STF e governo reagem à investida do Google e plataformas contra o PL 2630 das Fake News

Ação ocorre após empresa inserir, em sua página inicial; link de artigo contrário à proposta; conteúdo foi removido pela plataforma

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Foto do author Isabella Alonso Panho
Atualização:

O Poder Judiciário e o Ministério Público Federal (MPF) reagiram às investidas das big techs contra o Projeto de Lei das Fake News. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Polícia Federal ouça os presidentes de Google, Meta, Spotify e Brasil Paralelo por críticas à proposta legislativa. A Procuradoria da República em São Paulo, por sua vez, cobrou explicações de plataformas digitais sobre indícios de boicote ao texto em tramitação no Congresso.

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Em outra frente, houve contraofensiva do Poder Executivo. Dois órgãos do Ministério da Justiça entraram em campo para questionar a conduta de Google e Meta – proprietária de Facebook e Instagram.

Na decisão, Moraes, além de impor o depoimento a executivos em até cinco dias, determinou que as plataformas removessem todos os “anúncios, textos e informações” com críticas ao PL das Fake News. A multa em caso de descumprimento foi estabelecida em R$ 150 mil por hora.

Usuários estavam sendo direcionados para artigo de opinião do Diretor de Relações Governamentais e Políticas Públicas do Google Brasil, Marcelo Lacerda Foto: Reprodução

A restrição vale para publicações que se referem à proposta como “PL da Censura” e para o artigo de opinião do diretor de Relações Governamentais e Políticas Públicas da Google Brasil, Marcelo Lacerda, que acusa o texto de “aumentar a confusão entre o que é verdade e mentira no Brasil”. O Google removeu o link.

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A ordem de Moraes foi dada no chamado inquérito das fake news. A decisão sinaliza que as empresas podem ser responsabilizadas nas esferas civil, administrativa e penal se ficar provado que tentaram usar a estrutura e o poder econômico para influenciar o debate sobre a regulamentação das plataformas no Brasil.

Moraes alertou para o risco de “instrumentalização” das plataformas digitais e voltou a defender que as redes sociais sejam submetidas às mesmas obrigações que os veículos de comunicação e publicidade tradicionais. “As redes sociais não são terra sem lei! As redes sociais não são terra de ninguém! Os provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada devem absoluto respeito à Constituição Federal, à lei e à jurisdição brasileira”, diz trecho da decisão.

As empresas devem listar ainda as medidas tomadas para “prevenir, mitigar e retirar” conteúdos falsos e criminosos publicados por terceiros, sobretudo quando houver monetização e impulsionamento por contas inautênticas e robôs. A decisão pede providências contra conteúdos antidemocráticos, discursos de ódio, inclusive racismo e homofobia, ideologias nazistas e fascistas, além de publicações que incitem violência contra mulheres e crianças, fake news sobre o processo eleitoral e atos terroristas.

Estrutura

Já em São Paulo, o MPF deu dez dias para a Google e a Meta se manifestarem sobre as estratégias contra o PL das Fake News. O ofício cita suspeitas de que as empresas usaram a própria estrutura para lançar uma campanha contra o projeto.

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“Trata-se, aqui, não da participação pública e transparente em uma discussão regulatória em curso (por meio, por exemplo, de reuniões e conversas com parlamentares, de publicação de artigos em jornais e revistas, e de publicidade declarada como tal, perante a população), mas, sim, do uso, por plataformas potencialmente afetadas, dos meios que elas controlam, com exclusividade, para impulsionar, de forma opaca e escapando de qualquer accountability, a percepção que lhes interessa sobre um tema de inegável importância pública”, escreve o procurador da República Yuri Corrêa da Luz.

O MPF afirma que, se as suspeitas forem confirmadas, as plataformas podem ser responsabilizadas por violar direitos fundamentais à informação, à transparência nas relações de consumo e ao exercício da cidadania dos usuários. As big techs foram notificadas em um inquérito civil, aberto em 2021, que se debruça sobre as iniciativas das principais plataformas de redes sociais e aplicativos de mensagem para conter o compartilhamento de conteúdos falsos e de ódio.

O documento da Procuradoria cita um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que mostra como o Google teria impulsionado páginas críticas ao PL das Fake News. Isso quer dizer que, quando um usuário usou a plataforma para buscar informações sobre o projeto de lei, teria sido direcionado a resultados enviesados.

A Meta, por sua vez, teria exibido anúncios contra o PL, sem identificá-los como conteúdos patrocinados. Alguns desses anúncios, segundo o levantamento da UFRJ, estariam sendo pagos pelo Google.

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Buscas

Sobre a decisão de Moraes, o Google afirmou que não iria comentar. A empresa divulgou uma nota padronizada sobre as polêmicas envolvendo a big tech e negou que tenha privilegiado respostas negativas às buscas sobre o PL das Fake News.

“As alegações de que estamos ampliando o alcance de páginas com conteúdos contrários ao Projeto de Lei 2.630 na Busca, em detrimento de outras com conteúdos favoráveis, são falsas”, diz o Google, em nota. “Não alteramos manualmente as listas de resultados para determinar a posição de uma página específica em nenhuma hipótese.”

A companhia afirma ainda que a proposta legislativa pode ter impacto na vida de milhões de brasileiros. Segundo a companhia, o PL das Fake News exige debate com todos os setores da sociedade – o texto está em discussão há três anos na Câmara.

“Temos nos manifestado em relação ao PL 2.630 de forma pública e transparente por meio de nosso blog oficial. Além disso, temos investido em campanhas de marketing para dar visibilidade mais ampla às nossas preocupações”, diz o Google.

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O Spotify enviou a seguinte nota ao Estadão: “Pelos termos e condições de publicidade do Spotify, não aceitamos anúncios políticos em nossa plataforma no Brasil. Um anúncio de terceiros foi veiculado por engano e removido assim que o erro foi detectado.”

Outro alvo da decisão, o Brasil Paralelo enviou a seguinte manifestação: “A reportagem da Brasil Paralelo sobre o PL2630 apresentava os pontos de vista favoráveis e os contrários ao projeto de lei, de acordo com os princípios do bom jornalismo. A empresa entende que o trabalho dos legisladores do país pode e deve ser debatido para o bem de nossa democracia. Qualquer regulação da livre circulação de ideias precisa ser amplamente debatida para que não cause mais danos do que benefícios.”