O resgate do patriotismo nostálgico, apoiado em uma ideia idealizada do período militar, entrou em um impasse. A principal festa verde-amarela, que alimentou os corações conservadores, mudou de protagonista, saindo das mãos do “Capitão” e passando para o seu maior inimigo. Isso frustrou os que, no governo anterior, aproveitavam o 7 de Setembro para lotar as ruas em apoio ao presidente. Para esses, a Independência do Brasil tinha um novo significado, que passava pela ideia de libertar o País da esquerda – o que viam como motivo de comemoração e reafirmação de suas ideologias.
Estudos feitos pela AP Exata, em 2022, mostram que os atos nas ruas no Dia da Independência naquele ano fizeram com que Bolsonaro atingisse 43% de menções positivas no Twitter, enquanto Lula registrou 33%.
As declarações de voto nas redes também beneficiaram o então presidente. No dia 7, Lula abarcava 38% dos votos declarados pelos internautas e Bolsonaro, 36,6%. Já no dia 8, a repercussão dos atos fez com que Bolsonaro ultrapassasse Lula, marcando 42,4% x 36,4%.
Esse efeito pró-Bolsonaro, no entanto, durou pouco. Na altura, a esquerda alardeava pelas redes notícias sobre a alta dos preços dos alimentos, e o presidente perdeu a oportunidade de utilizar a atenção que despertou para falar para os que estavam sofrendo com a inflação. Reverberou um discurso autocentrado na figura de “imbroxável” e comunicou apenas para as bolhas de apoiadores, tornando a repercussão positiva das manifestações em algo efêmero. Em poucos dias, Lula voltaria a ter um protagonismo positivo nas redes, focando na ideia de que, com ele, o povo voltaria a comer picanha.
Este ano, com a esquerda novamente no poder, e com os militares sendo vistos pelos bolsonaristas com desconfiança, o 7 de Setembro parece ter perdido o encanto para a direita. Ela se recusa a participar da festa oficial, promovida pelo governo petista, e, desesperançada, também não se mobilizou para uma festa paralela. Optou por ressignificar o “fique em casa”, esperando que os atos cívico-militares do dia sejam um fracasso de público. Preparam uma invasão de fotos e imagens dos anos anteriores, buscando, novamente, o conforto do passado nostálgico.
Lula, por sua vez, se mostra incumbido na tarefa de resgatar símbolos nacionais cooptados pelo movimento conservador. Não abre mão da parada do 7 de Setembro e da foto ao lado dos comandantes das Forças Armadas, mas está dissociado de um movimento patriótico popular. As comemorações da Independência ainda habitam a memória dos que acham que o País precisa superar o PT e a toda esquerda. Para o atual presidente, será mais um dia tentando se conectar a um País dividido, onde uma das partes não o enxerga como representante legítimo.
O blog analisou as publicações sobre Lula que também citam o 7 de Setembro. Os dados mostram que apenas 1,6% dos posts sobre o presidente, feitos às vésperas do Dia da Independência, se referem à data comemorativa. No ano passado, esse índice era de 10,4% de menções, em posts sobre Bolsonaro. Em 2021, o percentual era de 31,4%, sobretudo devido à polêmica do voto impresso, que foi uma das bandeiras dos atos.
Lula, portanto, será o anfitrião de uma festa que perdeu o aspecto político-ideológico dos últimos anos, para voltar a se transformar em um evento em comemoração à formação da Nação e aos que um dia decidiram separar o Brasil de Portugal. Sem novos significados, mas com todo peso institucional e regimental das solenidades protocolares.
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