Silas Câmara muda tom sobre anulação de isenção fiscal a pastores após conversa com Haddad

Presidente da Frente Parlamentar Evangélica chegou a classificar medida do governo como ‘lamentável’ e ‘velha prática para promover o caos’; após reunião com o ministro da Fazenda, recuou e amenizou as críticas

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Foto do author Rayanderson Guerra
Atualização:

RIO – Há menos de três dias – quando o governo suspendeu a isenção tributária e previdenciária para pastores e líderes religiosos – o deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM) classificou a medida como “lamentável”, uma “velha prática para promover o caos”, e assinou nota da Frente Parlamentar Evangélica contrária à decisão. O ruído na bancada evangélica foi instantâneo, e o governo teve de agir para acalmar os ânimos das lideranças no Congresso.

“Lamentável. Para um governo que diz reconhecer a importância das religiões e a necessidade de aproximação do segmento, fazer um movimento desses é incompreensível”, afirmou Câmara, em mensagens enviadas a jornalistas após a publicação do Diário Oficial com a suspensão do ato normativo.

Deputado Silas Câmara é presidente da Frente Parlamentar Evangélica  Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi escalado para contornar o tema e evitar o desgaste com o segmento, visto pelo governo federal como uma das barreiras a serem contornadas na relação Executivo e Legislativo. A decisão assinada pelo secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, e publicada nesta quarta-feira, 17, forçou que a bancada evangélica abrisse o diálogo com o governo federal, em uma relação considerada instável.

Haddad deu explicações técnicas ao grupo. De acordo com o ministro, há dúvidas acerca da interpretação da lei aprovada durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que ampliou a isenção de contribuições previdenciárias sobre a remuneração de líderes religiosos, além de livrar as igrejas de dívidas milionárias.

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Após os acenos públicos e as ligações entre Haddad e Silas Câmara, o parlamentar recuou. Amenizou as críticas diretas ao governo e “comprou” a ideia do ministro. Os dois anunciaram a criação de um grupo de trabalho para discutir a isenção tributária sobre a remuneração de pastores para evitar o que considerou “politização indevida” sobre o tema. Segundo Haddad, a Receita busca entendimento sobre extensão desse benefício e isso é fundamental para que os auditores tenham segurança jurídica ao interpretar e aplicar a regra sobre isenção tributária.

Após o encontro nesta sexta-feira, 19, Silas Câmara confirmou a criação do grupo de trabalho entre parlamentares e governo para eliminar as dúvidas sobre a interpretação da lei e ressaltou que não houve cancelamento, apenas suspensão do ato regulatório. Segundo o deputado, o questionamento feito a Haddad foi sobre a queda do ato que regulamentava a aplicação da lei.

Reunião entre representantes da Frente Parlamentar Evangélica e o ministro Fernando Haddad Foto: Gustavo Raniere/Ministério da Fazenda

Antes do encontro, o presidente da Frente Parlamentar Evangélica havia assinado uma nota em que acusava o governo de agir com uma ”velha prática de promover o caos”. E afirmou que, ao revogar o ato, deixava “os ministros de qualquer culto à mercê da interpretação particular e do humor dos auditores da Fazenda”.

“Fake, notícia falsa. Analisando juntamente com o especialista em contabilidade eclesiástica Dr. Fábio Rodrigues, afirmamos que nunca houve nenhum tipo de isenção dada a ministros de qualquer culto. Uma breve consulta ao regulamento do Imposto de Renda desfaz essa falácia que visa somente puxar os evangélicos para o debate para aguçar a oposição pública contrária”, diz a nota assinada por Câmara.

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“Foi revogado apenas um ato interpretativo que tratava da questão previdenciária de ministros cuja lei correspondente continua vigente. Revogar um ato interpretativo deixa os ministros de qualquer culto à mercê da interpretação particular e do humor dos auditores da Fazenda. E a velha prática de promover o caos. Nunca houve tal isenção para nenhum ministro de culto em nenhum governo, repito.”

A bancada evangélica é majoritariamente de oposição ao atual governo e impôs derrotas significativas ao Planalto. Por exemplo, articulou a rejeição a uma indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Defensoria Pública da União, emperrou o trâmite do projeto de lei das fake news e ajudou a derrubar os decretos sobre o marco do saneamento. E, neste ano, de importantes votações econômicas no Congresso, é um grupo político que provoca preocupação ao Planalto.

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