Mais do que mudanças em mediação de conteúdos, o que Mark Zuckerberg anunciou nesta terça-feira, 7, é que a Meta agora tem um lado político definido. Isso ficou nítido quando afirmou que será um aliado de Donald Trump, para pressionar governos que querem regular as redes.
A estratégia parece clara: em troca de apoio a Trump e a líderes com ideologias semelhantes ao redor do mundo, a Meta está moldando políticas para atender aos seus interesses, que passam pela elaboração de uma ditadura própria, onde suas “regras da comunidade” se colocam acima da lei.
Trata-se de uma guerra contra a elaboração de uma legislação mais do que necessária a respeito do funcionamento das redes. A empresa quer ser a única e ter o direito de bloquear seus perfis e páginas, mantendo um já conhecido histórico de suspensão arbitrária de usuários, sem qualquer direito à defesa ou transparência no processo, à revelia da Justiça.
Paradoxalmente, Zuckerberg disse que está defendendo a “liberdade de expressão”. Uma clara hipocrisia, pois a nebulosidade que envolve os algoritmos da Meta, e de outras big techs, impossibilita que se saiba se a empresa privilegiará ou não a difusão de informações do espectro no qual agora se insere explicitamente.
Se empresas de tecnologia podem manipular seus algoritmos para amplificar ou silenciar vozes, o que impede que utilizem essa tecnologia para influenciar eleições, moldar legislações ou até mesmo impor “verdades” convenientes aos seus interesses?
É um posicionamento ruim para todos. Se hoje quem tem uma postura mais conservadora acredita estar diante de um bom negócio, pode ser que no futuro se arrependa, pois nada impede que, diante de novos interesses, as empresas atuem para defender pautas progressistas.
O que está em jogo é uma tentativa de companhias globais, que possuem dados de grande parte dos habitantes do planeta, se colocarem acima do bem e do mal.
Não se iludam. A liberdade de expressão só poderá ser verdadeira quando a sociedade tiver garantias de que as ferramentas digitais não serão utilizadas como armas para dividir, manipular ou dominar. E isso só será possível com um equilíbrio real de poder e uma regulamentação séria e equilibrada. Algo que, hoje, ficou ainda mais distante.
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