As eleições deste ano confirmam que o centro político finalmente encontrou sua voz. Deixando para trás o estigma de posição sem personalidade, isenta, ou oportunista, se firmou como um eixo moderado, que abre espaço entre os polos da direita e esquerda.
E não estou falando do centrão fisiológico, que é um caso à parte e não abarca essa nova força política. Me refiro a algo que emerge como bandeira ideológica, se mostrando como uma força que busca uma política mais focada na diplomacia e menos no conflito.
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Direita e esquerda mantêm suas bases sólidas, apesar da fragmentação interna que sofrem. A esquerda já provou sua grande capacidade de brigar unida, juntando suas facções e caminhando na mesma direção, sempre que necessário. Já a nova direita, que se consolidou no Brasil em 2018, passa agora por turbulências e divisões, e ainda não enfrentou o teste de, após os conflitos internos, se unir em torno de um nome de consenso. O segundo turno das eleições poderá deixar esse cenário mais claro.
Mas a novidade maior é que, no vácuo deixado pela ausência de uma bandeira definida como moderada, emergiu esse novo centro, que ganhou adeptos e, consequentemente, protagonismo. Ele atrai eleitores cansados das retóricas polarizadas, mas também aqueles que sentem que o pragmatismo e a governabilidade deveriam prevalecer sobre o discurso inflamado.
Essa postura mais técnica e administrativa, voltada para resultados práticos, ressoa como música para um eleitor que está farto da política do “nós contra eles”.
A longo prazo, o sucesso desse novo centro dependerá de sua capacidade de resistir a pressões e manter uma coerência ideológica, que o distinga dos polos, sem perder a flexibilidade para mediar entre eles.
Outro aspecto crucial que emerge desse cenário é como o centro lidará com a crescente personalização da política. À medida que figuras individuais ganham protagonismo, o eixo moderador precisará encontrar lideranças que, além de representarem esse novo pragmatismo, consigam mobilizar eleitores e consolidar uma base política duradoura. Pessoas que sejam influenciadoras e abarquem seguidores cativos. Um problema que direta e esquerda já resolveram e que o centro deverá começar a solucionar a partir dos resultados das eleições municipais.
A política brasileira passa, portanto, por uma metamorfose que revela maturidade. Com a consolidação dos moderados, ao lado das forças já estabelecidas da direita e da esquerda, o Brasil ingressa em um cenário político de três ideologias bem definidas, cada uma com seu eleitorado engajado e demandas claras.
O protagonismo do eleitor, cada vez mais consciente de suas escolhas, sinaliza o enfraquecimento dos acordos políticos que, por muito tempo, ignoraram as ideologias partidárias em nome de interesses pessoais.
A partir de 2024, o eleitor se firma como o principal árbitro dessas forças, exigindo coerência e respeito aos compromissos programáticos. A governabilidade, a partir de agora, dependerá, mais do que nunca, da capacidade dessas três frentes de negociar sem abandonar suas identidades, redefinindo a política brasileira em termos de transparência, pragmatismo e representatividade.
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