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‘Seria covardia demitir ministra do Turismo para nomear bolsonarista’, diz Waguinho

Prefeito de Belford Roxo e marido da ministra do Turismo critica possibilidade de troca do comando da pasta, que é dada como certa nos bastidores de Brasília

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Foto do author Eduardo Gayer
Atualização:
Foto: WILTON JUNIOR
Entrevista comWaguinhoPrefeito de Belford Roxo (RJ)

BRASÍLIA - Acertada pelo Palácio do Planalto, a troca de guarda no Ministério do Turismo para melhorar a relação do governo com o Congresso seria uma “covardia”, na leitura do prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho (Republicanos). Ele é marido da ministra do Turismo, Daniela do Waguinho, e deve se reunir nesta semana em Brasília com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para tentar uma sobrevida da mulher no cargo.

A demissão de Daniela - “mulher, evangélica e lulista”, nas palavras de Waguinho - para nomear o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA) – “bolsonarista”, diz o prefeito – é dada como certa nos bastidores do governo. Sabino é uma indicação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Como mostrou a Coluna do Estadão, a demissão da atual ministra é avaliada pelo seu esposo como uma manobra que auxiliará indiretamente o protagonismo político de Michelle Bolsonaro (PL).

Waguinho foi bastante ativo na campanha a favor de Lula nas eleições passadas. Na foto, eles participam juntos de um comício no dia 11 de outubro de 2022 (Foto: Pedro Kirilos/Estadão) 

Waguinho foi o mais importante cabo eleitoral de Lula no Rio de Janeiro nas eleições de 2022. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele defende que a ministra do Turismo não pode ser culpada por não entregar votos no Congresso, porque comanda uma pasta com pouco orçamento – cerca de R$ 825 milhões para 2023.

“Se a questão é a entrega do voto, potencialize o Ministério e diga: atenda deputado fulano, beltrano e sicrano. O que Celso Sabino vai fazer lá sem estrutura? Nada”, disse o prefeito, que trocou o União Brasil pelo Republicanos. Daniela aguarda autorização da Justiça Eleitoral para fazer o mesmo.

Na entrevista, Waguinho, que usa uma foto com Lula em seu WhatsApp, acusa Celso Sabino de machismo e o presidente do União Brasil, Luciano Bivar, de perseguição. De acordo com o prefeito, Daniela é uma cota pessoal de Lula e não foi indicação do União Brasil. “Ela tem a mesma situação da Simone Tebet”, avaliou.

Apesar dos alertas de que a relação de Lula com evangélicos e fluminenses sairia abalada com uma provável demissão de Daniela, Waguinho afasta rumores de que poderia romper com o governo. “Nossa lealdade e fidelidade ao presidente Lula continua a mesma. Somos Lula e sempre seremos. Vamos dialogar com o presidente qual é a outra posição que vamos jogar”, disse à reportagem, em uma sinalização de que até ele mesmo já considera a demissão da esposa.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

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Qual é a expectativa do senhor para esse encontro com o presidente Lula?

Somos amigos do presidente Lula. Então, a expectativa é boa. Na semana passada, ele me ligou e ficou combinado para esta semana estarmos juntos.

A conversa ao telefone com o presidente foi boa?

Muito boa. O presidente pediu para ficar calmo, ter tranquilidade e disse que jamais ficaríamos abandonados. A gente não sabe o que vai acontecer. Queremos ouvir do presidente o que ele está pensando disso tudo.

O deputado federal Celso Sabino é o nome cotado para assumir a cadeira de Daniela (Foto: Dida Sampaio/Estadão) Foto: Dida Sampaio/Estadão

Como a ministra se sente nesta situação de fritura em público?

É uma perseguição do (Luciano) Bivar e do (Antonio) Rueda (presidente e vice-presidente do União Brasil, respectivamente). O Celso Sabino almejava mesmo o Ministério da Integração e das Comunicações. Mas ele não teve coragem de encarar o (senador Davi) Alcolumbre (fiador da nomeação de Waldez Goes como ministro da Integração), nem o Juscelino (Filho, ministro das Comunicações) juntamente com o Elmar (Nascimento, líder do União Brasil na Câmara). Aí ele partiu para cima de uma mulher. Usou o machismo para poder tentar o Ministério do Turismo. O Turismo não é cota do União Brasil.

