O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) planeja criar escolas rurais para atender moradores de rua e dependentes químicos no formato de internato. A medida foi oficializada no Diário Oficial do Estado desta quinta, 3, com a instituição de uma comissão técnica para selecionar o consultor que ficará responsável pela proposta sob a gestão da Secretaria de Estado da Educação. O modelo é desconhecido e, de acordo com a pasta, “inovador”.
Segundo a coluna apurou, o projeto tem por objetivo oferecer às pessoas em situação de rua “moradia e condições de instrução de acordo com o seu nível de cognição”. O “desejo”, de acordo com o edital de seleção, é o de “contribuir com a sociedade”, de modo que a “população de rua possa aprender a desempenhar um ofício, praticá-lo e viver dele, bem como ser assistida em relação a cuidados básicos de saúde”.
Ainda em desenvolvimento, a proposta não especifica se o governo Tarcísio construiria tais unidades nem define onde as mesmas seriam instaladas. O chamado da pasta comandada por Renato Feder afirma que trata-se de um “grande projeto” e que, em função da quantidade de pessoas em situação de rua no Estado, o público atendido precisará ser “segregado em categorias, como dependentes químicos, famílias e indivíduos”.
Escolas agrícolas não são novidade no Brasil. Há unidades em quase todos os Estados, mas destinadas justamente a moradores locais, ou seja, que já vivem em áreas rurais. E tais colégios não se destinam a atender apenas pessoas em situação de rua ou usuários de drogas. Também não têm como regra o modelo de internato.
A proposta em desenvolvimento pela equipe de Feder, no entanto, parece ser complementar a outro projeto do governo Tarcísio: o de levar moradores de rua para trabalharem no campo. A intenção foi revelada em abril e batizada de “Saindo das Ruas”. De acordo com a ideia, o Estado faria com que produtores rurais oferecessem trabalho e moradia a essa população. Em troca, o governo se comprometeria a comprar parte da produção para seus projetos sociais.
De acordo com o governo Tarcísio, são cerca de 86 mil pessoas morando nas ruas em São Paulo, das quais 52 mil na capital paulista. No escopo inicial do projeto, a secretaria pretende filtrar os imóveis próprios do Estado a fim de definir quais poderiam ser selecionados para uma visita técnica.
Ex-secretário de Educação do Paraná, Feder tem apostado em “inovações” ao comandar a rede pública paulista. Na semana passada, o secretário abriu mão de receber 10 milhões de livros didáticos comprados pelo Ministério da Educação (MEC) para todo o País há décadas. Os alunos do ensino fundamental 2 (6º ao 9º ano) e também do ensino médio deixarão de usar livros impressos.
“A aula é uma grande TV, que passa os slides em Power Point, alunos com papel e caneta, anotando e fazendo exercícios. O livro tradicional, ele sai”, disse Feder ao Estadão, sobre a preferência pelo ensino apenas digital. Sobre as escolas rurais ainda não há declarações do responsável pela educação no Estado. Em nota, a assessoria de imprensa informou que a “secretaria trabalha para desenvolver programas educacionais que possam auxiliar a população de rua. Neste sentido, a pasta iniciou processo para contratar um consultor que vai estudar alternativas de acesso à educação para esta população.”
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