Série de reportagens do Estadão sobre elo do PCC com o Poder Público ganha Prêmio IREE de jornalismo

Reportagens revelam dados sobre atuação do crime organizado em cidades espalhadas pelo País e a aproximação de grupos criminosos com políticos

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Por Redação
Atualização:

A série de reportagens do Estadão que contou como integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) e do Comando Vermelho (CV) se infiltraram nos municípios para capturar contratos milionários com prefeituras do País e para influenciar nas eleições deste ano foi a ganhadora do principal prêmio concedido pelo Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa. É a quinta vez seguida que o jornal vence o Prêmio IREE, quatro delas na categoria principal.

A premiação concedida pelo Instituto é considerada atualmente a principal do jornalismo. Nas edições anteriores, também receberam o prêmio principal as séries de reportagens que revelaram a operação montada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para trazer para o País joias que recebeu de presente do regime da Arábia Saudita, o esquema do gabinete paralelo no Ministério da Educação de Jair Bolsonaro, o que levou a prisão do ministro Milton Ribeiro, e o Orçamento Secreto, que passou a ser proibido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na primeira edição do prêmio em 2020, a revelação de um depósito de lixo da Petrobras no fundo do mar foi vencedora na categoria de reportagem de economia e outras duas séries de reportagem do Estadão receberam menção honrosa do IREE.

A série de reportagens do Estadão assinada pelos repórteres Marcelo Godoy, Heitor Mazzoco e Rayanderson Guerra mostrou que a ação dos criminosos foi detectada em investigações de São Paulo, Rio, Bahia, e Ceará, entre outros Estados.

Rebelião de presos ligados ao PCC; grupo que nasceu nos presídios expandiu seus domínios e agora disputa contratos público e quer aumentar sua influência nas prefeituras  Foto: Alex Silva/Estadão

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“Um dos desafios que o Estadão se impôs em 2024 foi o de mostrar como o crime organizado está enraizado em todas as esferas da sociedade brasileira, impondo um clima de insegurança pública pelo País. A série sobre conexões políticas abriu essa cobertura. Como é típico do jornalismo de excelência, jogou luz e antecipou o que seria, nos meses seguintes, alvo de operações policiais e tema central nas eleições para prefeito de São Paulo”, disse o diretor de Redação do Estadão, Leonardo Mendes Júnior.

Documentos inéditos de investigações mostram o pagamento milionário de uma prefeitura, por meio de contratos aditivos, para empresas de transporte ligadas ao crime. Ao mesmo tempo, um vereador teve a empresa apontada como elo para pagamento mensal a integrantes de organização criminosa. O envolvimento do crime, no entanto, tem consequências. Um ex-político, por exemplo, terá de arcar com o pagamento de multa por condenação pelo envolvimento com pessoas ligadas ao PCC. No Nordeste, a ação do Comando Vermelho culminou até com assassinato de um parlamentar, como apontam investigações na região. Há ainda detalhes de influência dos clãs milicianos no Rio de Janeiro de olho nas próximas eleições.

Reportagens mostram influência de facções no Poder Público pelo País

A série contou com oito reportagens sobre a ação dos criminosos pelo País. A primeira mostrou que a Prefeitura de São Paulo paga R$ 827 milhões a empresas de ônibus investigadas pela polícia por ligação com o PCC. Levantamento feito pelo jornal mostrou que, após as acusações contra diretores de três empresas terem se tornado públicas, em 2022, com prisões efetuadas e apreensões de bens, as companhias, mesmo assim, receberam repasses da Secretaria Municipal de Transportes e assinaram oito novos contratos – todos aditivos – para operar o sistema.

Em um desdobramento do caso, a polícia encontrou mensagens no celular de Adauto Soares Jorge, ex-diretor da empresa de ônibus Transunião, que mostraram a existência de pagamentos semanais de R$ 70 mil, feitos por meio do caixa da companhia, ao PCC. A empresa tem como um dos fundadores o vereador Senival Moura (PT), líder da oposição na Câmara Municipal de São Paulo. Os diálogos constam de inquérito conduzido pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) ao qual o Estadão teve acesso. As investigações estão sob sigilo de Justiça.

As reportagens revelaram ainda que celulares apreendidos com o sobrinho do sequestrador Andinho guardavam provas da ação do PCC no transporte público em Campinas. Os aparelhos escondiam mensagens de crimes e documentos que mostram a ação exercida pela facção no transporte público da terceira maior cidade do Estado. O Estadão teve acesso ao relatório sigiloso da análise dos telefones, com fotografias que retratam o tráfico de armas e drogas, a execução de rivais, a operação dos ônibus, além de mensagens, documentos e comprovantes de depósitos bancários trocados pelos criminosos.

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Imagens e mensagens sobre compra e venda de armas encontradas nos celulares apreendidos pelo Gaeco durante a Operação Sumidouro Foto: Reprodução / Ministério Público

A série relatou também que o ex-prefeito de Biritiba Mirim Jarbas Ezequiel de Aguiar foi condenado por nomear um sentenciado em duas instâncias por lavar dinheiro para um integrante do PCC. Procurado, o ex-prefeito não comentou o teor as acusações.

Duas reportagens contaram como o Comando Vermelho e a milícia atuam no Nordeste e no Rio de Janeiro para influenciar campanhas eleitorais e cargos. Enquanto no Rio a Justiça eleitoral procura barrar as candidaturas ligadas ou financiadas pelas organizações criminosas, em São Paulo, o PCC começou a impor vetos à presença de cabos eleitorais de políticos adversários em comunidades dominadas pela facção na eleição de 2020 em cidades como Campinas e Praia Grande.

No Nordeste, um integrante do Comando Vermelho foi condenado por assassinar brutalmente um vereador que mantinha relações com criminosos. Itaitinga, no Ceará, é um dos exemplos em que crime e política se tornaram cada vez mais próximos. Em troca de apoio político nas eleições municipais, criminosos eram agraciados com cargos e colocavam pessoas próximas no gabinete de um dos vereadores da cidade.

Também foram premiadas na edição deste ano do Prêmio IREE: reportagem do jornal O Globo que mostrou que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) espionou políticos, jornalistas e servidores públicos durante a gestão do então presidente Jair Bolsonaro; o site Metrópoles pela série de reportagens que revela como entidades conveniadas com Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) descontaram R$ 2 bilhões dos aposentados sem o consentimento deles. Também figuram na lista dos agraciados com menções honrosas ao UOL, que revelou a fuga para a Argentina de condenados pelo 8 de Janeiro; e a Record Minas, com o podcast que jogou luz sobre o difícil tema do suicídio entre jovens e adolescentes.

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