Temer discorda de PEC que limita poderes do STF, mas diz que Corte precisa mudar regimento interno

Para ex-presidente, propostas em curso no Congresso podem ‘sensibilizar’ ministros, mas cada poder deve atuar dentro do ‘seu pedaço’

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Foto do author Samuel Lima
Atualização:

O ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou nesta terça-feira, 14, que não vê necessidade para uma reforma no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele diz que não há conflito entre os poderes e discorda da PEC em tramitação no Senado que limitaria a atuação da Corte, mas diz que Supremo pode fazer mudanças por conta própria.

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O Senado discute em plenário uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que limita as decisões monocráticas e o prazo para pedidos de vista. Outra proposta circulando na Câmara dos Deputados autorizaria os parlamentares a cassarem decisões da Corte. Uma terceira frente pode ser aberta após a segunda indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o STF este ano e envolve o estabelecimento de mandatos para os ministros.

Em conversa com o Estadão, Temer disse discordar da PEC que tramita no Senado, mas avaliou que a proposta pode sensibilizar a Corte a promover mudanças por conta própria. “Essa é uma matéria típica do regimento interno do Supremo. Ele já decidiu que os pedidos de vista não podem ultrapassar o prazo de 90 dias, e o regimento também poderia prever (uma limitação para) decisões monocráticas. Em matéria de constitucionalidade, (decidir sozinho) de fato é uma coisa gravíssima, haveria que se verificar necessariamente a decisão coletiva. Acho que poderia sensibilizar os ministros de maneira que o regimento interno estabelecesse dessa forma, como se estabeleceu no caso do pedido de vista.”

Ex-presidente Michel Temer (MDB), em seminário jurídico do Estadão em São Paulo. Foto: Werther Santana / Estadão

A declaração do ex-presidente foi dada após seminário jurídico do Estadão Blue Studio em parceria com a Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. No seu painel, Temer sustentou que o STF pode “puxar a orelha” do Congresso, mas a “última palavra” é dos deputados. O ex-presidente citou, por exemplo, a questão do marco temporal, tema que gerou embates entre a Corte e o parlamento quando o Supremo derrubou a tese de que os indígenas teriam direito apenas às terras que ocupavam em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição Federal.

Sem conflito entre Congresso e STF

No primeiro dia de evento, os ministros do STF Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes criticaram as propostas discutidas no Congresso. Barroso, presidente da Corte, disse que a PEC que limita as decisões monocráticas e os pedidos de vista “passa uma visão equivocada de que os problemas do País passam pelo Supremo”.

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Gilmar Mendes criticou outra proposta, dessa vez na Câmara dos Deputados, que prevê revisão das decisões do ministro da Corte. Ele disse que o texto é parecido com a Constituição de 1937, outorgada na ditadura de Getúlio Vargas. “Não faz sentido e é a quebra da ideia de divisão dos Poderes”, declarou a jornalistas.

Apesar das críticas públicas de parlamentares e de ministros a respeito do trabalho uns dos outros, Temer não acredita em um conflito real em curso entre o Congresso e o STF. “Acho inadequada essa divulgação de que há conflito entre o Supremo e o Congresso por uma razão muito singela: cada um dos órgãos do poder pode exercer as suas funções. Primeiro, o Supremo pode, numa análise sistêmica e não apenas literal, decidir de uma determinada maneira. Em seguida, o Legislativo pode entender que aquela decisão não é adequada para o País e produzir um novo sistema normativo”, afirmou Temer. “Se cada um ficar no seu pedaço, não há razão para a divulgação de uma eventual disputa. Isso não é bom para o País.”

O ex-presidente disse ainda que não pretende se envolver na disputa eleitoral de 2024. Temer, que é um dos líderes do MDB, diz que pretende ficar “só observando, mas torcendo pelo Ricardo Nunes”. O prefeito de São Paulo disputa a reeleição pelo partido.

No início do mês, Temer chegou a confirmar presença para um evento do MBL em São Paulo, que tem como pré-candidato o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), mas não compareceu, alegando viagem de última hora.

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