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Opinião|Avalanche de memes transforma Haddad em piada e expõe incapacidade do governo em lidar com as redes

Diante da inusitada e eficaz ação da oposição, o governo se mostrou inábil para enfrentar uma crise bem-humorada nas redes sociais. Passou a tentar usar argumentos lógicos para lidar com informações que apelam ao passional

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O humor é a linguagem mais eficaz da internet. Utilizá-lo como forma de ação contra adversários políticos é uma estratégia certeira para disseminar uma mensagem. Quanto a criatividade irônica e divertida encontra o imaginário das pessoas, a receita é infalível.

Foi isso que fez com que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se tornasse o alvo de uma grande campanha difamatória, que o acusa, por meio de memes, de se dedicar ao aumento de impostos, taxando, sobretudo, o consumo dos mais pobres.

O ministro da Fazenda Fernando Haddad durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto Foto: Wilton Junior/ Estadao

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Nos últimos sete dias, a AP Exata inteligência Digital identificou 540 memes diferentes sobre o ministro, que se disseminaram de forma avassaladora na internet. São cards, gifs e também vídeos feitos por inteligência artificial, que transformam o ministro em uma piada e colam nele o apelido de “Taxad”. Muitos utilizam cartazes de filmes conhecidos, inserem ali a imagem de Haddad e alteram os títulos, ressaltando a alegada taxação.

Nos comentários estimulados pelos memes o sentimento de Humor predomina, estando presente em 24,9% dos posts. No entanto, a linguagem satírica estimula também muita negatividade sobre o alvo da aparente “brincadeira”. Por isso, o segundo sentimento mais presente nas publicações é a Raiva, com 22,1%. Em terceiro está a Aversão, com 15,3%, seguida do Medo, com 10,3%. O sentimento de Confiança no trabalho do ministro, resultado de comentários de apoiadores do governo, é o menos presente, marcando 2,9%.

Além de colocar em Haddad o selo de quem quer aumentar impostos, a oposição ainda busca fazer um contraponto, relembrando declarações do ex-presidente Jair Bolsonaro, sobre a necessidade de reduzir a tributação, e também atos que ele teria sancionado, como a lei que limitou a aplicação de alíquotas de ICMS para combustíveis.

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Diante da inusitada e eficaz ação da oposição, o governo se mostrou plenamente inábil para enfrentar uma crise bem-humorada nas redes sociais. Passou a tentar usar argumentos lógicos para lidar com informações que apelam ao passional. Entrou claramente na defensiva, que é a pior posição para estar em uma guerra retórica.

A narrativa sobre aumento de taxas se iniciou com o “imposto das blusinhas” e se consolidou com a aprovação da reforma tributária. Ou seja, é algo que vem sendo alimentado há meses, sem qualquer reação da comunicação governamental.

Deixaram o barco correr, como se o mundo estivesse ainda na era analógica. Certamente menosprezaram a capacidade de mobilização dos opositores, nas redes, e agora encaram um problema que tomou proporções que ultrapassaram as bolhas dos adversários para virar senso comum.

A falta de uma resposta adequada e ágil do governo Lula diante dessa avalanche de memes expõe uma grave deficiência em sua estratégia de comunicação digital. Ao subestimar o poder das redes sociais e a criatividade mordaz dos opositores, o governo permitiu que uma narrativa desfavorável se espalhasse e ganhasse força, comprometendo a imagem de Haddad e, por extensão, a confiança nas políticas tributárias propostas.

No ambiente digital, a reação rápida e a compreensão das dinâmicas de comunicação são cruciais para evitar que o humor e outras narrativas se transformem em vetores de destruição de reputações e formação de opinião. Redes bem-humoradas, em se tratando de política, não são brincadeira.

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Opinião por Sergio Denicoli

Autor do livro TV digital: sistemas, conceitos e tecnologias, Sergio Denicoli é pós-doutor pela Universidade do Minho e pela Universidade Federal Fluminense. Foi repórter da Rádio CBN Vitória, da TV Gazeta (Globo-ES), e colunista do jornal A Gazeta. Atualmente, é CEO da AP Exata e cientista de dados.

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