Secretária de Estado de Políticas para a Mulher, a bolsonarista Sonaira Fernandes (PL) ganhou o apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) para ser a candidata a vice na chapa do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Ela também soma pontos na disputa com os demais concorrentes por ser mulher e evangélica, perfil que “casaria” bem com o do prefeito, que é católico.
A secretária deixou o Republicanos e se filiou ao PL na semana passada, em cerimônia que contou com as presenças do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, além do governador e do chefe do Executivo Municipal. A princípio, Sonaira é candidata a um novo mandato como vereadora da capital paulista e, pela legislação eleitoral, tem que deixar o cargo de secretária até sexta-feira, 5.
Ex-assessora de Eduardo Bolsonaro (PL), ela se coloca contra o aborto legal e o feminismo, que foi descrito pela secretária em 2022 como uma ameaça à “fé cristã e à moral”. “Sou uma humilde serva de Jesus Cristo. Defensora da família e da vida. Acredito no mérito e no trabalho. Jamais precisei de cotas ou do feminismo”, diz Sonaira em publicação fixada em seu perfil no X (antigo Twitter).
Embora defenda o nome da secretária, Tarcísio tem dito a interlocutores que cabe ao próprio candidato escolher o seu vice, assim como aconteceu com ele quando disputou a eleição para governador. Na ocasião, ele definiu tanto o nome do vice-governador, Felicio Ramuth (PSD), como o do senador Marcos Pontes (PL).
Aliados do prefeito afirmam que o vice precisa ser alguém que tenha boa aceitação entre os partidos que apoiam Nunes. Até o momento, a coligação é formada por MDB, PL, PP, PSD, Republicanos, Solidariedade, Avante, Agir e ainda deve receber o União Brasil e o Podemos.
“O PSD entende uma aliança que tem o prefeito da capital, que é candidato à reeleição, e o governador do Estado, nada mais natural que os dois liderem essa discussão. A gente aguarda e espera que haja um entendimento entre eles, consultando os demais players importantes”, disse Gilberto Kassab, presidente do PSD e secretário de Governo de Tarcísio.
A escolha passará também por Bolsonaro. O ex-presidente tem insistido no coronel Ricardo Mello Araújo, ex-comandante da Rota e diretor da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) em seu governo. O nome enfrenta resistência de Tarcísio, de uma ala do PL ligada a Valdemar Costa Neto e de aliados de Nunes no MDB.
Mello Araújo perdeu força por ser um nome desconhecido e pela avaliação de que seu passado na Polícia Militar pode dificultar a campanha em algumas regiões da cidade. Uma das alternativas cogitadas é que ele assuma a Secretaria Municipal de Segurança Urbana, cuja secretária, Elza Paulina, está de saída para disputar uma vaga de vereadora em outubro.
Aldo deve se filiar a MDB ou Solidariedade para se manter na briga
Neste contexto, ganhou popularidade em parte do PL e do MDB a indicação de Aldo Rebelo, ex-ministro da Defesa e dos Esportes nos governos Lula e Dilma, respectivamente. Ele se aproximou de Nunes ao aceitar o convite para ser secretário de Relações Internacionais após a saída de Marta Suplicy para se filiar ao PT e ser vice de Guilherme Boulos (PSOL).
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O nome de Aldo Rebelo foi ventilado como possível vice em uma reunião no final de fevereiro entre o prefeito, Tarcísio, a senadora Tereza Cristina (PP) e o próprio secretário. A avaliação é que os 40 anos que ele passou filiado a partidos de esquerda ajudariam a campanha de Nunes a emplacar o argumento de que o chefe do Executivo formou uma “frente ampla” para derrotar a “extrema-esquerda”, como o prefeito classifica Boulos.
Ao mesmo tempo, Aldo tem a simpatia dos bolsonaristas por causa de sua proximidade com os militares, o nacionalismo defendido por ele e as declarações recentes nas quais nega que o 8 de Janeiro tenha sido uma tentativa de golpe de Estado — trecho de uma entrevista que inclusive foi publicado por Bolsonaro em suas redes sociais.
Um dos entraves é que o ex-ministro atualmente está licenciado do PDT, que apoia Boulos, e precisaria trocar de partido para poder ser candidato a vice. O Estadão apurou que isso deve ocorrer até sexta-feira, prazo exigido pela legislação, mas que a mudança de legenda não garante que ele será o escolhido. Apenas o mantém como uma opção.
A maior dificuldade é encontrar uma legenda em que Aldo Rebelo esteja confortável e que, ao mesmo tempo, tenha peso para manter a coalizão de partidos unida, segundo um aliado do prefeito com trânsito na campanha. Há três cenários possíveis: o Solidariedade, partido que o ex-ministro já integrou e tem boa relação, o MDB de Nunes, uma costura mais complicada por significar chapa pura, ou uma filiação a um dos demais partidos da coligação.
“Ainda não, estamos conversando”, responde Paulinho da Força, deputado federal e vice-presidente do Solidariedade sobre a possibilidade de Rebelo retornar à sigla. A chance de ser vice de Nunes, no entanto, é “outra conversa”, adverte o deputado. “A princípio ele tem que se filiar a um partido, se quiser estar na disputa. É um nome importante hoje nesse jogo de São Paulo. Se filiando, ele passa a ser uma opção. A discussão vai acontecer mais para frente, mas ele deixa o nome em aberto”, acrescentou Paulinho.
Procurado pela reportagem, Aldo Rebelo disse que a possível troca de partido é “especulação”. Ele também havia dito o mesmo sobre a reunião com Nunes e Tarcísio no final de fevereiro. O entorno do prefeito afirma que o martelo só será batido perto das convenções partidárias, que começam em julho.
Também são cotados os nomes da delegada Raquel Gallinati (PL), diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (Adepol), e o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos). Ele, no entanto, recusou convite para ser secretário de Urbanismo da Prefeitura de São Paulo, o que enfraqueceu seu nome. Gallinati e Abduch integraram uma lista de indicações a vice ao lado de Sonaira e Mello Araújo apresentada por Valdemar Costa Neto a Ricardo Nunes em janeiro.
Além deles, outro nome ventilado é o da vereadora Rute Costa, que trocou o PSDB pelo PL na semana passada. Ela é filha do pastor José Wellington Bezerra da Costa, líder da Assembleia de Deus. O pastor apoiou publicamente a eleição de Bolsonaro nas eleições de 2018 e de 2022 e foi um dos nomes do segmento a cobrar o ex-presidente a indicação de um ministro “terrivelmente evangélico” para o Supremo Tribunal Federal. Ele, no entanto, é de outra vertente da igreja evangélica que não a do pastor Silas Malafaia, um dos bolsonaristas mais fiéis.
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