PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

As relações entre Executivo e o Congresso

Opinião|Dilema de Biden expõe erros comuns na escolha de candidatos

Idade é apenas um dos vários problemas assombrando candidatura democrata; escolha de candidatos, no Brasil e no mundo, nem sempre segue critérios relevantes para eleitores

PUBLICIDADE

Foto do author Silvio Cascione

Joe Biden enfrenta uma pressão gigantesca para que desista de concorrer à reeleição. Sua performance desastrosa no debate da semana passada tem levado até aliados próximos a questionar sua capacidade de presidir os Estados Unidos pelos próximos anos – ou meses –, em função de sua idade avançada.

O presidente americano Joe Biden participa de evento na Casa Branca Foto: Jim Watson/JIM WATSON

PUBLICIDADE

A crise no Partido Democrata é uma boa oportunidade para refletir sobre campanhas eleitorais em geral, e quais os critérios de seleção dos candidatos – tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil. Muitas vezes, as expectativas de políticos e analistas não batem com a realidade. Em outras palavras, estão distantes daquilo que o eleitor realmente quer ver para tomar uma decisão.

No caso dos Estados Unidos hoje, a principal pergunta é se o ex-presidente Donald Trump perderá o favoritismo caso Biden desista. Resposta: não. Isso porque a idade do atual presidente é apenas um dos muitos problemas que atrapalham os democratas. Um candidato mais jovem ainda entraria na corrida em desvantagem devido à percepção negativa que os eleitores têm sobre o atual governo em muitos aspectos – inclusive, e principalmente, os altos preços.

Além disso, praticamente todos os nomes alternativos especulados pelos democratas nunca foram testados numa campanha nacional. Existe um alto risco de que, em pouco tempo, sejam ridicularizados e triturados pela máquina de propaganda de Trump – ainda mais se a escolha for improvisada. Ron DeSantis, governador da Flórida, é um exemplo de como um candidato inicialmente tido como promissor pode rapidamente perder força na disputa direta contra Trump.

Publicidade

A dissonância entre as preferências de elites partidárias e eleitores aparece no Brasil também. Um caso recente bastante exemplar é o de 2018, quando o candidato com maior coligação partidária, o atual vice-presidente Geraldo Alckmin, teve menos de 5% dos votos. Alckmin trazia uma mensagem de moderação e eficiência, e o eleitor queria uma mudança abrupta e radical – e encontrou em Jair Bolsonaro a sua escolha mais óbvia.

Em algumas eleições municipais, também há um erro de cálculo daqueles que dão muito peso à polarização política nacional. A principal preocupação dos eleitores é com a gestão local, e esse será o critério mais importante para avaliar os atributos dos candidatos. Em São Paulo, por exemplo, o candidato da esquerda, Guilherme Boulos, terá mais chances se mostrar que ele e seus aliados farão uma gestão melhor do que o atual prefeito – barateando o transporte ou melhorando a percepção de segurança dos moradores da cidade.

Por fim, em 2026, é preciso tomar cuidado com avaliações precipitadas sobre as chances de reeleição de Lula e o perfil ideal de um candidato de oposição. Bolsonaro ainda tem enorme apelo junto ao eleitorado justamente por causa de seu perfil. Enquanto essa situação perdurar, um candidato mais moderado, como Tarcísio de Freitas, ainda terá que demonstrar que é leal ao ex-presidente para ser competitivo.

Opinião por Silvio Cascione

Mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.