Integrante do governo desde o primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL), o ministro Tarcísio de Freitas será o representante do grupo político de Bolsonaro na disputa pelo governo do Estado de São Paulo em 2022. Após meses sinalizando um apoio, o chefe do Executivo confirmou a candidatura nesta quinta-feira, 13. Defendendo o auxiliar, o presidente afirmou que o ministro é um “tocador de obras, um empreendedor e sabe dos problemas do Brasil todo”.
É provável que Tarcísio se filie ao PL, mesmo partido do presidente, para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes. Ele também é sondado pelo Progressistas, partido do Centrão que constitui a base do governo Bolsonaro. Nascido no Rio de Janeiro, o ministro tem até 2 de abril para registrar domicílio eleitoral para disputar o governo paulista.
Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras, a mesma frequentada por Bolsonaro, o ministro de 46 anos é descrito como alguém bom de conversas de gabinete e em audiências públicas, mas também faz questão de meter o pé por estradas lamacentas e negociar preço de frete com caminhoneiros. Também ganhou pontos com o chefe ao adotar uma postura mais pragmática em relação a demandas de ambientalistas e de comunidades indígenas que eventualmente cruzam o caminho de projetos de infraestrutura.
Muito elogiado pelo presidente, o ministro tem retribuído na mesma moeda. Para Tarcísio, Bolsonaro não chegou ao Planalto só porque venceu seus opositores nas urnas. Foi mais do que isso. Católico fervoroso, o ministro diz ter convicção de que Bolsonaro foi ungido por Deus. “Ele não só foi um escolhido pela população brasileira. É um escolhido de Deus”, afirmou em seu discurso de posse.
Ministro é egresso do governo Dilma
Diferentemente do que se vê em quase toda a equipe escolhida a dedo por Bolsonaro, Tarcísio é um egresso dos ex-presidentes Dilma Rousseff e Michel Temer. Ele chegou à cúpula do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em 2011, quando Dilma prometia fazer uma “faxina” no órgão, depois da revelação de esquemas de corrupção. À época, era funcionário de carreira da Controladoria-Geral da União (CGU). Tarcísio foi o número dois do general Jorge Fraxe, que ocupou o posto de diretor-geral do Dnit com a missão de resgatar a imagem do governo. Em 2014, ele sucederia Fraxe no comando do Dnit.
No governo Temer, atuou na Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), no anexo 2 do Palácio do Planalto. Com sua nomeação para comandar toda a área de infraestrutura, Tarcísio passou a ser visto como mais um “superministro” do governo Bolsonaro, somando-se ao time de Paulo Guedes (Economia) e Anderson Torres (Justiça).
Servidor de carreira vinculado à consultoria legislativa da Câmara, Tarcísio mantém no dia a dia o perfil flexível adotado na política. “Flamenguista roxo”, sabe tocar cavaquinho e diz ouvir de funk carioca a ópera. Entre as leituras de cabeceira, tem preferência por aquelas que tratam do período do Império.
Elogios, no entanto, não garantem uma unanimidade
Os elogios feitos a Tarcísio por Bolsonaro, porém, não garantem unanimidade. Na área ambiental, ele é visto como alguém impaciente e capaz de “tratorar” qualquer um que não concorde com suas propostas. Dentro do TCU, muitos técnicos veem uma pressão descrita como exacerbada do ministro para que o órgão libere seus projetos. Em 2018, por exemplo, traços dessa pressão ficaram bem evidentes.
Tarcísio, então secretário do PPI, tentava liberar a concessão da Rodovia de Integração do Sul (RIS) – atacado por auditores, que enxergavam irregularidades no edital. Tarcísio, então, acusou a Corte de levantar suspeitas sem apresentar provas. “Os auditores do TCU não são os ‘papas’ do universo. Tem muito absurdo nesse relatório, faz insinuações e não apresenta evidências. Vamos rechaçar. Estamos seguros do que colocamos lá e vamos nisso até o fim”, atacou ele, na época. Ambos acabaram cedendo e os ponteiros se acertaram.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.