O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), viajará para Israel no próximo dia 18, a convite da comunidade brasileira que reside no país. A viagem será feita em meio à crise diplomática desencadeada pela declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que comparou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza ao extermínio de judeus perpetrado pelo regime nazista de Adolf Hitler nas décadas de 30 e 40 do século passado.
O convite, ao qual o Estadão teve acesso, foi feito pela organização Kehilat Or Israel, que também chamou outros governadores e prefeitos para integrarem a delegação. Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, disse que não poderia ir pois tem outros compromissos agendados. Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, também rejeitou o convite e a assessoria de imprensa declarou que ele “segue em agenda intensa no Estado”
A reportagem procurou a assessoria de Ronaldo Caiado (União-GO), que não se manifestou. Nos bastidores, no entanto, ele tem indicado que viajará a Israel. Os governadores convidados são oposição a Lula.
A viagem dos governadores é diferente da que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pretende realizar, segundo o advogado e assessor do ex-presidente, Fabio Wajngarten. Na sexta-feira, Bolsonaro afirmou que recebeu um convite direto do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu.
O ex-presidente precisa ser autorizado a deixar o País pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pois ele está com o passaporte retido devido à suspeita de participar de uma suposta tentativa de golpe de Estado. Wajngarten afirmou que a defesa ainda não entrou com o pedido no STF.
O convite enviado pela Kehilat Or Israel a um político brasileiro diz que a viagem pretende permitir a visita e o registro dos resultados do ataque terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro e que os governadores e prefeitos entendam impactos sociais e econômicos causado pela guerra.
Está previsto também a participação da delegação em encontros realizados em colaboração com as Forças de Defesa de Israel, representantes oficiais e especialistas no conflito e na geopolítica do Oriente Médio. A previsão é que a viagem dure do dia 18 até o dia 23 de março.
“Os governadores não foram convidados pelo Estado de Israel, mas sim por organizações da sociedade civil, uma vez que esta delegação não é uma iniciativa governamental. O objetivo da delegação, tanto quanto sabemos, é expressar solidariedade para com Israel. Por outro lado, ficaríamos felizes se figuras públicas brasileiras visitassem Israel para conhecer a realidade que Israel e seus residentes têm enfrentado desde o massacre de 7 de outubro”, informou a Embaixada de Israel no Brasil. A organização Gmach Brasil também é citada no convite.
A embaixada afirmou ainda que o governo de Israel não tem familiaridade com o conteúdo das reuniões porque não está organizando a delegação. “As organizações civis em Israel podem solicitar reuniões com funcionários do governo para discutir assuntos do seu interesse”, disse o órgão. A reportagem perguntou à Kehilat Or Israel qual seria o nível de participação das Forças de Defesa de Israel nos encontros e quem seriam os representantes oficiais citados, mas não obteve resposta.
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A entidade foi fundada em 2016 e tem como sede a cidade de Raanana, localizada a 20 quilómetros de Tel Aviv. Em seu site, a Kehilat or Israel afirma que mais de 100 famílias de olim chadashim brasileiros — novos imigrantes, em hebraico — estão em contato com a comunidade de forma constante.
Brasil e Israel vivem uma crise diplomática desde que Lula afirmou em fevereiro que “o que está acontecendo em Gaza não aconteceu em nenhum outro momento histórico, só quando Hitler resolveu matar os judeus”. Como resposta, o governo israelense declarou o presidente como “persona non grata” até que ele se desculpe e tem criticado o governo brasileiro pelo posicionamento.
O presidente não recuou da declaração e, assim como outros representantes do governo, reiterou que considera que Israel comete genocídio em Gaza. O embaixador do Brasil em Israel ainda não retornou ao seu posto depois de ter sido chamado de volta por Lula como resposta às críticas israelenses.
Para maioria dos brasileiros, Lula exagerou, e aprovação do presidente sofre queda
Segundo pesquisa Genial/Quaest realizada entre os dias 25 e 27 de fevereiro, a aprovação pessoal de Lula entre o eleitorado caiu três pontos percentuais, de 54% para 51%, enquanto a desaprovação subiu de 43% para 46% na comparação com a pesquisa realizada em dezembro.
Um dos motivos apontados para este resultado é a declaração sobre Israel, já que há uma associação entre o país e os evangélicos brasileiros. Uma corrente teológica acredita que acontecerão em Israel os eventos que culminarão no fim dos tempos.
Segundo a Quaest, 60% dos brasileiros consideram que a comparação feita por Lula foi exagerada. A percepção de que o presidente exagerou é ainda maior entre os evangélicos (69%), porém é menor entre aqueles que votaram no petista nas eleições de 2022 (43%).
Outro fator que explica a queda na aprovação do petista é a percepção da população sobre a economia do País. A pesquisa Genial/Quaest mostra que 38% dos entrevistados consideram que a situação econômica piorou nos últimos 12 meses. A expectativa sobre o futuro da economia brasileira também piorou, com 46% dos brasileiros achando que a economia vai melhorar no próximo ano, uma queda de 9 pontos percentuais com o levantamento de outubro de 2023.
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