiás (1),

  • O que muda?

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A ideia de Motta é criar mais 14 cadeiras, que seriam dadas aos Estados que ganhariam as vagas conforme o Censo, sem ter que cortar o número de representantes das bancadas que devem sair perdendo com a nova mudança do STF. Conforme apurou o Estadão, para criar consenso entre as bancadas e evitar um conflito com Judiciário, o Legislativo vai garantir que o crescimento no rol de deputados não impacte o orçamento da Casa.

  • Qual a previsão dela ser aprovada?

Devido ao prazo dado pelo Judiciário, a nova mudança deve ser discutida até o dia 30 de junho. Segundo aliados de Motta, o aumento de 513 para 527 está sendo bem visto pela Casa e deve ser aprovado sem dificuldades.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) Foto: Arina Ramos/Agência Câmara

Voto distrital misto

  • Qual é a proposta?

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Muda o sistema eleitoral para a eleição de deputados, dividindo os Estados em distritos e estabelecendo que uma parte dos candidatos eleitos seja definida pelo mais votado em cada região. A outra parcela seria eleita pelo formato proporcional, como é feito atualmente.

  • Como é hoje?

Atualmente, os deputados são eleitos através do sistema proporcional. O modelo funciona da seguinte forma: cada partido conquista um determinado número de cadeiras proporcionalmente ao número total de votos que recebeu em todos os seus candidatos a deputado, além dos votos na própria legenda. As vagas então são distribuídas para os postulantes mais votados de cada sigla.

  • O que muda?

Caso o sistema eleitoral mude, parte dos deputados serão eleitos se forem os mais votados em cada distrito. Segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, a mudança vai beneficiar as elites parlamentares, que vão poder destinar recursos para um determinado nicho específico, deixando a corrida eleitoral mais desigual.

  • Qual a previsão dela ser aprovada?

A proposta, chancelada pelo PSD, deve ser discutida no primeiro semestre na Câmara. A votação, no período, não é dada como certa. Como a proposta já passou pelo Senado, basta a aprovação pelos deputados e a sanção do presidente Lula para ela passar a valer, caso seja aprovada até setembro. Segundo os apoiadores do texto, a intenção é que a medida já vigore nas eleições de 2026.

Fim da reeleição

  • Qual é a proposta?

Proposta do senador Jorge Kajuru (PSB-GO) busca acabar com a reeleição para chefes dos Executivos nacional, estadual e municipal.

  • Como é hoje?

Desde 1997, quando o Congresso aprovou a PEC da Reeleição com a chancela do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), os presidentes, governadores e prefeitos podem se candidatar para a recondução ao cargo uma única vez, sendo vedado um terceiro mandato consecutivo. Desde então, se aproveitaram do mecanismo o próprio FHC, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o atual presidente Lula, reeleito para o segundo termo em 2006.

  • O que muda?

Se aprovada, presidentes, governadores e prefeitos deverão cumprir apenas um mandato no Executivo, sendo impossibilitada uma reeleição. Assim como na proposta do semipresidencialismo, os efeitos não devem valer para as próximas eleições. A intenção dos senadores que apoiam a proposta é que a mudança passe a valer entre 2028 (para prefeitos) e 2030 (para presidente e governadores).

  • Qual a previsão dela ser aprovada?

De acordo com Kajuru, o projeto vai ser aprovado no Senado até abril deste ano. A expectativa dele está em como será a condução do tema por Hugo Motta. É preciso que a PEC seja aprovada pelas duas Casas, em dois turnos, para passar a valer.

O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Novo código eleitoral

  • Qual é a proposta?

O texto propõe, entre outras coisas, a reserva de 20% de vagas nos Legislativos para mulheres em níveis municipal, estadual e federal, determina quarentena de quatro anos para classes como juízes e militares se candidatarem e fixa o prazo de inelegibilidade em oito anos a partir do dia 1° de janeiro seguinte ao dia da eleição.

  • Como é hoje?

Atualmente, não há uma reserva de 20% de vagas para mulheres nos Legislativos, e sim uma garantia, através da Lei das Eleições, de que cada partido deve ter ao menos 30% de candidatas mulheres entre os postulantes aos cargos. Não há previsão de quarentena para juízes e militares, e sim uma exigência de que eles deixem a atividade antes do pleito.

  • O que muda?

Se aprovado até setembro, as eleições de 2026 passarão a ter as novas regras, o que deve impedir a candidatura de juízes e militares que estão atualmente em atividade. Os prazos de inelegibilidade e as cotas para mulheres deverão seguir a lei, que vai substituir toda a legislação eleitoral vigente por um único código eleitoral.

  • Qual a previsão dela ser aprovada?

Segundo o relator da proposta, o senador Marcelo Castro (MDB-PI), a proposta deve ser aprovada ainda neste semestre. Se ela for sancionada até setembro, as mudanças vão alterar o jogo político em 2026.

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