Nas eleições de 2022, tem pesquisa para todo gosto. Umas têm Lula mais de 20 pontos à frente de Bolsonaro, outras menos de 10. Tamanha diferença é um problema sério, pois aumenta a desconfiança dos eleitores com os institutos de opinião pública e a mídia em geral, e fortalece o argumento de Bolsonaro de que as eleições podem ser manipuladas.
A discrepância entre pesquisas não é só um problema das eleições nacionais, mas também de várias sondagens recentes nos Estados. Na semana passada, com apenas dois dias de diferença, os institutos Quaest e Atlas mostraram quadros aparentemente distintos para as eleições na Bahia, quarto maior colégio eleitoral do País. Na primeira, o prefeito de Salvador, ACM Neto, tinha 61% das intenções de voto contra 11% de Jerônimo Rodrigues, do PT. Na segunda, ACM Neto tinha 39,7%, e o petista, 32,6%.
Há muitas hipóteses para explicar essas diferenças. No caso específico da Bahia, citado acima, a razão é simples: na pesquisa Atlas, foi incluída a menção ao PT junto com o nome de Jerônimo, o que ajuda a puxar seus votos para cima. Em um cenário semelhante testado pela Quaest, com o apoio explícito de Lula, Jerônimo mostra potencial de crescimento parecido. Mas, em muitos outros casos, os motivos para as diferenças entre os resultados podem ser outros, e mais difíceis de medir.
Por exemplo, há um número maior de institutos em campo atualmente, a maioria dos quais com métodos novos e mais baratos do que a tradicional pesquisa face-a-face – considerada o padrão-ouro das pesquisas de opinião, mas muito mais cara e, portanto, menos frequente do que as pesquisas telefônicas ou online.
Cada tipo de pesquisa tem uma série de desafios metodológicos. As pesquisas por telefone, por exemplo, lidam com o problema de que cada vez mais pessoas – especialmente trabalhadores de baixa renda – simplesmente não atendem o telefone para falar com um desconhecido por mais de 5 minutos no meio do expediente. Os jovens de hoje também não veem uma ligação telefônica com a mesma naturalidade de antes.
Para cada problema como esse, os institutos precisam tomar decisões sobre o desenho da amostra e a forma de ponderar os dados. Diferentes estratégias levam a diferentes resultados, com algumas pesquisas mais pró-Lula e outras mais pró-Bolsonaro.
Essas disparidades, por si só, já seriam ruins, por prejudicarem a credibilidade das pesquisas como um todo. Mas isso está mais sério em 2022 por causa da contestação de Bolsonaro às urnas eletrônicas, e por causa da dinâmica que a campanha deve assumir nos próximos meses. Neste mesmo espaço, argumentei nas últimas semanas que Bolsonaro, com a caneta de presidente na mão e ainda capaz de tomar medidas para baixar a inflação e aumentar a renda dos eleitores, diminuiria a diferença em relação a Lula. Medidas como o Auxílio Brasil, isoladamente, não teriam força para Bolsonaro virar o jogo; mas, com uma campanha eficaz, e se não tiver o azar de sofrer com algum choque externo como uma nova crise de combustíveis, Bolsonaro poderia encostar em Lula.
Se essa dinâmica se confirmar, poderemos ver alguns institutos mostrando Bolsonaro à frente nas pesquisas, ainda que a média dos institutos continue a mostrar Lula como o favorito. Este poderá ser um ingrediente poderoso para a campanha de Bolsonaro de que é vítima de fraude eleitoral.
Confira o agregador de pesquisas do Estadão
O texto foi atualizado com mais detalhes sobre a diferença entre pesquisas na Bahia.
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