SP tem maior abstenção em 2º turno desde 1988; no Rio e em Goiânia, índice supera votos de eleitos

Pandemia não é a única explicação, diz cientista político: 'É uma crise na democracia representativa'

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

Foto do author Matheus Lara

A cidade de São Paulo registrou na eleição municipal deste ano o maior índice de abstenção num segundo turno desde a redemocratização. Mais de 2,7 milhões de eleitores (30,8%) não foram às urnas neste domingo. O número supera a votação de Guilherme Boulos (PSOL), que recebeu pouco mais de 2,1 milhões de votos. Reeleito, Bruno Covas (PSDB) recebeu mais de 3,1 milhões de votos. Votos nulos e brancos somaram mais de 879 mil.

O índice quebra mais um recorde de não comparecimento às urnas na capital. Em 2012, na última disputa municipal em que houve segundo turno, a abstenção registrada foi de 19,99%. Os adversários eram Fernando Haddad (PT), que foi eleito, e José Serra (PSDB). Em 2008, quando Gilberto Kassab (PSD) derrotou Marta Suplicy (então no PT) e em 2004, quando a petista foi derrotada por José Serra (PSDB), os índice foram próximos: 17,54% e 17,55%, respectivamente.

Das candidatas negras atacadas, só 32,6% denunciaram os casos Foto: Fabio Pozzebom / Agência Brasil

PUBLICIDADE

Em 2000, na vitória de Marta sobre Paulo Maluf (então no PPB), a abstenção foi de 15,16%, um número menor que o registrado quatro anos antes, quando Celso Pitta (candidato do PPB) derrotou Luiza Erundina (então no PT), numa disputa com 18,11% de não comparecimento. Na primeira disputa municipal com dois turnos depois da Constituinte, foram 12% de abstenções na disputa em que Paulo Maluf (então no PDS) derrotou o petista Eduardo Suplicy.

São Paulo está entre as dezessete capitais que superaram a média nacinoal de 23,14% de abstenção registrada no primeiro turno.29,29% dos eleitores da capital não foram às urnas.

Para o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Mackenzie, a pandemia do coronavírus é o fator que mais ajuda a explicar o índice, mas não é único. O aumento da abstenção ao longo dos anos indica a tendência de crise na democracia representativa. "A gente imaginava que teríamos uma abstenção muito grande pela pandemia. Ainda assim, é surpreendente. Mas é algo que não é de agora. É uma crise na democracia representativa, algo que paira no mundo todo."

Publicidade

Ele defende que para reverter o quadro é preciso aproximar a classe política da sociedade fora do período eleitoral. "Há desconexão entre o mandato do político eleito e a dimensão da vida social. A classe política precisa se aproximar da sociedade e o cidadão precisa estar vivenciando a política. A eleição é só parte do processo político."

Rio e Goiânia: Abstenção supera número de votos dos eleitos

No Rio, o número de abstenções foi maior até que a quantidade de votos recebida pelo vencedor Eduardo Paes (DEM). Mais de 1,7 milhão de eleitores não foram às urnas. Paes recebeu 1,6 milhão de votos. Derrotado, Marcelo Crivella (Republicanos) teve 913 mil votos. 

O mesmo aconteceu em Goiânia, onde o eleito Maguito Vilela (MDB) teve 277 mil votos, cerca de 27 mil a mais que o adversário Vanderlan Cardoso (PSD), números bem abaixo dos quase 357 mil registros de abstenção na capital do Estado.

Em Porto Alegre, as 354 mil abstenções superaram a votação de Manuela D´Ávila (PCdoB), que recebeu mais de 307 mil votos. Eleito, Sebastião Melo (MDB), recebeu 370 mil votos. Em Maceió (AL), 164 mil eleitores deixaram de votar, número que supera a votação de Alfredo Gaspar (MDB), que teve 156 mil votos e foi derrotado por JHC (PSB), eleito com 222 mil votos.

Publicidade