A sucessão na Câmara dos Deputados está mais aberta do que parecia em 2023, mas ainda sob controle do presidente Arthur Lira.
A situação ficou um pouco mais nebulosa, em parte, por causa de alguns sinais de fraqueza de Lira. O principal deles veio após o discurso de abertura do ano legislativo, com cobrança explícita pelo cumprimento de acordos, e ameaças veladas de rompimento.
A fala de Lira caiu mal entre deputados que apreciam uma boa relação com o governo de ocasião. Ainda mais quando ficou claro que Lula não cederia à pressão pela substituição do ministro Alexandre Padilha, e que o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, não convocaria rapidamente uma sessão para derrubada de vetos presidenciais – como os que afetaram o cronograma de pagamento de emendas parlamentares.
Foi um desgaste desnecessário para Lira, que viu muitos deputados começarem a especular sobre outros nomes para sua sucessão. Candidatos que já circulam desde o ano passado, mas que sempre foram vistos com chances remotas, começaram a aparecer com mais frequência nas conversas. Elmar Nascimento ainda é tratado como favorito, pelo provável apoio de Lira, mas Marcos Pereira, Antonio Brito e Isnaldo Bulhões ganharam algum espaço para tentar se cacifar.
Para o governo, a situação atual é bem-vinda. Lula se manteve firme com Lira porque sua popularidade segue estável, e a economia ainda está firme. As negociações podem até ser duras, mas parlamentares não querem saber de crise, rompimento, em circunstâncias assim. Lira terá dificuldades em manter a corda esticada, o que é bom para a agenda legislativa do governo e para as perspectivas de aprovação de várias medidas da pauta ambiental e tributária, entre outras.
Mas seria muito prematuro afirmar que Lira perdeu o controle de sua sucessão. O governo pode estar em boa posição, mas continua sem votos suficientes para bancar um candidato próprio à sucessão. Portanto, dificilmente Lula confrontará Lira abertamente, sob pena de empurrar o atual e o próximo presidente da Câmara para a oposição. Dessa forma, para Lira voltar a ter grande controle sobre sua sucessão, basta baixar o tom e aproximar-se do governo – e é exatamente isso que tem feito desde o Carnaval.
Nos próximos meses, esse jogo continuará a gerar ruído na Câmara, com partidos tentando se posicionar, e o governo tentando garantias de Lira e seu candidato de que eles continuarão ajudando o governo. Com incentivos mútuos para a cooperação, a agenda legislativa deve continuar relativamente previsível nesse período.
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