‘Tenentismo era salvacionista e propugnaram a manutenção da ditadura do Getúlio’, diz Boris Fausto

Ao fazer um balanço de sua obra, o autor de ‘A Revolução de 1930′ afirma que movimento deve ser compreendido pelo sua origem militar e não como expressão das classes médias urbanas

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Foto do author Marcelo Godoy
Atualização:

Com o livro A Revolução de 1930, o cientista político e historiador Boris Fausto provocou uma mudança nas análises sobre o tenentismo e o fim da República Velha. Ele destaca ainda a importância do trabalho de seu colega José Murilo de Carvalho ao pôr luz sob os fatores internos da caserna para a compreensão dos tenentes. Fausto vê nos jovens militares um espírito que “em grande linha não era democrático”. “Era militar como temos em nessa tradição. Era salvacionista e propugnaram a manutenção da ditadura do Getúlio (Vargas) tanto quanto possível. Nesta entrevista ao Estadão, além de falar sobre o movimento, Fausto faz um balanço de sua obra. Veja a seguir.

Boris Fausto e de sua obra 'A Revolução de 30', no escritório de sua casa, em São Paulo Foto: Felipe Rau/Estadão

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Qual o balanço o senhor faz sobre os impactos causados pelo tenentismo na história da República?

O tenentismo foi um movimento que teve grande impacto na história da Primeira República. Foi um primeiro movimento armado de envergadura – houve outros localizados – que rompe com a tradição de acomodação da República Velha. O episódio do Forte de Copacabana, a revolta em São Paulo e a coluna Prestes-Miguel Costa tiveram uma ressonância do País que permanece atualmente como simbólica. Na época, o impacto foi muito grande. Mas o movimento teve limites. Nenhum dos tenentes assumiu o comando do País.

Qual o impacto do tenentismo na luta política entre as oligarquias que disputavam o poder na República?

O tenentismo tem uma fase anterior a 1930 e outra depois, quando os tenentes vão ao poder de certa forma com Getúlio Vargas. Eles não querem ser instrumento de Getúlio. O Clube 3 de Outubro articula os tenentes, mas eles vão acabar – não todos, alguns se tornarão integralistas –, o grosso do tenentismo vai se acomodar no getulismo. A tendência desde o início deles é restritiva ao regime democrático. Eles querem reformar o País, acabar com o Brasil oligárquico. Querem centralizar o País, que é uma grande reivindicação deles – o Juarez Távora fala dos 20 feudos que existiam no Brasil. O espírito deles em grandes linha não era democrático. Era militar, como temos em nessa tradição. Era salvacionista. Propugnarão a manutenção da ditadura do Getúlio tanto quanto possível. Eles não queriam a Assembleia Constituinte e a constitucionalização do País, pois temiam a volta das oligarquias ao poder. Daí porque desejavam prolongar o governo provisório, que era uma ditadura. Depois, a maioria deles, os que ficaram na política ou no Exército, vai integrar o governo Getúlio.

É comum se analisar os tenentes pela ótica do papel dos militares em nossa República. Como situar o movimento dentro do papel desempenhado pelos militares na história da República brasileira? Ele é índice ou ponto fora da curva?

Ele é índice do papel dos militares, mas fazem uma explosão daquela República que tinha sido assentada. Os quadros da cúpula do Exército de então tinham insatisfações com a República, mas se acomodavam. Não são os grande garantidores da ordem republicana, tanto assim que a Força Pública de São Paulo tem grande contingente militar. E foi essa a razão de algumas tentativas de intervenção em São Paulo terem sido afastadas durante o governo de Hermes da Fonseca. O tenentismo ajuda a tornar os militares fiadores de uma ordem republicana, como uma espécie de poder moderador dessa ordem até 1964. É verdade que Getúlio não era um pau mandado dos militares. Ele se compõem com os militares, que são a garantia do Estado Novo e do poder presidencial até derrubá-lo, em 1945, em uma nova conjuntura. Essa República consentida vai se rompendo com a Guerra Fria, o que levou à implantação do regime militar pura e simples.

