BRASÍLIA - O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, deu três dias para o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL-RJ) prestar depoimento sobre a utilização “político-eleitoral” de seus perfis nas redes sociais para promover um “ecossistema de desinformação” contra os adversários do presidente da Jair Bolsonaro (PL) nas eleições deste ano. O ministro atendeu a um pedido da Coligação Brasil da Esperança, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que acusou diversos apoiadores do atual governo de utilizar indevidamente os meios de comunicação e abusar do poder de seus cargos para impulsionar um esquema de disseminação massificada de fake news. O PT ainda cobrou a abertura de uma investigação, que foi atendida.
Na decisão, o ministro afirmou que diversos apoiadores de Bolsonaro têm difundido informações falsas sobre o ex-presidente Lula, mas faz menção específica a Carlos, que seria um dos principais responsáveis pela suposta rede de “atuação concertada para a difusão massificada e veloz de desinformação”. Benedito escreveu que há indícios de que o vereador, também conhecido como filho 02 do presidente, atue como “ponto central” e coordenador do esquema de difusão de fake news em larga escala.
O PT argumenta na petição inicial encaminhada ao TSE que Carlos é a figura central do esquema de produção e disparos de notícias falsas nas redes sociais, contando com 2,7 milhões de seguidores e o maior nível de interação entre os perfis investigados. A sigla ainda acusa outras figuras influentes do bolsonarismo, como o deputado federal eleito Ricardo Salles (PL-SP), a deputa Carla Zambelli (PL-SP) e a produtora de filmes Brasil Paralelo de “produzir e difundir exponencialmente conteúdos desinformativos” com o objetivo de influenciar o resultado das eleições.
“A forte capacidade de mobilização de alguns dos investigados tem sido explorada para gerar uma espécie de resistência estrutural às decisões do TSE que determinam a remoção de notícias falsas”, afirmou Benedito. “Materiais já reputados ilícitos seguem armazenados em canais de Telegram para serem acessados por assinantes a qualquer tempo e novamente compartilhados, criando-se um ciclo de perpetuação de fake news, que desafia as ordens judiciais de remoção de conteúdo e tem efeitos nefastos sobre a normalidade eleitoral”, completou.
A Coligação que apoia Lula ainda pediu a suspensão temporárias dos perfis e sites geridos pelos apoiadores de Bolsonaro. Benedito negou o bloqueio dos perfis geridos por pessoas físicas como forma de preservar a liberdade de expressão. O corregedor, porém, fez uma ressalva às empresas que teriam divulgado notícias falsas em apoio ao atual governo, como a Brasil Paralelo, Foco do Brasil, Folha Política e Dr. News, que foram punidos com a desmonetização e a proibição de impulsionarem os seus conteúdos.
“O que se mostra preocupante é que essas pessoas jurídicas, ao produzirem conteúdo ideologicamente formatado para endossar o discurso do candidato que apoiam, têm se valido por reiteradas vezes de notícias falsas prejudiciais ao candidato Lula, com significativa repercussão e efeitos persistentes mesmo após a remoção de URLs”, escreveu Benedito. “Além disso, movimentam vultosos recursos financeiros, tanto arrecadados junto a assinantes e via monetização, quanto gastos em produção e impulsionamento de conteúdos”, completou.
No segundo turno, o PT, que se apresentava como vítimas de fake news, passou a também ser acusado de difundir informações falsas. Vídeos divulgados pela campanha de Lula foram retirados do ar por decisão do TSE a pedido da coligação de Bolsonaro.
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