Família Bolsonaro ignora Marcos do Val e silencia sobre operação da PF que atingiu aliado

Senador, apoiador do ex-presidente desde 2018, foi alvo de mandatos de busca em seu gabinete e endereços ligados a ele

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Foto do author Natália Santos
Atualização:

Alvo de operação da Polícia Federal (PF) no dia do seu aniversário, nesta quinta-feira, 15, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) não recebeu apoio daquele que considera um fiel aliado: o ex-presidente Jair Bolsonaro. Nem o ex-chefe do Executivo nem os filhos Flávio, Eduardo e Carlos se posicionaram publicamente sobre o caso nas redes sociais até a manhã desta sexta-feira, 16. A postagem mais recente de Bolsonaro foi na manhã do dia 15, antes da operação. O conteúdo é a divulgação de uma notícia sobre o governo dele.

Do Val é investigado pelos crimes de divulgação de documento confidencial, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. As penas máximas para esses delitos, somadas, alcançam 31 anos e seis meses de prisão.

Senador, apoiador do ex-presidente desde 2018, foi alvo de mandatos de busca em seu gabinete e endereços ligados a ele Foto: Wilton Junior/ Estadão

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Marcos do Val se alinhou a Bolsonaro nas eleições de 2018, quando levantou pautas como a flexibilização do porte de armas entre a população civil. Em fevereiro deste ano, o parlamentar alegou ter sofrido coação do ex-presidente Bolsonaro para se aliar a ele em um golpe de Estado – mas deu versões diferentes sobre o caso.

Conforme mostrou o Estadão na época, Do Val mudou a sua versão sobre a suposta coação após receber ligações do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e passou a dizer que plano era de autoria do deputado cassado Daniel Silveira (PTB-RJ), numa tentativa de desvencilhar uma possível responsabilidade do ex-presidente.

Em razão das divergências, Moraes mandou abrir inquérito para verificar se o senador mentiu no depoimento à PF sobre o tal do plano golpista. O ministro definiu a suposta tentativa de golpe como um episódio “ridículo” e classificou a ação como uma “operação Tabajara”.

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Apoios de parlamentares bolsonaristas

Os apoios a Do Val vieram do ex-vice-presidente Hamilton Mourão, hoje senador, e de parlamentares bolsonaristas. Para Mourão (Republicanos-RS), o caso se configura mais como “vingança do que dever de ofício”.

A narrativa foi reproduzida pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG): “Multa de 22 milhões no PL, audiência do Bolsonaro pro dia 22 e busca e apreensão no dia do aniversário do Marcos do Val. Justiça ou vingança?”, disse.

O deputado André Fernandes (PL-CE) defendeu o direito de expressão de Do Val, que teve suas redes sociais derrubadas após decisão de Moraes. Do Val também recebeu apoio do senador Eduardo Girão (Novo-CE).

Entenda a operação

Nesta quinta-feira, a PF cumpriu três mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao senador. Agentes vasculharam seu gabinete no Senado e outros dois endereços no Espírito Santo, sua base eleitoral. As diligências e a derrubada das redes sociais do senador foram decretadas por Moraes. A Polícia Federal pediu a prisão de Marcos do Val, mas o magistrado não acolheu a solicitação. Durante a ofensiva, o celular do senador foi apreendido.

A operação ocorreu na mesma semana em que o parlamentar divulgou trechos de relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) com alertas sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. No post, Marcos do Val afirmou: “Vocês irão ver a prevaricação dos ministros Flávio Dias, Gonçalves Dias, Alexandre de Moraes e do presidente Lula”.

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Também nesta semana, o senador compartilhou um comentário em suas redes sociais em que sugeria que Moraes fosse investigado no inquérito que está sob sua própria relatoria, sobre a ofensiva antidemocrática.

Na noite desta quinta, Do Val disse que a operação feita pela Polícia Federal é uma “tentativa de intimidação” capitaneada por Alexandre de Moraes.

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