BRASÍLIA – O novo líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), aposta em um perfil discreto para tentar evitar que a crise no PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, comprometa a agenda do governo no Congresso.
“De maneira bem tranquila, discreta, porque líder tem de trabalhar pela convergência e com foco nas matérias de interesse do governo e do País, então eu fico tranquilo”, afirmou Gomes, em entrevista ao Estadão/Broadcast, procurando definir seu perfil. “Eu vou ser um operário.”
Depois que Bolsonaro viu assinatura da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) em uma lista para manter Delegado Waldir (GO) na liderança do PSL na Câmara, Gomes foi escolhido para substituir a parlamentar no cargo. A escolha foi oficializada em uma reunião no Planalto com Bolsonaro e o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, na manhã desta quinta-feira, 17. À tarde, o Palácio do Planalto formalizou a indicação no Diário Oficial da União.
Eduardo Gomes era um dos vice-líderes do governo no Senado, atua alinhado com o presidente Jair Bolsonaro e é fiel nas votações – votou contra desidratar a reforma da Previdência e a favor do decreto presidencial que flexibilizou o porte de armas. O perfil levou Bolsonaro a escolher o emedebista como novo líder no Congresso.
Pela frente, terá a missão de articular a análise do Orçamento de 2020 e preparar o terreno para as pautas do Planalto no ano que vem, entre elas a reforma tributária. Na avaliação de Gomes, não será possível emplacar mais nenhuma grande proposta em 2019 após a conclusão da reforma da Previdência no Senado.
Da esquerda ao Centrão, o histórico do novo líder do governo
Gomes já passou por vários partidos, da esquerda ao Centrão: foi do PP, PSB, PSDB e Solidariedade. No começo deste ano, se filiou ao MDB e, na disputa pela presidência do Senado, foi convencido a apoiar Renan Calheiros (AL) como candidato da legenda à presidência da Casa, minando as chances de Simone Tebet (MDB-MS) ser o nome da legenda na disputa. Colegas de bancada o apontam como um senador hoje muito mais alinhado ao governo Bolsonaro do que ao líder do partido no Senado, Eduardo Braga (AM), e a Renan Calheiros.
Foi vereador, ocupou três mandatos de deputado federal e, filiado ao Solidariedade, se elegeu ao Senado pelo Tocantins no ano passado. É afilhado político do ex-governador Siqueira Campos (DEM).
Inicialmente, Campos é quem seria candidato ao Senado, com Eduardo Gomes na suplência, mas os dois trocaram de posto após o ex-governador avaliar que seu estado de saúde não o deixaria exercer oito anos de mandato. Neste ano, o titular se licenciou por um mês para que Siqueira Campos ocupasse a vaga na Casa, enquanto Gomes assumiu uma secretaria no Governo do Tocantins.
O novo líder quer evitar que a crise no PSL se transforme em uma bomba-relógio na agenda do governo. “Ela (a disputa no partido) não reflete na votação de matérias nacionais. É só você olhar a coerência de quem votou nas matérias do governo e quem não vai mudar de voto por uma questão partidária. Quem votou por convicção na reforma da Previdência vai continuar votando nas matérias do governo”, afirmou Eduardo Gomes. “Após a reforma da Previdência, o ambiente de base está formado para votação de grandes matérias.”
‘Senador com alma de deputado’
O senador foi primeiro-secretário da Câmara em 2011 e 2012, quando Marco Maia (PT-RS) comandou a Casa. O histórico faz Gomes apostar que vai circular bem entre os deputados para a votação de propostas do governo no Congresso. “Sou um senador com alma de deputado”, afirmou.
Em relação à pauta do governo, o novo líder vai se concentrar na conclusão da reforma da Previdência no Senado – que não tem maiores obstáculos – e no fechamento do Orçamento, pendente de votação no Congresso.
Outros temas, como a reforma tributária, ficarão para 2020. Ele é apoiador da ideia de criar uma comissão mista da proposta entre Câmara e Senado e fechar um texto comum.
“Vamos ter de entrar o ano afinado. É um ano difícil, de eleição municipal. Eu acredito que este ano é Orçamento e reforma da Previdência”, afirmou. “É uma consequência de votação por causa do calendário.”
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