Tiroteio em Paraisópolis: O que se sabe sobre o caso e os impactos na campanha de Tarcísio

Agenda do candidato foi interrompida por disparos próximos ao local onde ele estava; episódio foi explorado tanto por seu aliado, o presidente Jair Bolsonaro, quanto por seu adversário, Fernando Haddad

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Foto do author Davi Medeiros
Foto do author Luiz Vassallo
Atualização:

No dia 17 de outubro, o candidato ao governo de São Paulo e ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) visitava a inauguração de um Polo Universitário em Paraisópolis, na zona sul da capital paulista, quando sua agenda foi interrompida por um tiroteio nos arredores do local. Minutos depois, o candidato foi às redes sociais esclarecer que ninguém de sua equipe havia ficado ferido. A princípio, ele usou a expressão “fomos atacados por criminosos”, mas, em seguida, afirmou que a motivação dos disparos não estava elucidada e que poderia se tratar de uma “questão territorial”. No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) evitou comentar o assunto e disse que seria “precipitado” tirar conclusões. Ainda assim, como mostrou o Estadão, o episódio provocou uma guerra de versões nas redes sociais entre rivais e apoiadores de Tarcísio, que levaram o termo ‘atentado’ aos mais citados do Twitter.

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A troca de tiros resultou na morte de um homem identificado como Felipe Lima, de 27 anos. Ele tinha passagens criminais por roubo e tráfico de drogas, de acordo com a Polícia Civil. Um vídeo obtido pelo Estadão mostra Lima pilotando uma moto; segundo a polícia, ele estava com Rafael Araújo na garupa – até agora só os dois foram identificados pelas autoridades.

O Estadão também teve acesso a outras imagens já com Lima no chão em uma poça de sangue. Nenhuma arma foi encontrada com ele, apenas um pente de balas. Segundo as autoridades, Araújo está foragido. A investigação tenta identificar os demais suspeitos que aparecem nas imagens.

Dia 17: Investigação preliminar

Horas após o tiroteio, a Secreta de Segurança Pública (SSP) convocou entrevista coletiva para informar as primeiras conclusões da investigação preliminar. Segundo a pasta, a troca de tiros ocorreu a cerca de 100 metros do prédio onde o ex-ministro estava, e não houve disparos diretamente contra o edifício. A polícia afirmou não descartar nenhuma hipótese, inclusive a de ataque à equipe de Tarcísio, mas passou a trabalhar com a tese de que os tiros foram motivados pela presença da polícia no local, já que oficiais faziam a segurança do candidato.

Dia 17: Campanha de Bolsonaro fala em ‘ataque criminoso’

No mesmo dia, a campanha de Jair Bolsonaro contradisse o que o próprio presidente havia dito horas antes e explorou o episódio na propaganda eleitoral do candidato à reeleição. Na inserção noturna reservada ao chefe do Executivo na televisão, foi incluído um texto que afirmava que Tarcísio havia sido vítima de um “ataque criminoso”, vinculando o ocorrido a outros episódios, como o ataque a faca sofrido por Bolsonaro em 2018. Por sua parte, o adversário de Tarcísio no segundo turno, Fernando Haddad (PT), se manifestou condenando qualquer ato de violência, em especial na política.

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Dia 25: Pedido de exclusão dos vídeos

Alguns dias após o ocorrido, o jornal Folha de S. Paulo revelou áudio em que um suposto assessor de Tarcísio pede a um cinegrafista da Jovem Pan que exclua as imagens captadas do tiroteio. O suposto membro da equipe do ex-ministro argumenta que o pedido é para não expor as pessoas que estavam no local. Porém, as imagens já haviam sido enviadas à emissora, que diz tê-las exibido integralmente.

A partir de então, o episódio passou a ser explorado com destaque pelo adversário de Tarcísio na disputa pelo governo, o também ex-ministro Fernando Haddad (PT). Em entrevista ao Estadão e à Rádio Eldorado, o petista afirmou que o pedido para exclusão dos vídeos é típico de quem “não confia na apuração de crimes” e na segurança pública.

Dando prosseguimento à investigação, a Polícia Civil divulgou nota afirmando ter requisitado todas as imagens gravadas não apenas pela Jovem Pan, mas por todas as emissoras que cobriam o evento, assim como de câmeras de segurança do comércio local e dos uniformes dos policiais. A corporação explica que esse é o procedimento padrão adotado sempre que há morte decorrente de confronto com a polícia.

Tarcísio foi questionado sobre o tiroteio por Fernando Haddad (à esquerda) durante o debate da TV Globo Foto: TV Globo

Dia 26: Cinegrafista relata pressão por demissão; campanha de Tarcísio nega

O cinegrafista, que no primeiro momento não teve seu nome revelado, passou a se identificar como o repórter-cinematográfico Marcos Andrade, de 49 anos, e concedeu entrevista à Folha no dia seguinte à divulgação do áudio. Segundo ele, a campanha de Tarcísio “ordenou” que ele excluísse as imagens e, após a publicação da primeira reportagem sobre o pedido, fez pressão para que ele fosse demitido da Jovem Pan. A equipe do candidato nega essas alegações.

Dia 27: Tarcísio diz que pedido partiu de ex-Abin

O candidato do PT levantou o tema do tiroteio ao debate promovido pela TV Globo nesta quinta-feira, 27. Em resposta ao petista, Tarcísio confirmou que o pedido ocorreu, de fato, e identificou o autor como um ex-agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sem dar mais detalhes.

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Segundo o candidato do Republicanos, os cinegrafistas de várias emissoras foram retirados do local do tiroteio na van de sua equipe, que é blindada, e levados ao escritório de sua campanha na Vila Mariana. Ele justificou que o procedimento foi para colocá-los em segurança e oferecer uma “água” para aliviar o estresse. “A gente não deixou ninguém ficar para trás (...) Quando chegou ao escritório, a gente trouxe ele para dentro para se recuperar, para tomar uma água, para sair daquela situação de estresse, assim como a gente fez com a equipe da (TV) Bandeirantes e com outros jornalistas”, afirmou Tarcísio.

Ele prosseguiu: “Ele pediu o seguinte: ‘olha, apaga isso, apaga aquilo’, sabe por quê? Preocupação com as pessoas, porque lá tinha equipe de produção, lá tinha equipe de comunicação, lá tinha outros profissionais, porque a campanha vai acabar, mas a vida das pessoas prossegue, e a preocupação foi com a segurança”.

Haddad, então, argumentou que seu rival não deveria apagar imagens que poderiam ser úteis para a investigação, mas levá-las às autoridades competentes. “Sabe o que isso gera? Suspeição. A sociedade paulista está se perguntando por que isso aconteceu”, disse o petista.

Quem é o servidor da Abin citado por Tarcísio?

O servidor da Abin mencionado por Tarcísio é Fabrício Cardoso de Paiva, de 48 anos. Ele é formado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Após passagem de 13 anos pelo Exército como oficial de artilharia, ele entrou para a agência de inteligência em 2009. Em 2019, foi cedido ao Ministério da Infraestrutura, à época chefiado por Tarcísio, e compõe até hoje a equipe do ex-ministro. Embora cedido à pasta, ele não foi desligado da agência.

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