A candidata à Presidência pelo MDB, senadora Simone Tebet (MS), marcou posição crítica em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante e após a sabatina promovida pelo Estadão em parceria com a Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo. Simone disse que não acredita em um governo Lula e, para ela, o petista, se eleito, fará um governo populista para garantir a perpetuação no poder do Partido dos Trabalhadores.
Após participar do evento, Simone deu a declaração em resposta à pressão que sua candidatura sofre da campanha de Lula para atrair votos dos eleitores da emedebista e tentar vencer a eleição no primeiro turno, marcado para o próximo dia 2 de outubro. “Eu não acredito no governo Lula. Por isso, eu sou candidata. Eu não consigo visualizar (apoio), a não ser o papel que nós temos de fortalecimento de um pacto a favor do Brasil que começa e não termina agora”, disse ela.
Segundo Simone, um eventual governo Lula seria mais do mesmo. “É um governo de um mandato só que vai querer se perpetuar no poder. Ele vai querer entrar para a história. Lula vai querer deixar o nome dele para a história e, para isso, ele vai ter de ser mais do mesmo do que ele foi. Ele vai ter de ser populista para poder virar um Perón, o que a família Perón foi no passado. Ele vai ali meter projetos populistas para garantir uma perpetuação do PT nos próximos oito anos”, disse, em referência a Juan Domingo Perón, presidente da Argentina por três mandatos nas décadas de 1940, 1950 e 1970.
Na sabatina no teatro da FAAP com ampla presença de estudantes universitários, a candidata que encabeça a chapa de MDB, PSDB e Cidadania manifestou desconforto com a campanha pelo voto útil e disse que vai lutar “até o fim”. Ela se recusou a falar em negociações futuras e quais compromissos das pautas econômica e política poderiam entrar em um acordo com o petista.
Ao Estadão, a presidenciável negou que já esteja em negociação com Lula para apoio em um eventual segundo turno com o presidente Jair Bolsonaro (PL). Nesta segunda, o ex-presidente reuniu em São Paulo ex-presidenciáveis que passaram a apoiar sua candidatura. Porém nomes como Roberto Freire (Cidadania), Eduardo Jorge (PV) e José Serra (PSDB), que já concorreram ao Planalto, estão alinhados e em campanha por Simone. Ela disse que nunca se reuniu com Lula.
“Eu não converso com Lula. Sabe quando eu conversei com Lula, e até ele foi gentil em me cumprimentar e fazer uma brincadeira comigo, foi no dia do debate (da Band). Eu não tenho o celular dele e não sei com quem ele fala”, disse Simone, que criticou o alinhamento do petista com caciques do MDB envolvidos no petrolão, revelado pela Lava Jato.
Especulações em torno do nome da candidata para comandar um ministério, entre eles o da Justiça e o da Agricultura, como parte de uma negociação política, no segundo turno, têm surgido em Brasília. Na semana passada, Simone alertou a campanha do PT que a estratégia pelo voto útil é desrespeitosa e pode afugentar apoios ao ex-presidente.
Caciques do MDB, que apoiam Lula e tentaram inviabilizar Simone, jogam pressão adicional pelo voto útil. O comando da legenda, porém, pode acabar liberando voto em eventual segundo turno.
Durante o evento, a senadora afirmou que, se as pesquisas de intenção de voto forem confirmadas pelos eleitores, o cenário de acirramento político se estenderá até 31 de dezembro de 2026. “Não tem carta na manga, não tem fórmula mágica. A fórmula mágica é o próprio processo eleitoral”, disse. “O segundo turno entre o ex-presidente Lula e o atual presidente, se isso acontecer, é o pior dos mundos para o Brasil. O Brasil não vai ter paz”, afirmou a senadora.
Simone reconheceu que a tarefa não é fácil. Com uma média de 5% nas pesquisas, ela afirmou que já viu candidatos com esse patamar ganhar a eleição. “Eu me recuso a desistir desse Brasil que eu sonho diante de um cenário que, para mim, nenhum dos dois (Bolsonaro ou Lula) serve. Estou diante de um processo eleitoral em que me recuso a aceitar que nesta eleição, que é mais importante do Brasil desde a redemocratização, nós tenhamos que optar pelo menos pior.”
Sobre um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro, a senadora preferiu não se posicionar. “A nossa candidatura não é só eleitoral, é uma candidatura política, de posicionamento. Eu estou aqui, eu sou um soldado a favor da democracia e das liberdades públicas. Estamos aqui para abrir caminhos, para construir pontes”, disse.
Armas
Simone também criticou o governo federal e afirmou que, se eleita, vai revogar decretos armamentistas editados pelo presidente Bolsonaro. “Vou fazer um grande revogaço dos decretos do presidente da República (sobre armas)”, disse a candidata ao ser questionada sobre o aumento do número de brasileiros armados. Segundo ela, armas compradas por supostos colecionadores e participantes de clubes de tiro estão indo parar na mão de bandidos.
Simone disse que vai recriar o Ministério da Segurança Pública, além de ter abordado na sabatina temas como educação e responsabilidade fiscal e de ter dito que trabalhará para aprovar, nos seis primeiros meses de governo, uma reforma tributária. Ela reforçou promessas conhecidas da campanha, como a “poupança jovem”, com a qual se compromete a transferir R$ 5 mil para as famílias manterem estudantes no ensino médio e criticou o orçamento secreto – esquema revelado em série de reportagens do Estadão.
Orçamento secreto
A senadora afirmou que, se eleita, dará transparência absoluta ao Orçamento da União. “Nós vamos escancarar o que o Estadão foi o primeiro a publicar, através de uma equipe maravilhosa de jornalistas, o que ainda será considerado um dos maiores escândalos de corrupção da história do País, o orçamento secreto”, afirmou a candidata. Simone ainda contou, sem dar detalhes nem valores, que recebeu oferta de repasse do orçamento secreto para desistir de ser candidata à Presidência do Senado.
Ao tratar de temas econômicos e seu plano para manter os auxílios e ao mesmo tempo cumprir as promessas de elevar o crédito, Simone criticou a gestão Bolsonaro. “É um governo que não planeja nada, não sabe aonde quer chegar, nunca soube e, por isso, nunca apresentou políticas públicas sérias. Diante desse cenário, nós temos de primeiro focar na macroeconomia brasileira. A solução está na eleição de uma candidatura de centro, que, com moderação, equilíbrio e diálogo, é capaz de dialogar com todas as frentes.”
Além disso, ao responder a perguntas de representantes da sociedade, Simone disse que sua agenda tem dois grandes objetivos: de um lado dar o pão a quem tem fome, por meio da manutenção do Auxílio Brasil; e, de outro, abrir a porta de saída a médio prazo.
O próximo presidenciável a ser recebido pela iniciativa do Estadão/FAAP é Ciro Gomes (PDT), nesta quarta. Bolsonaro faltou na sexta-feira passada, e a campanha de Lula avisou que o petista não participará do evento de desta terça. /COLABORARAM DAVI MEDEIROS E ADRIANA FERRAZ
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