Em julho de 2017, o PT convocou seus militantes para um ato na Avenida Paulista em solidariedade a Lula. O então ex-presidente havia sido condenado poucos dias antes pelo ex-juiz Sergio Moro, na Operação Lava Jato, e faria seu primeiro discurso público para dirigentes partidários, sindicalistas, e milhares de apoiadores. Lula foi preso em abril de 2018.
Um roteiro parecido se repete agora, com outro ex-presidente. No próximo domingo (25), na mesma avenida, milhares de pessoas se juntarão a autoridades como o governador e o prefeito de São Paulo para um ato em solidariedade a Jair Bolsonaro. Com a participação de lideranças evangélicas e caravanas de várias partes do país, é provável que a manifestação seja grande, rendendo fotos de uma avenida lotada.
O ato será importante porque marcará o retorno dos bolsonaristas às ruas, agora na oposição ao PT. É compreensível que a oposição tenha se retraído no primeiro ano do governo, ainda mais depois do baque causado pelas invasões de 8 de janeiro e pelo sucesso, até aqui, da agenda econômica de Fernando Haddad. Mas também seria de se esperar que, em algum momento, a política voltasse às ruas do Brasil – e esse será um dos legados de 2024.
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A presença de muitos parlamentares, governadores e outras lideranças no ato de Bolsonaro será uma prova de que o ex-presidente continua a ser, de longe, a voz mais influente da oposição. Bolsonaro não poderá concorrer à Presidência em 2026 – talvez nunca mais. Mas mostrará, neste ato e nos seguintes, que dificilmente qualquer candidato poderá ser competitivo contra o PT sem a sua benção. Isso atrapalha o cálculo político de partidos de centro que gostariam de lançar candidatos próprios, ou que se esforçam para manter um pé em cada canoa – Lula e Bolsonaro.
Mas o efeito do ato de domingo não pode ser exagerado. Em termos práticos, pouco mudará para o ex-presidente por enquanto, assim como os atos de 2017 e 2018 não mudaram o destino de Lula. Mesmo que a oposição esteja mais mobilizada, isso não deve diminuir a disposição do Congresso para negociar com Lula e permitir que parte de sua agenda econômica continue a avançar. Algumas medidas sobre costumes e segurança pública podem entrar na pauta legislativa pela mão da oposição, mas nada que altere significativamente o cenário econômico. Para essa agenda mais estrutural, a variável-chave é a popularidade do governo em si, e não da oposição.
Por fim, mesmo que a manifestação sirva para mostrar a insatisfação de um grande número de eleitores com o Supremo Tribunal Federal, é difícil imaginar que a pressão popular venha a mudar o rumo do processo contra Bolsonaro. Ainda mais considerando que o ato não representará a maioria da população, e sim a expressão de uma de suas metades. Do outro lado, há também um enorme grupo que rejeita o ex-presidente e, em grande parte, torce para que seja preso. A profunda polarização política no país apenas fica mais visível com as manifestações de rua.
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