Opinião

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| Trump adota lógicas da direita e da esquerda para criar um estilo próprio e imprevisível

No campo social e cultural, é um conservador clássico, mas na economia é de um hibridismo que desafia a lógica

Foto do author Sergio Denicoli

Donald Trump é um quebra-cabeça político, que vai se formando com peças tradicionais da direita e da esquerda. Ele é um fenômeno difícil de ser enquadrado em um perfil tradicional das ideologias, pois mistura as cartas do jogo sem se importar com as regras.

Enquanto muitos o veem como um ícone da direita, sua abordagem também traz fortes nuances que podem ser associadas à esquerda.

No campo social e cultural, é um conservador clássico. Sua retórica anti-imigração, a aproximação com grupos religiosos e a guerra que declarou contra pautas identitárias o colocam como um defensor ferrenho de valores ditos tradicionais.

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos Foto: Alex Brandon/AP

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Na economia, porém, Trump é de um hibridismo que desafia a lógica. Ao mesmo tempo em que se mostra simpático a práticas bem aptas à direita, como a desregulamentação ambiental, ele rasga o manual do liberalismo ao adotar medidas protecionistas, impor tarifas à revelia e a remontar unilateralmente acordos de livre comércio.

Enquanto a direita tradicional prega o livre mercado, Trump abraça políticas que estimulam subsídios à indústria nacional e que mostram o incômodo do presidente dos EUA com a ideia expansionista, focada em multinacionais. Algo que se consolidou como estratégia norte-americana sobretudo após a crise do petróleo, na década de 1970, quando se buscou alocar as grandes indústrias em regiões próximas às matérias-primas.

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Enquanto outros políticos tentam construir pontes, ele prefere dinamitá-las, criando uma narrativa de “nós contra eles”, mesmo em relação a nações aliadas, incomodando sua base e alimentando narrativas de seus críticos.

A política que estabelece é de culto à personalidade. Trump não lidera um partido, ele comanda um movimento que gira em torno de sua reluzente figura, seguindo um manual populista.

No fim das contas, não é apenas um presidente, mas sim um sintoma de tempos em que a política se tornou entretenimento e os holofotes acabam sendo mais importantes que os ideais.

Esta era de hiperconexão e hiperexposição constantes criou um apetite por figuras que menosprezam o establishment, que falam alto e agem de forma imprevisível. Trump é o produto desse desejo. Ele é efeito e não a causa. Pode ser entendido como espelho de uma sociedade que valoriza mais a espetacularização do que a substância, mais a briga do que o diálogo.

Sinais dos tempos em que as opiniões são voláteis e a previsibilidade é sinônimo de monotonia. Esse é o caminho que o mundo está construindo, mas que não faz a mínima ideia onde vai dar.

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Opinião por Sergio Denicoli

Autor do livro TV digital: sistemas, conceitos e tecnologias, Sergio Denicoli é pós-doutor pela Universidade do Minho e pela Universidade Federal Fluminense. Foi repórter da Rádio CBN Vitória, da TV Gazeta (Globo-ES), e colunista do jornal A Gazeta. Atualmente, é CEO da AP Exata e cientista de dados.

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