Tarcísio se opõe a radicais após deputado aliado ofender jornalista após debate

Jornalista foi abordada com truculência por Douglas Garcia, que estava na comitiva de ex-ministro

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Foto do author Pedro  Venceslau
Por Pedro Venceslau, Sofia Aguiar e Marcela Villar
Atualização:

Candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo governo paulista, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) vetou a participação do deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) em sua comitiva nos próximos debates e sabatinas de campanha. A decisão foi tomada após o parlamentar atacar a jornalista Vera Magalhães no debate desta terça-feira, 13, organizado por um pool de veículos de imprensa no Memorial da América Latina.

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Integrantes da campanha se disseram “irritados e constrangidos” com a atitude do parlamentar e avaliam que a repercussão do episódio contaminou o que seria, na avaliação deles, uma participação positiva do ex-ministro no evento.

Após motociata e comício com Bolsonaro em Presidente Prudente, nesta quarta-feira, 14, Tarcísio condenou a atitude de Douglas Garcia. “Lamentável. Ontem à tarde, o deputado entrou em contato com a equipe e pediu uma credencial. A gente pensa: ‘é um deputado estadual, é um parlamentar, é uma pessoa do meu partido, vamos dar a credencial porque, com certeza, ele está querendo ir lá prestigiar, torcer’. Esse era nosso sentimento. O que a gente presenciou é absolutamente lamentável, reprovável, repudio veementemente. Não faz parte de debate democrático. Esse tipo de gente não merece estar do nosso lado e não vai ter mais credencial e não participa de mais nada conosco. Se a gente imaginasse que a pessoa iria para lá para ter esse tipo de conduta, não teria recebido credencial”, disse Tarcísio.

Questionado sobre a posição do Republicamos em relação ao deputado, o ex-ministro cobrou punição. “Não posso falar pelo partido, mas esse tipo de atitude tem que ser punida severamente inclusive pela Alesp.”

Antes, Tarcísio já havia ligado para Vera Magalhães. “Agradeci ao Tarcísio de Freitas a solidariedade e o repúdio, que me pareceram sinceros. Mas repetirei aqui o que disse a ele ao telefone: a autorização para que pessoas assim ajam dessa forma vem dos líderes políticos. E ele tem de deixar claro se é com esses que pretende governar.”, escreveu Vera nas redes sociais.

Após o debate de terça-feira, o deputado precisou ser contido por seguranças enquanto questionava Vera Magalhães, com um celular na mão, se ela recebia dinheiro para falar mal do governo Bolsonaro. O parlamentar reiterou ataques feitos pelo presidente contra Vera Magalhães a chamando de “vergonha para o jornalismo brasileiro”. Em seguida, reproduziu uma falsa notícia sobre a remuneração dela na TV Cultura.

“Terei de sair escoltada do Memorial da América Latina por seguranças porque fui agredida pelo deputado Douglas Garcia (...) Há centenas de testemunhas. Usou o convite no estafe do Tarcísio de Freitas no debate apenas para vir me acossar e ameaçar”, escreveu Vera em suas redes sociais.

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Cassação

A deputada estadual Isa Penna (PCdoB) protocolou nesta quarta-feira, 14, no Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), pedido de cassação do deputado Douglas Garcia (Republicanos) por quebra de decoro parlamentar, em razão do ataque verbal à jornalista Vera Magalhães.

O ex-prefeito e candidato ao governo do Estado de São Paulo, Fernando Haddad (PT) também mostrou-se favorável à punição no Legislativo. “Deputado que agride ou assedia jornalista deve ser cassado por falta de decoro. Vamos transformar a Assembleia Legislativa de SP em território livre da misoginia”, disse nas redes sociais.

O governador do Estado de São Paulo e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB), classificou o ato como “estarrecedor”. “”É estarrecedor o ódio q essa gente q atacou a Vera Magalhães sente das mulheres. O método se repete há anos. São traumas muito mal resolvidos. Covardes e agressores não passarão”, escreveu no Twitter.

Repúdio

Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PL), filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, lamentou e repudiou o ataque do deputado contra a jornalista. Em publicação nas redes sociais, o parlamentar disse que “não há justificativa para provocar uma jornalista e tentar constrangê-la gratuitamente no seu local de trabalho”. A tentativa de Eduardo de apaziguar os efeitos negativos para Tarcísio de Freitas foi feita nesta manhã, no Twitter.

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Segundo ele, “atitudes inconsequentes visando os holofotes e a autopromoção, além de erradas em si mesmas”, podem colocar em risco meses de trabalho, reforçar estereótipos e trazer prejuízos a um grupo político, neste caso, a direita. “Se havia algo a ser questionado, com certeza aquele não era o local nem o momento mais adequado. Até porque, como parlamentares, temos meios para questionar, exigir documentos e fazer uma fiscalização eficaz, capaz de sanar qualquer dúvida sem lacradas ou mitadas.”

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também recorreu às redes sociais para prestar solidariedade à jornalista Vera Magalhães. “Manifesto minha solidariedade à jornalista Vera Magalhães por mais um ataque a sua honra e dignidade profissional. Esse tipo de comportamento hostil e mal-educado, com contornos também de oportunismo e covardia, não é, e nunca será, um padrão de conduta dos brasileiros. Que prevaleça, no Brasil, a cultura do respeito, inclusive aos jornalistas e às mulheres”.

Histórico

Antes de ser eleito deputado estadual, Douglas Garcia era ativista político e líder do grupo conhecido como “Direita São Paulo”. Em 2018, ele foi um dos responsáveis pela criação do bloco de carnaval conhecido como “Porão do DOPS”. O Ministério Público de SP barrou a realização do desfile carnavalesco, alegando que ele enaltecia a tortura.

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Um ano antes, Garcia já havia agradecido o apoio do “Carecas do ABC”, grupo paulista de extrema-direita, em um protesto contra a filósofa Judith Butler.

Na Assembleia Legislativa de São Paulo, foram abertos sete processos contra o parlamentar. Um dos casos mais emblemáticos ocorreu em abril de 2019, quando o deputado afirmou que, caso encontrasse uma transexual usando o mesmo banheiro que sua mãe ou sua irmã, a tiraria a tapa do local. Garcia foi advertido pelo Conselho de Ética da Alesp após suas declarações transfóbicas.

O parlamentar também vazou dados pessoais de opositores políticos. Em 2020, Garcia reuniu informações pessoais de cerca de mil pessoas que eram contra o governo Bolsonaro. O documento ficou conhecido como “dossiê contra antifascistas”. Garcia foi condenado em 2021 a indenizar pessoas que tiveram seus dados compartilhados.

O deputado é alvo de inquérito do STF por ataques digitais e notícias falsas sobre a corte. Ainda em 2020, Garcia foi expulso de seu antigo partido, o PSL, “por práticas que afrontam o estatuto do partido” ao se posicionar contra o STF e seus ministros.

Douglas também se posicionou contra o lockdown paulista durante a pandemia do coronavírus.

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