Como previsto antes do início da campanha, a eleição municipal tem sido dominada pelos vários partidos do Centrão, com pouca influência da polarização a nível nacional entre o PT e a direita bolsonarista. A esquerda continua a sofrer para emplacar candidatos competitivos nas principais cidades do País, com chances de vitória em no máximo cinco capitais.
Diante desse quadro, muitos investidores e empresários perguntam todos dias se a eleição pode ser um ponto de inflexão para o governo Lula. Faltando dois anos para a campanha presidencial, a preocupação de parte da elite econômica é de que uma derrota acachapante nas prefeituras faça Lula e o PT redobrarem a aposta em uma política econômica mais populista, sem freios para o gasto público.
O risco disso acontecer, porém, é muito baixo. No começo da campanha, um cardeal petista disse o seguinte a este colunista: “disputo eleições ao lado de Lula desde os anos 1980, e todos nós sabemos muito bem que as eleições municipais não têm nada a ver com a eleição presidencial. Perdemos de lavada em 2020, e fomos eleitos em 2022″.
A avaliação dos petistas é compartilhada por políticos experientes do centro e também da direita. Nas eleições municipais, os eleitores, sabiamente, vão às urnas pensando nos problemas de sua cidade ou seu bairro. Não é um referendo para punir ou premiar o partido do presidente. Por isso, é perfeitamente possível que o PT, embora tenha um governo federal até agora bem avaliado (perto de 50% de aprovação), seja tão pouco competitivo nas cidades.
É óbvio que todos os partidos, PT inclusive, veem as eleições municipais como parte importante de suas estratégias. Uma base municipal forte, com prefeitos e vereadores, aproxima os partidos dos eleitores, aumenta a formação de quadros políticos, e pavimenta o caminho para bancadas numerosas no Congresso.
Sabendo das dificuldades para eleger prefeitos em cidades médias e grandes, o PT tem o objetivo de reforçar suas bancadas de vereadores - tirando proveito das regras da reforma política, que induzem a uma maior concentração dos legislativos - e também cultivar alianças locais que sejam úteis em 2026. Mas atingir esses objetivos depende muito mais da capacidade de mobilização local do que da avaliação dos eleitores sobre o governo.
Por isso, será preciso alguma surpresa muito grande neste domingo e no segundo turno para tirar o governo federal do prumo. E, mesmo que Lula se frustre com uma derrota ainda mais dura do que o previsto, ou se anime com uma vitória surpresa de Boulos em São Paulo, dificilmente o efeito psicológico sobre os petistas será forte e duradouro para mudar as linhas gerais do programa estabelecido em 2023. No plano federal, a variável que mais importa é a popularidade do próprio Lula, e não dos seus candidatos a prefeito.
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