A cena em Copacabana neste domingo foi emblemática. A grande mobilização em favor da anistia, esperada por apoiadores de Jair Bolsonaro, se transformou em um evento morno, quase melancólico. O ex-presidente, que arrastava multidões com discursos inflamados, agora parece enfrentar o mesmo fenômeno que atinge seu arquirrival, Luiz Inácio Lula da Silva: a fadiga do eleitorado.
O Brasil, que viveu anos de conflitos políticos intensos, mediados por dois polos antagônicos e complementares, entrou em uma nova fase, marcada não pelo amor ou ódio, mas pela indiferença em relação às velhas lideranças.

A manifestação na orla carioca se revelou um evento de nicho. E os sinais de desgaste já estavam nas redes sociais, onde o protesto não conseguiu protagonismo entre os temas que dominaram o debate dos internautas nos últimos dias. A consequência foi um encontro que reuniu um público reduzido e pouco entusiasmado.
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No entanto, o mesmo desânimo que atinge Bolsonaro também ronda o Palácio do Planalto. Lula, em seu terceiro mandato, enfrenta quedas acentuadas nos índices de aprovação. A esperança de um “novo começo” que ele prometia em sua campanha se dissipou diante da realidade dura e cotidiana que o brasileiro enfrenta.
É a violência que não cede, os preços altos nos supermercados, a saúde deficitária, infraestrutura precária, as florestas que não param de queimar. É o desprezo do poder público pelo dia a dia das pessoas.
O brasileiro parece ter percebido que a política não é feita de retóricas, mas sim de resultados concretos. E está farto de salvadores da pátria que não salvam, de guerras ideológicas que não levam a lugar algum.
Há um cenário de desencanto, que talvez seja a semente de uma mudança positiva. As próximas eleições têm potencial para consagrar um voto mais racional e bem menos emocional, como há muito tempo o Brasil não vivencia.
O desinteresse crescente indica que nem Bolsonaro nem Lula conseguem mais oferecer respostas convincentes aos desafios do País. E, pior, já não conseguem dar esperança às pessoas.
Esse esgotamento cria terreno para novas lideranças, pois o futuro político do Brasil se mostra mais aberto do que nunca, à espera de protagonistas que tragam algo além de promessas recicladas e embates vazios.