Ter quebrado a placa de rua com o nome de Marielle Franco é o ato mais simbólico feito por Daniel Silveira. Truculento, vazio e desprovido de projetos relevantes para o Brasil, ele encarna, de forma exacerbada, as raivosas narrativas que circulam pelas redes sociais.
Para a esquerda, Daniel Silveira é o antagonista perfeito. Sua postura transgressora e sua falta de profundidade intelectual conferem aos opositores a oportunidade de pintar a direita com traços grotescos, como se o movimento conservador fosse construído apenas por uma pauta antissistema e pouco propositiva. Portanto, se engana quem pensa que vitimizar Silveira é um ponto de celebração. Buscar essa narrativa apenas alimenta a polarização, útil para os dois lados da mesma moeda.
A direita e a esquerda necessitam sair dessa armadilha. O momento atual da política brasileira requer propostas relevantes e concretas para a economia, a segurança, a infraestrutura e tantas outras áreas. Esse foco é o que tem formado a opinião dos eleitores que decidirão as próximas eleições. O conflito ideológico alimenta franjas já posicionadas, mas afasta os moderados, que, hoje, estão aumentando e são os fiéis da balança.
O episódio no qual o ministro Alexandre de Moraes suspendeu a liberdade condicional de Silveira só trouxe prejuízos para o próprio condenado. Moraes segue em seu posto no STF e enfrentou apenas mais alguns dias de críticas e acusações de ser autoritário e desumano. Um discurso recorrente e bastante conhecido.
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Já Daniel Silveira segue sendo uma caricatura. É usado e descartado de acordo com as conveniências de quem busca lucrar com a desgraça alheia. Mas parece não ter se dado conta disso e, estimulado pela bolha dos que ficam na plateia incitando conflitos, continua confundindo desobediência com coragem ou autenticidade.
Não entendeu ainda que sua figura não é um desafio real ao status quo, mas sim uma engrenagem que ajuda a perpetuar os mesmos problemas que ele acredita enfrentar. A irrelevância de suas ações no campo legislativo apenas reforça a desconexão entre o que ele representa e o que o Brasil realmente precisa.
A história de Daniel Silveira não é apenas sobre ele, mas também sobre nós. Sobre como permitimos que figuras tão caricatas ganhem espaço e relevância, sobre como o debate político foi reduzido a uma batalha de narrativas passionais e sobre como precisamos urgentemente recuperar a profundidade no diálogo político. No final das contas, não se trata de ter pena ou não de Daniel Silveira. Trata-se de não termos mais pena de nós mesmos.
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