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Quem de fato os tenentes representavam? Não tínhamos partidos políticos capazes de representar as classes no Brasil. Estes eram sobretudo regionais e o processos de inclusão das massas populares apenas engatinhava na República oligárquica. O tenentismo é uma reação a esse estado de coisas?

Sim. Esta é uma chave da minha interpretação da Revolução de 1930 e do tenentismo. Uma das chaves da minha análise sobre o movimento é que o tenentismo não representava as classes médias, o que eu critico no meu trabalho. Hoje ninguém mais duvida disso, mas, na época, havia pessoas como Virgilio Santa Rosa, que escreveu um livro sobre o sentido do tenentismo em que procurava mostra que o movimento era o aríete armado das classes médias. Procurei mostrar que o tenentismo era visto pelas classes médias urbanas com uma grande esperança. Dizia-se Isidoro (Dias Lopes) vem aí. A coluna era simbólica de uma redenção do País. Ela desperta um vínculo sobretudo simbólico das classes médias com o movimento militar. Mas lembro do que escrevi no Brasil em Perspectiva, organizado pelo Carlos Guilherme Motta: o movimento militar era um movimento de militares, com uma ética e uma ótica militar em relação ao Brasil e, embora não desvinculado das classes, deve ser investigado e caracterizado pelo que era. E não como instrumento das classes médias. Reforcei essa crítica no A Revolução de 1930. Depois, quem tem a grande contribuição na história do tenentismo, investigando a estrutura do Exército e suas promoções e não promoções, foi o José Murilo de Carvalho. Tive o prazer de ter o primeiro ensaio dele, aprofundando o tenentismo, no História Geral da Civilização Brasileira.

O tenentismo fala em processo eleitoral, mas dentro de uma ótica de uma modernização conservadora, e vincula-se às oligarquias dissidentes. Uma outra ideia sobre o tenentismo na época que o senhor lançou sua obra aparentava os tenentes com os movimentos nacionais-libertadores, uma visão às vezes fomentada pelo PCB. De que forma essa imagem era forte na época em que o senhor lançou sua obra?

Era a versão consagrada pelo Partido Comunista, e a expressão máxima era o Nelson Werneck Sodré. Na época, eu o critiquei muito. Um amigo meu me disse que eu apanhei uma metralhadora para atingi-lo. Mas existe gente até hoje que fica com a versão do Werneck Sodré. Há coisas boas nele, mas, fundamentalmente, adotava a ideologia do partido naquela época. Diferente do Virgílio Santa Rosa, que falava das classes médias, ele dizia que a Revolução de 1930 era a revolução democrático-burguesa. Os tenentes entravam nisso como elementos do triunfo da revolução burguesa, na suposição de que haveria uma contradição de classes no País entre os agrarismo e a indústria. O Otávio Brandão escreveu nos anos 1920 que o Brasil passaria por uma etapa de triunfo da burguesia nacional e industrial, que não teria vínculos com o latifúndio e o imperialismo. E faria a revolução democrática-burguesa no País, que seria uma etapa para o socialismo, transpondo a evolução europeia com muitas imprecisões para o Brasil.

Cordeiro de Farias (à esq.), Luiz Carlos Prestes, ao centro, e Djalma Dutra (dir.) durante a marcha da coluna pelo Brasil. Foto: Reprodução

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Isso trazia implicações para a tática política dos comunistas, que pregavam uma aliança com setores progressistas da burguesia. Ao fazer sua análise, o senhor retirava uma carta da base do castelo sobre o qual se erguia a atuação do PCB de então. Toda a tática política deles desmoronaria?

Fui inspirado na visão crítica ao partido comunista ao escrever esse livrinho. Meu interesse no começo era escrever uma nova visão da Revolução de 30, com uma caracterização que fosse uma narrativa, estudando as forças em presença, como os casos de São Paulo e do Rio Grande do Sul e do Exército. Mas aí me vi, por força do tempo de que dispunha, como historiador de fim de semana, forçado a desistir disso e a me reduzi a fazer uma crítica das interpretações existentes e propor uma outra. O meu objetivo inicial era fazer a critica da visão do partido comunista naquela época.

