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As relações entre Executivo e o Congresso

Opinião | Estratégia de comunicação de Lula aposta em presença frequente na mídia

Presidentes têm posição privilegiada para influenciar o debate público; apesar do risco de gafes, Lula falará com mais frequência para impedir que oposição seja o centro das atenções

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Foto do author Silvio Cascione

Um mês após a nomeação do publicitário Sidônio Palmeira como ministro, a estratégia de comunicação de Lula para a segunda metade do mandato começa a se definir. A mudança mais relevante é o aumento do contato de Lula com a imprensa, agora com uma frequência significativamente maior do que nos últimos dois anos. O presidente também expressou a intenção de viajar por todo o Brasil, concedendo entrevistas a rádios e jornais locais em suas visitas. Em uma dessas entrevistas, porém, forneceu munição à oposição ao sugerir que a população evite comprar alimentos com preços elevados.

Para Lula, os riscos de suas declarações virarem memes parecem menores diante da máxima “falem mal, mas falem de mim”. A presença constante na mídia utiliza uma das principais vantagens do cargo presidencial: a capacidade de influenciar a cobertura da imprensa e, assim, tentar controlar o debate público.

Lula, presidente da República Foto: Wilton Junior/Estadão

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No governo, o exemplo citado é o do ex-presidente mexicano López Obrador, que dominava o noticiário nacional com suas “mañaneras” – entrevistas coletivas diárias que se estendiam por horas. Embora Obrador seja um caso extremo, outras formas de obter efeito similar existem. Jair Bolsonaro, por exemplo, mantinha suas lives semanais e falava quase diariamente com seus apoiadores, gerando polêmicas que também dominavam o noticiário. O mesmo faz Donald Trump em suas postagens na Truth Social. Para Lula, que enfrenta desvantagens contra a oposição nas redes sociais, a mídia tradicional parece, por ora, uma opção eficaz como caixa de ressonância.

Com o presidente falando quase diariamente, espera-se um aumento no nível de ruído. Comentários sobre política econômica podem ser mais frequentes, possivelmente gerando volatilidade no mercado, especialmente em momentos de incerteza. Declarações sobre política externa podem provocar atritos, especialmente com Donald Trump. O ambiente tende a ser mais barulhento.

Naturalmente, o ideal para Lula será evitar gafes, como a dos preços dos alimentos, concentrando-se em programas de impacto, como o Pé-De-Meia, e propostas eleitoralmente atrativas, como o aumento da isenção do imposto de renda. Com o presidente na linha de frente, ministros e aliados se sentem motivados a seguir o exemplo, com um discurso mais unificado.

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Embora isso não deva aumentar significativamente a popularidade do governo, dado o alto nível de polarização e a perspectiva econômica desfavorável, pode ajudar Lula a proteger-se dos ataques da oposição e evitar uma queda acentuada em sua taxa de aprovação, posicionando-se para um competitivo 2026. A nova estratégia de comunicação serve como um lembrete de que nunca se deve subestimar a força de um incumbente.

Opinião por Silvio Cascione

Mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group

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