BRASÍLIA – O Supremo Tribunal Federal (STF) usou como prova mensagens via WhatsApp para condenar Matheus Lima de Carvalho Lázaro a 17 anos de prisão nesta quinta-feira, 14. Morador de Apucarana, no Paraná, de 24 anos de idade, ele trocou fotos e áudios com a sua mulher, que foram utilizados no julgamento para confirmar a sua participação nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
Para culpá-lo pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa armada, os ministros do Supremo utilizaram um laudo da Polícia Federal (PF) onde foram transcritas as mensagens trocadas durante o dia dos ataques.
Lázaro deixou a mulher grávida no Paraná para viajar mais de 1.100 quilômetros em uma caravana que levou outros apoiadores do ex-presidente da região de Apucarana até Brasília. Aos policiais, ele se apresentou como um entregador com renda de um salário mínimo, frequentador de igreja evangélica e “bolsonarista e nacionalista”. Segundo ele, assim que chegou à capital federal, foi transportado diretamente no Quartel-General do Exército Brasileiro, onde invadiria os Três Poderes no dia seguinte.
A existência das mensagens que serviram de provas contra Lázaro foi revelada pelo Estadão em 26 de junho. Na conversa com a mulher, o condenado, que é ex-militar do Exército, avisa para a mulher, por volta das 10h da manhã do 8 de janeiro, que iria descer para os Três Poderes para fazer uma invasão nos prédios públicos. “A gente vai descer lá pro... Pra onde eles iam invadir”, disse.
A partir das 14h, ele mandou vídeos marchando junto com outros bolsonaristas e enviou fotos já no Congresso Nacional. A partir das 15h30, a mulher dele, gestante, começou a dar sinais de preocupação, questionando os atos. “Aqui tá mostrando na televisão já as pessoas quebrando as coisas, isso não pode porque isso é vandalismo”, disse. Em resposta, Matheus diz para ela não acreditar naquilo que via. “Tem que quebrar tudo, pra ter reforma, pra ter guerra amor. Guerra... Pro Exército entrar... entendeu?”
“É vândalo, é vândalo mesmo. Acabou pacífico. É melhor... é melhor nós quebrar tudo aqui agora”, completou o bolsonarista.
Pouco antes das 17h, Lázaro disse que estava fazendo uma intervenção militar, para que o Exército pudesse “tomar o poder”. Ele só voltou a falar com a esposa às 19h22, depois que os ataques golpistas nos Três Poderes foram dispersados pelas forças policiais. Ele disse que estava retornando para o Quartel-General do Exército e fez uma videochamada. A prisão dele ocorreu pouco tempo depois, próximo do Palácio do Buriti, sede do Governo do Distrito Federal. A última mensagem da mulher foi “volta logo que estamos com saudades”. A gestante não teve resposta, segundo o laudo policial.
Moraes diz que Matheus Lázaro produziu provas contra si mesmo
Durante o julgamento desta quinta, o ministro do STF Alexandre de Moraes, relator dos julgamentos dos réus do 8 de janeiro, disse que o caso de Lázaro era o que tinha o maior número comprovações de responsabilidade comparado ao dos outros dois já condenados. “Este é o caso, dos três que nós julgamos, com maior número de provas”, disse Moraes.
Saiba quem são os réus julgados pelo STF
“Assim como no primeiro caso [o de Aécio Pereira], ele próprio produziu provas contra si mesmo. Ele foi preso próximo ao Palácio do Buriti, já tarde da noite. Por volta das 14h, há laudo da Polícia Federal com a extração de dados do aparelho do réu e é bastante esclarecedor para mostrar que toda a extração corrobora integralmente o seu interrogatório policial. Não há dúvida de que ele participou do movimento golpista”, afirmou Moraes.
O ministro também destacou que o fato de Lázaro ser ex-militar do Exército destacou ainda mais a gravidade da sua conduta. “O réu sabia o que estava fazendo ao pedir intervenção militar, então o caso é excessivamente comprovado”, afirmou o ministro.
Ao votar pela condenação a 17 anos de prisão, Moraes seguiu a linha de argumentação exposta para os outros dois réus já condenados. Segundo o ministro, a participação nos ataques golpistas teve o mesmo modo de atuação de outros vândalos, em que vários foram transportados de cidades pequenas e médias para Brasília a fim de depredar os prédios públicos. O voto do magistrado foi acompanhado pelos ministros Edson Fachin, Luiz Fux, Dias Toffoli, Carmen Lúcia, Gilmar Mendes e Rosa Weber.
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