Independentemente do que tenha resultado na convocação, por Jair Bolsonaro, para um ato em defesa do Estado democrático, o fato de a direita levantar essa bandeira é louvável, pois manda um recado à militância mais radical que, tempos atrás, não hesitava em exibir nas ruas cartazes pedindo intervenção militar. O protesto do próximo domingo pode também enterrar de vez a ideia de golpismo e coloca a política nos eixos.
Até porque, diferentemente do discurso antissistema do passado, desta vez o envolvimento de políticos na manifestação tem sido contabilizado como central e de grande importância. Lideranças próximas do ex-presidente destacam a informação de que mais de 100 parlamentares deverão estar presentes, além de governadores e prefeitos aliados. É uma normatização necessária para que as pessoas se sintam imbuídas em participar da política, sem pregar a destruição do acordo social que garante a existência de eleições diretas. Não há caminho mais saudável do que esse.
Isso revela uma importante mudança e mostra um amadurecimento da democracia brasileira, desde 2018, quando as massas buscavam exaltar as qualidades antissistema de Bolsonaro. E se empolgavam com a possibilidade de eleger alguém distante das tradicionais amarras políticas, como se fosse possível governar sem alianças.
Essa lição Bolsonaro aprendeu durante o mandato. No início do seu governo, ele ainda ensaiou críticas fortes aos parlamentares, mas descobriu que precisava de aliados no Congresso, para garantir a governabilidade. Formou então um grupo, que aderiu bem às cores ideológicas que pregava. As críticas dirigidas ao ambiente político se focaram, então, apenas na esquerda.
A linha antissistema se manteve mais tênue, passando do Congresso para o STF. O atrito entre o Supremo e o governo Bolsonaro foi constante e, após muitos percalços, chegamos à manifestação do próximo domingo (25), com a corte envolvida na politização do país.
Essa presença do Judiciário nos debates políticos tem desanimado uma parte das pessoas que se identifica com o bolsonarismo. É um grupo que se sente decepcionado com a volta da esquerda ao poder e que não acredita que ir às ruas mudará algo. Dizem, desanimados, que o “mecanismo” venceu.
Para esses, falta esperança na manifestação convocada por Jair Bolsonaro. Um ingrediente que havia de sobra, quando o Brasil o elegeu e o transformou em uma das maiores lideranças do País. São eleitores que precisam de uma motivação que foque em propostas para o futuro do Brasil e que possa ir além da defesa do ex-presidente, perante os inquéritos que o envolvem. Essa fadiga de parte da direita será testada no domingo.
Nos últimos dias, as menções à manifestação reduziram 31%, influenciadas pela crise diplomática gerada pelas declarações de Lula sobre o conflito entre Israel e o Hamas. Alguns opositores do governo tentaram usar as falas de Lula para estimular as pessoas a irem à manifestação, mostrar sua indignação, mas a verdade é que a narrativa passou para as mãos da esquerda, mesmo que pelo enfoque negativo, e deixou o ato em segundo plano na agenda das redes.
Mas no ambiente da direita, o percentual de menções à manifestação segue estável, abarcando cerca de 68% dos posts que falam sobre Bolsonaro. Um índice que vem oscilando pouco, desde a convocação.
Isso certifica que Bolsonaro ainda impõe suas narrativas aos apoiadores. Mas a questão é que ninguém duvida da liderança que ele exerce. Por isso, convocar uma manifestação para demonstrar força política parece ser algo redundante. E arriscado. Se a Paulista estiver lotada, só confirmará o que todos já sabem. E se não atrair uma grande multidão, poderá sinalizar algum arrefecimento. A não ser que o ingrediente esperança brote durante o ato, pautando o pós-evento, nas redes.
Diante de uma plateia ávida por um alento, faltam palavras que inspirem e que mostrem um novo caminho aos que querem um futuro focado na direita política. Se Bolsonaro conseguir plantar novamente no coração dos seus seguidores a semente de que é possível alcançar dias melhores, o protesto servirá como uma alavanca para os conservadores, sem o risco de descambar para teorias que excluam da equação a democracia. Um problema que parece ter sido superado.
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