No ato deste domingo, 25, Bolsonaro conseguiu reunir a direita e demonstrar, mais uma vez, sua incontestável liderança, confirmando as pesquisas eleitorais que o colocam como a maior força da oposição.
A manifestação também pautou as redes sociais, que foram as responsáveis por 97,6% das menções ao presidente. A mídia online gerou apenas 2,4% das menções. Após o evento, se intensificou a guerra narrativa entre esquerda e direta, na qual, até o início da noite, 58% das publicações eram favoráveis e 42% negativas.
Os posts positivos destacam a liderança de Bolsonaro, envoltos em uma nostalgia do período em que esteve no poder. As críticas da esquerda são mais centradas em pedidos de prisão e tentativas de mostrar os bolsonaristas como pessoas alienadas e fanáticas.
As dúvidas se voltam, então, para o que vai acontecer a partir de agora. Algumas respostas já estão claras. Em relação à polarização, pouco muda, pois o país segue bastante dividido. No que diz respeito à política partidária, o período eleitoral foi antecipado por Bolsonaro, que indicou que segue em alta o mantra “Deus, pátria, família e liberdade”, como uma alavanca para o voto conservador nas eleições municipais. O caráter religioso com ares neopentecostais também permanece como um dos pilares do bolsonarismo, blindando o voto evangélico.
Em termos legais, o evento não parece ser suficiente para sensibilizar o Judiciário. E também pode não ser suficiente para que o Congresso abrace a proposta de Bolsonaro de anistiar os envolvidos nas invasões de 8 de janeiro, o que poderia, inclusive, beneficiar o ex-presidente nesse processo.
Cabe lembrar que, em sua mais incisiva incursão pela política parlamentar, que foi a campanha contrária à reforma tributária, Bolsonaro saiu derrotado. Sua capacidade de liderar os deputados e senadores, sem a caneta na mão, é patente. O peso do governo pode evitar que uma anistia seja homologada.
Lei também
Se pensarmos na liderança que poderá suceder um Bolsonaro inelegível, o evento na Paulista pouco indicou, pois foi focado em uma nostalgia de um período que acabou por ser rejeitado pela maioria dos eleitores. E todos os atuais pretensos candidatos à Presidência pela direita carecem da liderança e carisma do ex-presidente.
Michelle tem dificuldades em avançar além da agenda cristã e Romeu Zema vem desgastando suas possibilidades como liderança nacional. Tarcísio de Freitas é o que tem se colocado de forma mais real como sucessor de Bolsonaro, com um discurso mais racional e pautado em realizações. Mas o ex-presidente parece querer adiar ao máximo a decisão sobre quem irá apoiar, até porque alimenta, entre seus apoiadores, a ideia de que poderá voltar ao tabuleiro oficial do jogo.
Diante desses fatos, parece que o evento não trouxe mudanças significativas no tabuleiro político, embora tenha reafirmado a imagem de Bolsonaro como figura fundamental para que haja uma oposição unida. A polarização persiste, as questões legais permanecem sem solução imediata, e a busca por uma liderança que possa sucedê-lo continua incerta.
A tendência, nesse cenário sem grandes novidades, é que a efusividade em torno da volta da direita às ruas seja superada rapidamente, sendo o tema dissolvido na efemeridade das redes e suplantando por novos fatos que vão surgir na agenda política do País.
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