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As relações entre Executivo e o Congresso

Opinião|Riscos globais se avolumam em 2024, mas trazem algumas oportunidades para o Brasil

Eleições americanas são o principal risco do ano; mas Brasil pode se beneficiar de algumas tendências, em um ano de maior protagonismo internacional

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Foto do author Silvio Cascione

Todo início de ano, fazemos na Eurasia Group uma reflexão sobre os principais riscos geopolíticos nos próximos 12 meses. Deixamos de lado eventos com baixas chances de ocorrer. Focamos apenas naqueles que fazem parte do nosso cenário base, e para os quais precisamos nos preparar com o máximo de atenção.

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Mais uma vez, o Brasil não está entre os dez maiores riscos geopolíticos do mundo. O maior risco de todos vem das eleições americanas, em novembro. A democracia norte-americana é a mais disfuncional, de longe, entre os países desenvolvidos, e isso tem repercussões sérias para todo o mundo. Outros riscos destacados no relatório incluem as guerras no Oriente Médio e na Ucrânia, o mau uso da inteligência artificial, e as disputas comerciais em torno dos minerais críticos para a produção de baterias e semicondutores.

Nesse exercício, podemos pensar também sobre a atual posição do Brasil no mundo. Ainda que o país não esteja entre os principais atores globais, ele se beneficia de algumas tendências apontadas no relatório.

Eleições norte-americanas são principal risco global para 2024, e eleição de Trump pode esfriar relações com o Brasil Foto: Cheney Or/Reuters

Começando pelas boas notícias. Primeiro, o Brasil pode se beneficiar do realinhamento dos fluxos de investimentos globais decorrentes da instabilidade no Oriente Médio e conflitos como o da Ucrânia. A disputa por minerais essenciais para a economia verde e digital é uma dessas oportunidades. O país possui, por exemplo, o terceiro maior depósito de grafite do mundo — item crítico para a produção de veículos elétricos. A ameaça chinesa de controlar as exportações já levou empresas a acelerar investimentos em minas na Bahia. O Brasil também tem reservas substanciais de níquel, fosfato e terras raras. Isso sem falar da posição privilegiada do Brasil como fornecedor de alimentos e energia limpa.

Os riscos vêm de outros lados. As eleições nos EUA nos lembram de questões internas problemáticas que, em sua maior parte, estiveram adormecidas em 2023. Assim como os EUA, o Brasil é um país profundamente dividido e polarizado, no qual a confiança na imprensa, na justiça e nos líderes políticos é estruturalmente baixa.

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Mas as eleições nos EUA não servem apenas como espelho para a democracia brasileira e seus problemas. O país também deve se preparar para a possível volta de Donald Trump ao poder nos EUA. Se isso acontecer, as relações entre os dois países devem esfriar e se tornar significativamente mais voláteis. Nesse cenário, as empresas brasileiras poderão sofrer com a imposição de novas tarifas e políticas comerciais ainda mais agressivas que no primeiro mandato de Trump. A cooperação ambiental, por sua vez, incluindo fundos para o combate ao desmatamento e outros investimentos verdes, enfrentará mais dificuldades.

O relatório cita ainda riscos econômicos, como aqueles associados a um desempenho mais fraco da economia chinesa. O menor crescimento econômico chinês, maior parceiro comercial do Brasil, prejudica o crescimento e a arrecadação de impostos.

Em suma, 2024 não será um ano comum. Mudanças importantes nos aguardam neste próximo ano, para o bem ou para o mal. Na presidência do G-20, e em outros fóruns internacionais, o Brasil e as empresas nacionais poderão, no mínimo, se preparar melhor para os grandes desafios à frente, e também intervir para combaterem esses riscos na medida do possível. Para quem quiser ler o relatório completo, pode ser acessado aqui.

Opinião por Silvio Cascione

Mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group

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