O senhor trata de um caráter elitista dos tenentes. Como o pensamento deles se insere dentro do pensamento das classes dominantes? De onde vem o programa político deles?

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Eles querem derrubar o (Artur) Bernardes, o réprobo, como falavam. O Bernardes foi pior presidente da Primeira República. Ele morreu incensado, mas foi um perseguidor das liberdades. Os tenentes queriam derrubá-lo e não tinham um programa muito específico. Falavam em nacionalizar algumas coisas, como ocorreu na revolta em Manaus (1924). Eram representantes dos interesses gerais do País, não se remetiam às classes. Queriam centralizar o País e acabar com a federação.

Eles tinham uma política cafeeira diferente daquela da oligarquia do café?

Eles não tinham um programa grandemente elaborado. Eles iriam depois defender um desenvolvimento homogêneo, mas a ideologia deles era muito frágil, tanto que Getúlio os engoliu, com seu grupo industrializante, após 1930, e com suas formulações de política econômica. O (tenente) João Alberto, interventor em São Paulo (nomeado por Getúlio Vargas), resolveu fazer uma aliança com setores da cafeicultura, que o apoiaram com interesses pragmáticos, o que mostrava que eles não era infensos a fazer alianças com esses setores, o que não vale para a turma que entrou depois na Revolução de 1932.

Antônio Carlos dizia que era preciso fazer a revolução antes que o povo a fizesse. O que os tenentes achavam disso?

Eles não viam um grande perigo em uma revolução popular. Eles se viam como revolucionários. Aliás, muito deles, eram da elite do Nordeste, agrária ou urbana. Muita gente que não tinha poder econômico, mas se via como gente de família de elite, que devia ser considerada. Eles não tinham a ideia de fazer uma revolução pelo alto, como pensava o Antônio Carlos. Nos documentos deles eles se viam como uma sínteses do que quer o povo brasileiro.

Como podemos pensar o papel de Luiz Carlos Prestes, Cordeiro de Farias, Eduardo Gomes e Juarez Távora no história do Brasil do século 20, se é possível falar no papel do indivíduo na história?

Prestes adota a ideologia do partido até romper em 1980. Ao mesmo tempo em que não tem uma ideologia própria, ele segue a do partido, ele tem uma importância simbólica efetiva de inspiração de muita gente. Ele, dentro dos tenentes, que tiveram uma diversificação grande, ele é o maior vulto. Sendo o maior vulto, ele adere aos princípios de Moscou. Não por oportunismo, mas por acreditar naquilo, na inspiração soviética, no Komintern. A meu ver, ele estava grandemente equivocado, mas ele acreditava. É uma figura que tem muito peso. Em 1945, o partido volta à legalidade e muita gente que simpatizava com o tenentismo e ex-tenentes vai votar ou simpatizar com o partido pela figura de Prestes.

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O prestismo era maior do que o partido?

Era maior do que o partido. Aliás esse foi o grande debate no partido nos anos 1930: eles se negavam a permitir a entrada de Prestes no partido, porque o prestismo não se enquadrava nele. Avant la lettre, era o culto da personalidade. Até que Prestes vai para a URSS e, com a bênção do Komintern, os quadros que tinham receio dele se adaptam e ele vai se tornar a figura central do partido.

Como o fato de Miguel Costa não ser do Exército e a morte de Siqueira Campos facilitaram o caminho do Prestes?

A morte do Siqueira teve grande influência. Não sabemos que linha adotaria. Ele era uma figura de prestígio. O Miguel Costa tinha muito prestígio em São Paulo. Ele fez uma política populista em São Paulo, antes de 1932. Foi um populista em escala estadual antes de o Getúlio configurar o populismo.