É uma cota pessoal de Lula?

É cota pessoal do presidente, pela dedicação da ministra Daniela e minha na campanha. Fomos os únicos que botamos a cara para que situação não fosse pior. O Rio de Janeiro é território bolsonarista. Foi uma guerra pesada.

Como o senhor responde à tese de que a ministra Daniela precisa deixar o cargo porque não entrega voto no Congresso?

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Isso não é uma verdade. Se o governo entendesse que o Ministério do Turismo era para entregar votos, deveria ter potencializado a pasta. Quem tem que entregar votos é o Ministério da Integração, que tem orçamento de R$ 20 bilhões. É o das Comunicações, que tem potencialidade grande. O Ministério do Turismo vai ter esse papel (de entregar votos no Congresso) mais à frente.

Como assim?

Com a aprovação da MP dos Ministérios, o Turismo voltou à sua originalidade, com cargos e poder. Agora é trabalhar para ter orçamento. Se a questão é a entrega do voto, potencialize o Ministério e diga: atenda deputado fulano, beltrano e sicrano. O que Sabino vai fazer lá sem estrutura? Nada. E a Daniela está fazendo um trabalho de excelência, é competente e trabalhadora.

A saída da ministra enfraquece o Rio de Janeiro e a questão dos evangélicos. Temos força no Estado. E ainda tirar uma mulher, se o governo tem compromisso de empoderar as mulheres? Tirar uma mulher lulista evangélica para colocar um bolsonarista? Não tem sentido algum

Waguinho (Republicanos), prefeito de Belford Roxo e marido da ministra do Turismo, Daniela Carneiro

Então o governo não deve ter expectativa de voto no Congresso em seus ministérios da “cota pessoal” de Lula?

Pega a comparação com o MDB. No terceiro ministério, Lula deu para a política ou para a Simone Tebet? Deu para Tebet, porque ela o ajudou na campanha. O MDB, na verdade, tem dois ministérios, não três, porque um é a Tebet, cota pessoal. O União Brasil não tem três ministérios, tem dois, porque um é a Daniela. A ministra do Turismo tem a mesma situação da Tebet.

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A substituição da ministra Daniela não melhoraria a relação do governo com o Congresso?

Isso é balela. Eles têm que cobrar votos do União Brasil, por tudo o que o partido ganhou. Eles pregam que não fazem parte da base do governo, como pode isso? Têm um ministério de R$ 20 bilhões e o das Comunicações, que é muito forte, têm muitos órgãos, e não entregam voto?

Uma eventual saída da ministra vai prejudicar a relação do governo com os evangélicos? Ela é uma expoente do segmento.

A saída da ministra enfraquece o Rio de Janeiro e a questão dos evangélicos. Temos força no Estado. E ainda tirar uma mulher, se o governo tem compromisso de empoderar as mulheres? Tirar uma mulher lulista evangélica para colocar um bolsonarista? Não tem sentido algum. E não se pode reclamar dos nossos deputados do Rio de Janeiro, que têm votado com o governo nas pautas importantes.

Nos bastidores de Brasília, a demissão de Daniela é dada como certa (Foto: Wilton Junior/Estadão) Foto: Wilton Junior / Estadão

Não votaram com o governo no Marco do Saneamento.

Porque era uma orientação do líder (Elmar Nascimento). É culpa dele. Não é só o União, é o MDB, o PSD, é o próprio PDT… Vários partidos não votaram. Agora, as pautas que poderiam enfraquecer o governo, pautas importantes, todas elas foram votadas.

Se Lula demitir Daniela, a relação do senhor com o presidente fica afetada?

Nossa lealdade e fidelidade ao presidente Lula continuam as mesmas. Somos Lula e sempre seremos. Vamos dialogar com o presidente qual é a outra posição que vamos jogar. Mas estamos discutindo a perda que é muito grande para o governo. Não é um ato de inteligência, seria um ato de covardia do governo. Daniela é uma ministra de qualidade e com potencialidade política, não é uma ministra que chegou ali do nada. Ela tem história.

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