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Opinião | É preciso ter pena do ex-deputado Daniel Silveira?

Ex-parlamentar segue sendo uma caricatura. É usado e descartado de acordo com as conveniências de quem busca lucrar com a desgraça alheia

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Foto do author Sergio Denicoli

Ter quebrado a placa de rua com o nome de Marielle Franco é o ato mais simbólico feito por Daniel Silveira. Truculento, vazio e desprovido de projetos relevantes para o Brasil, ele encarna, de forma exacerbada, as raivosas narrativas que circulam pelas redes sociais.

Para a esquerda, Daniel Silveira é o antagonista perfeito. Sua postura transgressora e sua falta de profundidade intelectual conferem aos opositores a oportunidade de pintar a direita com traços grotescos, como se o movimento conservador fosse construído apenas por uma pauta antissistema e pouco propositiva. Portanto, se engana quem pensa que vitimizar Silveira é um ponto de celebração. Buscar essa narrativa apenas alimenta a polarização, útil para os dois lados da mesma moeda.

O ex-deputado Daniel Silveira foi preso por ordem do STF Foto: Wilton Junior/Estadão

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A direita e a esquerda necessitam sair dessa armadilha. O momento atual da política brasileira requer propostas relevantes e concretas para a economia, a segurança, a infraestrutura e tantas outras áreas. Esse foco é o que tem formado a opinião dos eleitores que decidirão as próximas eleições. O conflito ideológico alimenta franjas já posicionadas, mas afasta os moderados, que, hoje, estão aumentando e são os fiéis da balança.

O episódio no qual o ministro Alexandre de Moraes suspendeu a liberdade condicional de Silveira só trouxe prejuízos para o próprio condenado. Moraes segue em seu posto no STF e enfrentou apenas mais alguns dias de críticas e acusações de ser autoritário e desumano. Um discurso recorrente e bastante conhecido.

Já Daniel Silveira segue sendo uma caricatura. É usado e descartado de acordo com as conveniências de quem busca lucrar com a desgraça alheia. Mas parece não ter se dado conta disso e, estimulado pela bolha dos que ficam na plateia incitando conflitos, continua confundindo desobediência com coragem ou autenticidade.

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Não entendeu ainda que sua figura não é um desafio real ao status quo, mas sim uma engrenagem que ajuda a perpetuar os mesmos problemas que ele acredita enfrentar. A irrelevância de suas ações no campo legislativo apenas reforça a desconexão entre o que ele representa e o que o Brasil realmente precisa.

A história de Daniel Silveira não é apenas sobre ele, mas também sobre nós. Sobre como permitimos que figuras tão caricatas ganhem espaço e relevância, sobre como o debate político foi reduzido a uma batalha de narrativas passionais e sobre como precisamos urgentemente recuperar a profundidade no diálogo político. No final das contas, não se trata de ter pena ou não de Daniel Silveira. Trata-se de não termos mais pena de nós mesmos.

Opinião por Sergio Denicoli

Autor do livro TV digital: sistemas, conceitos e tecnologias, Sergio Denicoli é pós-doutor pela Universidade do Minho e pela Universidade Federal Fluminense. Foi repórter da Rádio CBN Vitória, da TV Gazeta (Globo-ES), e colunista do jornal A Gazeta. Atualmente, é CEO da AP Exata e cientista de dados.

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