Elogiado pelo seu papel como cabo eleitoral na eleição municipal de São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) terá um novo desafio a partir do ano que vem. Partidos do Centrão, como PP, Podemos e União Brasil têm demonstrado cada vez mais insatisfação nos bastidores com a falta de espaço no governo paulista.
Integrantes dessas siglas no Estado avaliam que o governador está bem eleitoralmente, mas mal politicamente e pode enfrentar dificuldades em unificar a base na eleição de 2026 se surgir um candidato de direita viável para o governo de São Paulo.
O governador, contudo, disse a interlocutores que não irá ceder e manterá o secretariado escolhido por ele. Auxiliares de Tarcísio apostam que a popularidade do chefe do Executivo acabará garantindo o apoio dos partidos insatisfeitos. Mesmo se isso não ocorrer, dizem, é dada como certa a reedição da coligação vitoriosa em 2022, com PL, PSD e Republicanos, além do MDB, que também deve se juntar ao grupo.
Pesquisa Genial/Quaest divulgada na quinta-feira, 12, aponta que a atual gestão é aprovada por 61% dos eleitores. O levantamento também mediu a intenção de voto para o governo paulista: Tarcísio tem 33%, seguido de Fernando Haddad (PT), com 22%, Pablo Marçal (PRTB), que registra 16%, e Márcio França (PSB), com 6%. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.
O primeiro escalão do governo de São Paulo é formado por 27 pastas e sofreu apenas quatro mudanças em dois anos de gestão. Segundo pessoas próximas do chefe do Executivo, ele acredita que aceitar indicações políticas desmantelaria a equipe escolhida por ele no início do mandato, prejudicando as entregas da gestão.
O secretariado atual é uma mistura de pessoas que já haviam trabalhado com Tarcísio no passado, egressos do Ministério da Economia de Paulo Guedes, e quadros do Republicanos, partido do governador, do PL e do PSD, do secretário de Governo, Gilberto Kassab.
Os partidos do Centrão prometem aumentar a pressão por cargos à medida em que a eleição de 2026 se aproximar. Outro fator é que a partir do ano que vem um contingente de prefeitos ficará desempregado, seja porque cumpriram dois mandatos ou não conseguiram se reeleger, e buscarão novas posições para manter relevância política.
Há também uma insatisfação generalizada com o espaço de Kassab. A avaliação no Centrão é que ele usou o cargo de secretário para se tornar o maior partido do Estado. O PSD elegeu 206 prefeitos, quase o dobro do PL, com 104, e do terceiro colocado, Republicanos, que fez 83 mandatários.
As siglas ouvidas pelo Estadão consideram que as quatro secretarias do PSD, que comanda também Saúde, Habitação e Projetos Estratégicos, são desproporcionais, já que PP, União Brasil e Podemos não têm representação no primeiro escalão paulista.
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Procurado, o PSD negou que Kassab tenha utilizado a máquina paulista para favorecer a sigla e disse que não há casos de prefeitos que sustentem a alegação. O partido declarou ainda que os quatro secretários filiados foram convidados por Tarcísio e suas nomeações não foram fruto de indicação partidária.
“Ele está deixando a desejar muito na articulação política. Tem muita insatisfação no nosso partido, no União Brasil, no partido dele, no PL. Hoje só tem um partido que está feliz, com o qual não sei se ele vai contar [em uma eventual candidatura presidencial em 2026] porque é um partido mais governista, o PSD”, disse o presidente do PP, Ciro Nogueira, em entrevista ao jornal O Globo no final de outubro.
“Estou na expectativa do partido estar melhor amparado e poder participar mais do governo”, disse o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, ao Estadão. Uma possibilidade é que a sigla filie Marçal, que já declarou que pode disputar tanto a Presidência da República quanto o governo estadual.
O grupo se divide sobre o ex-coach: uma ala aguarda com expectativa os próximos passos de Marçal, mas há quem já o descarte como alternativa viável pois prevê que ele será declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por causa do laudo falso publicado contra Guilherme Boulos (PSOL).
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