Escolhido candidato e eleito com o apoio crucial do presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou nesta segunda-feira, 5, que nunca foi um “bolsonarista raiz”. O futuro gestor da máquina paulista foi nomeado ministro da Infraestrutura no primeiro ano de mandato do chefe do Executivo, mas buscou se manter distante da chamada “ala ideológica” do governo - ao menos antes de se projetar como potencial afilhado político do chefe do Executivo para disputar as eleições 2022.
Durante a campanha ao Palácio dos Bandeirantes, o ex-ministro se descrevia como alguém de perfil técnico. Contudo, levantou bandeiras ideológicas para atrair o eleitorado mais conservador, defensor de Bolsonaro. Em busca desse contingente, criticou a obrigatoriedade da vacinação contra covid, fez acenos à polícia militar, atacando o uso de câmeras nos uniformes, e se posicionou como uma figura conservadora, destacando seu perfil de católico praticante. Também acompanhou o presidente em motociatas e na Marcha para Jesus em São Paulo.
Ao mesmo tempo, embora tenha criticado a obrigatoriedade da vacinação, não deixou de se vacinar nem à própria família. Também evitou seguir o exemplo do “padrinho” no que diz respeito à contestação do processo eleitoral eletrônico e negou que tivesse a intenção, por exemplo, de fazer uma auditoria paralela das urnas em São Paulo, diferentemente do que fez o PL de Bolsonaro a nível nacional.
Durante a campanha, em especial no segundo turno, as propagandas de Tarcísio e Bolsonaro andaram sempre “casadas”, reproduzindo temas com linguagem similar, como na área da segurança pública e combate à corrupção, na tentativa de vincular o PT aos escândalos da Lava Jato e do mensalão.
Trajetória
Após ser eleito, Tarcísio afirmou que deve sua vitória a Bolsonaro. De fato, ele não teria sido candidato sem o aval do presidente, além de ter projetado sua campanha no palanque bolsonarista de São Paulo, ao lado do senador eleito Astronauta Marcos Pontes (PL). O chefe do Executivo também usou entrevistas e aparições públicas para elogiá-lo, antes e durante a campanha. Citou o nome do ex-ministro em sua entrevista ao Jornal Nacional, em agosto, e em várias de suas lives semanais. Até o processo de filiação de Tarcísio ao Republicanos passou pela formação da coligação em torno de Bolsonaro, que tentou a reeleição filiado ao PL e com apoio do Republicanos e do PP.
Em entrevistas, Tarcísio costumava fazer ponderações sobre as posições adotadas pelo presidente. Não contestou Bolsonaro sobre ataques às urnas eletrônicas, mas disse confiar no sistema eleitoral; não tirou a razão de seu superior em criticar ministros do Judiciário, mas afirmou ser contra a tensão entre os Poderes; em sabatina do Estadão/FAAP, prometeu cumprir a legislação sobre aborto em São Paulo, um dos temas mais espinhosos para a gestão federal.
Tarcísio é egresso dos governos de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Foi nomeado para a cúpula do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) durante a gestão petista, após passar três anos como servidor concursado da Controladoria-Geral da União (CGU). Com Temer, chegou à Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), no anexo 2 do Palácio do Planalto.
Foi na gestão de Bolsonaro que ele alcançou o maior posto. Tarcísio foi muito elogiado pelo presidente durante sua passagem pela Infraestrutura, e retribuiu, por exemplo, chamando o chefe de “fenômeno” e dizendo que ele tem o “dom da liderança”. Ambos são formados pela Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro. O ex-ministro afirmou, em 2020, que o estilo de Bolsonaro era melhor do que os de Dilma e Temer, e elogiou sua gestão diante da pandemia.
Quando se refere a “bolsonarista raiz” como a ala mais ideológica de apoiadores de Bolsonaro e que se projetou na política “colada” ao atual presidente, Tarcísio busca se distinguir de figuras como as deputadas Carla Zambelli e Bia Kicis, que também usaram as redes sociais com destaque para se apresentar à sociedade, o que ele, de fato, nunca explorou com o mesmo empenho.
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