O brigadeiro Eduardo Gomes é recepcionado pelos estudantes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco durante segunda campanha para presidência da República. Ele seguia à sede da UDN em São Paulo, localizada no Edifício Martinelli. no centro da cidade  Foto: ARQUIVO

E outras figuras, como o brigadeiro Eduardo Gomes, o general Juarez Távora e o general Cordeiro de Farias? O que representa a trajetória deles nos anos subsequentes?

Aí já não é mais tenentismo, mas as opções pessoais deles. Assim como houve a dissolução do tenentismo no getulismo ou à esquerda, houve uma inclinação, uma opção à UDN. Não só a turma de São Paulo. Não há uma ligação umbilical do Cordeiro, do brigadeiro e do Juarez com o partido. Mas eles vão representar para a UDN os militares que representam interesses do liberalismo, ainda que limitado. É uma ideologia liberal-conservadora. O brigadeiro é o melhor representante dessa corrente. Ele apoia o golpe (de 1964) e depois vai criticar aspectos radicais do movimento. A UDN paulista tem uma grande esperança no brigadeiro, que simboliza o liberalismo afirmativo que vinha desde o Partido Democrático, desde 1926. Cheguei a ir a comícios do brigadeiro. O entusiasmo era muito grande. Não havia pesquisa de opinião em 1945. Eu achava que o brigadeiro ia ganhar a eleição. As campanhas do brigadeiro tinham muito entusiasmo de classe média e classe alta. Senhoras desciam de automóvel para o comício. Havia gente que vinha da base da classe média. Gente que queria democracia. A esquerda democrática apoiava e depois se afastou e virou o Partido Socialista Brasileiro.

O Clube 3 de Outubro foi o último momento do tenentismo com vida autônoma na República?

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É isso. Eu acho o Góes (Monteiro) tem uma frase que ele fala que o 3 de Outubro foi impetuoso e agressivo, mas agora se transformou em um clube militar e moderado. Depois, o clube desapareceu. No começo tinham a ideia de acertar as contas com os generais, que eram agentes da República Velha. Mas as hierarquia se desgastam e se recompõem.

O tenentismo se esgotou por ele não ter conseguido representar nada além dos interesses dos próprios militares? A visão de que representavam a Nação se dilui em uma representação de si mesmo? Ou essa representação acaba sendo assumida pela hierarquia militar, que se coloca como fiadora da Nação e cria uma mitologia para o próprio Exército?

Os tenentes de então (pós-1930) não são mais rebeldes. Alguns deles sobem na hierarquia militar, como Cordeiro, Juarez, Eduardo Gomes. Todos eles vão chegar à cúpula de suas Forças e com grande influência como candidatos a à presidência, como Juarez e Eduardo Gomes. Eles são candidatos da UDN, acomodando-se ao viés liberal e, depois de 1945, eles vão ser os defensores da linha que o Brasil deverá ter no contexto da Guerra Fria. Eles serão declaradamente pró-democracia americana, pró-Estados Unidos. Mas a UDN não consegue emplacar esses candidatos. O que abre espaço para a história do Jânio, a UDN de porre, uma figura intempestiva e desalinhada com a UDN, mas em quem o partido apostou.

É possível ver nos movimentos de 1935 da ANL e integralista de 1938 como manifestação em parte tardia do tenentismo ou os aspectos políticos e ideológicos – comunismo e integralismo – são mais importantes do que os fatores internos, as dissensões dentro da caserna, para explicar essas fatos?

Falamos muito dos comunistas, mas não do integralismo. A Ação Integralista naqueles anos foi mais importante. A tradição do integralismo apoiou a ditadura de 1964 e hoje apoia Bolsonaro. Tudo aquilo tem o descontentamento de razões militares, mas o peso que leva os militares para a AIB e a ANL é uma espécie, precariamente, de adoção de uma nova esperança de transformação, via o comunismo ou o fascismo. Os comunistas tiveram Prestes como a grande figura e o integralismo não teve uma grande figura militar. Todas elas, como o Plínio Salgado, eram civis, embora a adesão e a influência militar fossem fortes.

