A deputada federal Tabata Amaral (PSB) tem dois desafios para que sua pré-candidatura a prefeita de São Paulo decole: se tornar mais conhecida entre o eleitorado paulistano e superar a polarização que seus adversários Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) tentam imprimir à disputa.
Ao Estadão, Tabata reconhece que precisa enfrentar a tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de nacionalizar a eleição paulistana. Ela avalia que essa não é a vontade dos eleitores e diz que, ao contrário de Nunes, que para ela tenta esconder o apoio de Bolsonaro, quer que as pessoas saibam que é apoiada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
“As pessoas estão bastante cansadas da polarização, das briguinhas e querem uma alternativa a isso”, diz ela. “O que eu preciso fazer é sair dessa conjuntura de ataques pessoais, guerra de torcida, e falar da cidade, sobre segurança pública, mobilidade urbana, professor na escola, alfabetização”, continua.
Tabata argumenta que o histórico eleitoral de São Paulo lhe é favorável e menciona a eleição de Bruno Covas em 2020. “A gente elegeu alguém que não tinha a indicação de Lula e nem de Bolsonaro”, lembra. “A forma de vencer a polarização é falar do que é concreto”, resume.
Outra estratégia para romper a polarização será dividir as críticas entre Nunes e Boulos. A pré-campanha descarta qualquer pacto de não agressão com o deputado federal. Somente nesta semana, Tabata chamou de “safadeza” uma publicação do deputado do PSOL que a “escondeu” ao divulgar uma pesquisa eleitoral. A postagem foi apagada após decisão da Justiça.
Ao mesmo tempo, a pré-candidata criticou o prefeito com base em uma reportagem do UOL que citou indícios de conluio entre empresas escolhidas para realizar obras emergenciais na capital paulista. A Prefeitura de São Paulo nega irregularidades e disse que será a primeira a denunciar se detectar algo de errado na atuação de qualquer um dos fornecedores.
Leia também
Tabata também admite que precisa aumentar seu conhecimento entre o eleitorado. Interlocutores dela afirmam que, em pesquisas internas, a taxa de desconhecimento é de cerca de 70%, maior do que a apontada por institutos que divulgam seus resultados ao público.
Ao Datafolha, 50% dos entrevistados disseram não conhecê-la em agosto do ano passado (21%, no caso de Nunes, e 20%, no de Boulos). Na pesquisa Real Time Big Data divulgada no início da semana, o índice de desconhecimento de Tabata é de 30%, enquanto o do prefeito é de 20% e o do psolista, 11%. Os levantamentos não são comparáveis entre si.
Duas estratégias serão colocadas em prática nos próximos meses com o objetivo de tornar Tabata mais conhecida entre os eleitores. A principal delas é o apresentador José Luiz Datena (PSB), que foi convidado para ser o vice na chapa.
Ele tem no currículo diversos recuos na tentativa de trocar o jornalismo pela carreira política, mas a avaliação é que ajudará Tabata a chegar aos eleitores das classes C e D mesmo se permanecer apenas como um apoiador e entusiasta da candidatura.
O entorno da deputada federal considera que a “bola” está com Datena e que ele só não será vice se não quiser, independentemente de negociações de apoio com outras siglas, como o PSDB. Em conversas recentes, o apresentador teria demonstrado entusiasmo com o projeto.
Além da penetração nas classes mais populares, a expectativa é que Datena empreste credibilidade à campanha na discussão sobre segurança pública. Embora seja um tema do governo estadual, o assunto tem aparecido no topo da lista de prioridades dos eleitores, diferentemente de eleições anteriores, onde saúde e educação eram as maiores preocupações.
Um dos temas mais sensíveis da eleição é como lidar com a Cracolândia. Tabata tem defendido uma abordagem que envolve tratar a questão como um problema de saúde pública, no caso dos usuários; de segurança, em relação aos criminosos; e de habitação, para revitalizar a região.
A deputada federal, que foi menos para a rua do que Nunes e Boulos até o momento, planeja também intensificar o ritmo de agendas públicas assim que terminar de definir o time que será responsável por elaborar seu programa de governo, o que deve acontecer ainda neste mês.
A ideia é mesclar compromissos com candidatos a vereador pelo PSB que têm uma bandeira, como a cicloativista Renata Falzoni, e a ativista por moradia, Carmen Silva, líder do Movimento Sem Teto do Centro, com visitas a entidades de classe, como Fiesp e OAB, e associações de bairro.
O argumento da campanha é que a rejeição de Tabata é baixa — 23% no Datafolha e 22% no Real Time Big Data — o que tornaria mais fácil conquistar votos à medida em que ela se tornar mais conhecida.
Grupo de Tabata comemorou eleição de Vinholi no PSDB
Politicamente, Tabata enfrenta dificuldades para fechar alianças com outros partidos. Após ver o Avante declarar apoio a Ricardo Nunes, todas as fichas estão no PSDB, que na visão da equipe da pré-candidata tem convergência ideológica com o projeto dela.
Aliados da pré-candidata celebraram a eleição de Marcos Vinholi para presidir o diretório estadual do PSDB na última quarta-feira, 6. A leitura é que ele afastará o partido de Nunes, pois já defendeu no ano passado candidatura própria dos tucanos. A aposta é que, na falta de nomes competitivos para disputar a eleição e com as críticas feitas por Eduardo Leite (PSDB-RS) ao prefeito por ter se aliado com o bolsonarismo, o PSDB decida apoiar Tabata.
Leia também
A pré-candidata tem se reunido com dirigentes do PSDB em busca de apoio e tem saído otimista dos encontros. Ela esteve com o deputado federal Aécio Neves, em reunião revelada pelo jornal Folha de S. Paulo. Já o ex-senador José Aníbal, que assumiu o comando do diretório paulistano da legenda, é apontado como um entusiasta da candidatura dela.
O encontro com Aécio serviu de munição para aliados de Boulos no embate sobre a publicação da pesquisa. ‘[Ela] Termina o vídeo acusando nosso companheiro de ‘safadeza’. Mas não era ela que prometia uma campanha de alto nível? Talvez depois da reunião com Aécio Neves ela tenha aprendido algumas coisas, infelizmente”, escreveu Juliano Medeiros, ex-presidente do PSOL, no X (antigo Twitter).
Nesta sexta-feira, 8, Tabata vai filiar a vereadora Jussara Basso ao PSB. Eleita pelo PSOL, a parlamentar foi coordenadora do Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), mas rompeu com o movimento social e com o grupo de Boulos na sigla.
Tabata iniciou o Dia Internacional da Mulher discutindo políticas públicas para as mulheres em um café com jornalistas. No local, anunciou que, se eleita, seu secretariado terá paridade entre homens e mulheres, mesmo compromisso assumido por Boulos. Em seguida, se encontrou com estudantes em uma escola no Grajaú, distrito do extremo sul da cidade.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.