Considerado de perfil mais ao centro que outros parlamentares do partido, o líder de governo escolhido pelo governador Tarcísio de Freitas, Jorge Wilson (Republicanos), defende que sua nomeação ao cargo não representa uma tentativa do governador de se despir do “bolsonarismo raiz”. Segundo ele, Tarcísio “não nega a sua origem” e vai precisar atender a todos os espectros políticos, da extrema-direita à extrema-esquerda.
“Ele não quer se despir (do bolsonarismo raiz). Ele não nega a origem dele. Só que quando você governa um Estado do tamanho de SP, você precisa entender que naquele momento terminou o palanque político”, afirmou.
“Precisa atender tanto aqueles que pertencem à extrema-direita como à extrema-esquerda. Também a direita sem extremo e a esquerda sem extremo. Tem que atender também ao centro. O governador tem essa preocupação”, disse, destacando a postura “pé no chão” e “conciliadora” do ex-ministro da gestão Bolsonaro agora à frente do Executivo paulista.
Leia a entrevista:
A sua filiação ao Republicanos tem relação com o fato de o senhor ser da Record? Qual a relação da emissora com o partido?
Eu fui para o PRB (atual Republicanos) porque acreditei no projeto do partido. A emissora é muito isenta e o partido é muito isento, não mistura uma coisa com a outra.
Qual a relação da Igreja Universal com o Republicanos?
A igreja não mistura, não interfere. É lógico que tem um candidato ou outro que, independentemente de ser da igreja ou não, está se filiando a um partido. Tanto não interfere que a própria Universal já teve deputados eleitos de outro partido.
Como o sr. se aproximou de Tarcísio? O sr. tem proximidade com Celso Russomanno. Houve intervenção do deputado federal?
Em hipótese alguma. Desde a filiação dele (Tarcísio), já era nosso candidato. Nós estivemos na campanha do governador trabalhando no Estado, ouvindo a população, nos eventos maiores e menores. Não teve interferência nenhuma do Celso, nem de ninguém do partido e nem de mim também, isso não foi um pleito meu. Eu tenho uma relação construída com o parlamento, com meus pares, não só do nosso partido. Acredito que deve ser por essa relação que alguns deputados, segundo o governador, falaram do nosso nome. Quando sinalizaram, o governador entendeu e fez esse convite. Fico muito honrado. Como líder tenho tranquilidade de dialogar na Casa e entender as necessidades. Nada mais justo que estreitar esse diálogo de forma democrática, suprapartidária, porque eu acho que nós temos que procurar um equilíbrio, uma harmonia, deixar o ódio de um lado e do outro.
Tarcísio chegou a citar durante a campanha que a liderança ficaria com outro deputado de seu partido, Altair Moraes, considerado de perfil mais “bolsonarista raiz”. Ao indicar o senhor, Tarcísio faz uma escolha política de aceno ao centro e de se despir do bolsonarismo raiz?
A escolha é uma prerrogativa do governador. Não pleiteei. Qualquer nome eu respeitaria de forma muito tranquila. Sempre nos sentamos e de forma democrática (no partido). Ele não quer se despir (do bolsonarismo raiz). Ele não nega a origem dele. Só que o governador, quando você governa um Estado do tamanho de São Paulo, você precisa entender que naquele momento terminou o palanque político. Precisa atender tantos aqueles que pertencem à extrema-direita como à extrema-esquerda. Também à direita sem extremo e à esquerda sem extremo. Tem que atender também ao centro. O governador tem essa preocupação. Se ele foi um bom técnico, bom ministro, é sinal que tem qualidades. Está se tornando um grande líder pé no chão, por saber ouvir e por ter a leitura de que a população que está em maior grau de vulnerabilidade precisa do poder público com maior urgência.
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Essa discussão chega na Alesp na negociação pela Mesa Diretora, que teria o PL na presidência e o PT na 1ª secretaria. Por que manter esse espaço para a oposição?
A Assembleia sempre procurou respeitar a proporcionalidade dos votos de bancadas. (Se) O partido elegeu um número de deputados, vamos conversar para que tenha assento. O PL é a maior bancada e o PT, a segunda maior. Por que não dialogar para que, de forma proporcional, a gente continue a fazer a construção da nova formação, não só da Mesa diretora como também de todas as comissões?
Quais os principais desafios dessa gestão na Alesp? Sabesp será a primeira prova?
O que for (comprovado) de forma exaustiva, com estudos técnicos e comprobatórios, que determinada privatização será benéfica para a população, principalmente os mais vulneráveis. Governador falou sobre a privatização: ‘vamos discutir muito’. É cedo demais para se falar em privatização da Sabesp (na Alesp). O governador quer dar musculatura maior para São Paulo, mas as privatizações serão importantes a partir do momento que os técnicos estudarem para somar para o Estado.
Mas privatização ainda está em discussão? É uma promessa do próprio governo...
Vontade é uma coisa. É o que o governador fala: ‘quer melhorar o serviço’. Eu como líder preciso entender o projeto quando chegar. Antes de entendermos tecnicamente de que seria viável privatizar a Sabesp e que, privatizando, o consumidor, ao invés de pagar conta mais cara, vai pagar mais barata, é um outro detalhe. Mas, até aí, não passa de estudos iniciais. Muitas vezes a vontade não se prevalece quando não se comprova através de estudos técnicos.
Até o governo passado houve propostas de CPI da oposição que não tiveram quórum para aprovação na Alesp, como em escândalos de corrupção. Depois do apoio do ex-governador Rodrigo Garcia na eleição, a Alesp vai passar uma borracha nisso? Qual vai ser o papel da Assembleia em fiscalizar o governo Tarcísio?
A Alesp tem autonomia. Tem independência. São 94 deputados e cada um deles tem a sua prerrogativa de entender aquilo que está certo e o que não está certo, pode automaticamente fiscalizar, cobrar não só do governo do Estado, como de qualquer secretaria. Ninguém vai tirar essa prerrogativa.
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