O livro do senhor se insere em um contexto em que outros autores, como Florestan Fernandes, Francisco Weffort e Fernando Henrique Cardoso faziam suas críticas ao PCB em outros campos. O senhor também as fez. Todos de alguma forma batiam de frente com a tática do partido em razão da visão etapista do desenvolvimento da sociedade. O livro do senhor se insere dentro desse movimento crítico que busca compreender a realidade brasileira para fazer sua crítica em vez de tentar enquadrá-la em um modelo importado de realidade. Esse contexto ajudou o senhor em sua obra?

Ajudou. A minha filiação de certo modo vinha em uma explicação internacionalista. Eu não era um acadêmico que fazia uma investigação. Na época, eu não fui muito influenciado por eles. Eu vinha da raiz trotskista, mas em 1968, em 1969 eu já tinha rompido com a 4ª Internacional. Eu tinha saído do trotskismo desde 1962. Eram seis, sete anos que eu não estava mais nesse movimento. Não tinha mais nenhuma relação com eles e estava preocupado com a questão democrática, como enfrentar a ditadura autoritária. Já havia mudado e mudei bastante depois. Minha crítica de 1930, por combater o conceito da revolução democrática burguesa já nos tempos do trotskismo, foi influenciada por esse passado, embora eu já tivesse tomado outro rumo. Eu estava armado para fazer essa crítica. Era fácil para mim.

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O senhor se lembra das reações a sua obra?

Teve gente crítica, mas não fui atacado pelo Imprensa Popular (jornal do PCB dos anos 1950) como renegado. A crítica que eu lembro é eu não ter visto o grande movimento do Bloco Operário Camponês que emergiu em 1928 e foi liquidado, e sua memória, abafada. Depois de algum tempo, eu escrevi uma refutação dessa crítica, coisa que eu ainda acho inadequada e anacrônica, mas inspirada pela ideologia da época. Escrevi na Revista Cebrap. Fora disso, não peguei essas coisas de renegado. Na época, eu me lembro do (José Maria) Crispim (ex-deputado comunista) que foi malhado como traidor e renegado. A gente ri dessa coisa hoje, mas era o cancelamento da época. Não se podia falar com trotskista. Era proibido.

O livro do senhor teve uma grande fortuna, inclusive fora da academia?

Sim, teve. De alguma coisa me serviu a formação fora da sociologia, do que escrevia nos jornais. Eu acho que A Revolução de 1930 teve um significado e um impacto grande nas condições de época e esse impacto perdurou. Ela quase chegou nos dias de hoje, nas vendas. Está vendendo até hoje. Sem modéstia, ela teve uma influência grande na opinião pública e nos meios acadêmicos.

No seu último livro, Vida e Morte, um livro de contos e memórias (leia aqui a crítica à obra), o senhor mata a morte no último conto. Sua obra pode ser lida dessa forma, como uma tentativa de se matar a morte?

Eu mato a morte. Eu acho que minha obra como todas as coisas sempre serão ultrapassadas. Eu tenho uma esperança que meus livros, os quatro livros que escrevi de reflexões pessoais e do meu tempo que, atualmente não têm muita incidência, exceto com um público restrito. Mas eu tenho muita esperança que eles sejam vistos como fonte de um depoimento e pensamento de uma época. E tenho esperança que meus livros sobre crimes em São Paulo sejam revisitados. A gente vira pó. Eu não vou ver isso e, talvez, essa esperança seja fugaz. Eu espero que o A Revolução de 30 seja visto como obra datada que teve muita influência em sua época, mas há coisas nele que já estejam aceitadas. Não é preciso rediscutir a invenção da roda. E o meu História do Brasil – meu best seller disparado –, eu tenho afeição por ele e acho que foi um marco que pode ser aproveitado, mas muita coisa ali foi superada, como eu já superei, se fosse escrever uma nova história. Se fizesse uma outra, faria em outras condições e revisão de coisas. Escreveria uma síntese, um outro livro. Então, por isso, reivindico os que não são best sellers, como fontes para os historiadores do futuro.

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