No dia 13 de fevereiro, o presidente Donald Trump assinou um memorando para a aplicação de tarifas de importação “recíprocas”, com implementação prevista para 2 de abril. O objetivo oficial é retaliar barreiras ao comércio americano, como tarifas sobre produtos dos EUA, impostos sobre valor agregado e subsídios. Embora o Brasil não seja um dos principais alvos da medida – como México, Canadá e China –, o País deve ser afetado.
O impacto econômico das novas tarifas será limitado para o Brasil, já que apenas 12% das exportações do País têm os EUA como destino – enquanto a China absorve 28%. No entanto, setores específicos podem sentir bastante o peso da medida. A indústria siderúrgica brasileira, por exemplo, já sofre com as barreiras americanas e deve enfrentar novas dificuldades. O governo Lula tentará negociar cotas para produtos semiacabados de aço, utilizados por indústrias americanas, replicando a estratégia do primeiro mandato de Trump. Mas, desta vez, a possibilidade de sucesso é remota. Trump está mais firme em seu propósito de usar as tarifas como ferramenta para redesenhar as cadeias de produção a favor dos produtores americanos. Caso faça concessões, ele tende a priorizar o México dentro da revisão do acordo USMCA.

Outros setores também estão na mira. Há uma probabilidade muito alta de que os EUA imponham tarifas específicas a produtos como etanol brasileiro. Além disso, existe um risco significativo de que Trump adote uma tarifa linear contra todos os produtos brasileiros, sob o argumento da reciprocidade.
Diante desse cenário, o governo Lula terá grandes dificuldades de reação. Um projeto de lei deve ser aprovado nas próximas semanas no Congresso para permitir medidas contra práticas comerciais consideradas desleais. Mas a equipe econômica e a diplomacia brasileira veem a retaliação como um último recurso, apenas caso as negociações fracassem após meses de tentativas. O risco de retaliar imediatamente é provocar uma escalada ainda pior das tarifas; a estratégia de cautela se baseia na aposta de que, com o tempo, o custo econômico das tarifas fique evidente para os próprios americanos, e exceções possam ser dadas a países como o Brasil que não tem déficit comercial com os Estados Unidos.
Há, porém, um componente político relevante. Assessores de Lula enxergam um possível benefício eleitoral no embate com Trump. O confronto com o presidente republicano ajudou a impulsionar a popularidade de líderes no Canadá, México e Europa, e o mesmo pode acontecer no Brasil.
A postura crítica de Lula em relação ao republicano somada a outros pontos de atrito, como o julgamento iminente do ex-presidente Jair Bolsonaro e a pressão do governo contra as big techs, podem azedar ainda mais a relação bilateral e aumentar as chances de sanções mais amplas contra o Brasil.
Nesse quadro de grandes dificuldades para a relação bilateral, aumenta a importância da diversificação no comércio e nas parcerias de investimento como forma de proteção. Enquanto as tarifas sobem nos EUA, é hora de olhar com ainda mais atenção para Europa (via acordo com Mercosul), Oriente Médio e outros possíveis parceiros na Ásia e na América Latina, além da China, que a cada ano aumenta sua participação no fluxo de investimentos diretos no Brasil.