TSE diz que teste pedido por militares descarta fraudes em urnas eletrônicas

2.044 eleitores concordaram em ceder suas digitais para habilitar o teste de urna proposta pelas Forças Armadas; participação equivale a 12,9% do eleitorado das seções em que a testagem foi feita

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Foto do author Weslley Galzo
Atualização:

BRASÍLIA - O teste pedido pelos militares nas urnas eletrônicas confirmou que não houve fraude no resultado das eleições. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelou ontem que foram 2.044 eleitores participaram do chamado teste de integridade, realizado pela primeira vez neste ano e que atestou que o voto digitado na urna coincidiu com o que ficou gravado no equipamento.

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Cinco dias depois das eleições, esse é o segundo relatório que atesta a confiabilidade das urnas. O Tribunal de Contas da União (TCU) fez uma apuração paralela e também concluiu que o resultado oficial da apuração seguiu os votos depositados nas urnas.

Além de exigir o teste de integridade com participação de eleitores, os militares também reuniram dados para uma apuração paralela. Até o momento, no entanto, o Ministério da Defesa não se pronunciou sobre qual foi o resultado da sua fiscalização. Questionados sobre o assunto pelo Estadão, as Forças Armadas alegam que “o trabalho está em andamento” a despeito de o TCU ter feito uma auditoria em número maior de urnas e já apresentado sua conclusão.

Teste de integridade das urnas eletrônicas com uso da biometria de eleitores em Brasília.  Foto: Wilton Junior / Estadão

Segundo o TSE, no total, 58 seções participaram do teste-piloto com o envolvimento dos eleitores no processo. Os participantes representam 12,9% dos eleitores que votaram nas seções onde o exame foi feito. “Nessas 58 seções eleitorais, não houve nenhuma divergência: 100% de aprovação no teste de integridade com biometria - ou seja, no primeiro turno das eleições de 2022 se repetiu o que ocorreu nas eleições de 2020, 2018, 2016, 2014, 2012, 2010, 2008, 2006, 2004 e 2002. Vinte anos de absoluta lisura das urnas eletrônicas com comprovação imediata pelo teste de integridade”, disse o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes.

Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro há dois anos questiona a urna eletrônica e levanta, sem provas, suspeitas de que o processo de apuração e votação pode ser fraudado. Primeiro, o presidente tentou exigir que houvesse voto impresso nas eleições. A proposta não passou no Congresso. Depois, passou a dizer que o TSE fazia uma apuração em “sala secreta”, o que foi desmentido pelo tribunal. Por fim, afirmou que se não ganhasse no primeiro turno com 60% dos votos seria a prova de fraude na eleição.

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Para respaldar sua tese, Bolsonaro envolveu os militares que passaram a questionar o TSE sobre os equipamentos de votação. O presidente terminou o primeiro turno com 43% dos votos, atrás do petista Luiz Inácio Lula da Silva que teve 48%. O Ministério da Defesa impediu o acesso da imprensa à sala em que realizou a contagem paralela dos votos no domingo, 2. Até o momento, nenhum militar veio a público contestar o resultado das eleições. Conforme apurou o Estadão, as Forças Armadas pretendem se limitar a entregar o relatório de seu trabalho ao presidente e não se envolver mais nesse assunto.

Militares e auditores da CGU participaram do teste de integridade em seções eleitorais em Brasília no primeiro turno de votação. Foto: Wilton Junior / Estadão

Na última quarta-feira, com a apuração já encerrada, Bolsonaro voltou a levantar suspeitas sobre o resultado da votação durante uma live, mais uma vez sem comprovação. A versão, agora, é que um algoritmo possa ter sido usado para fazer com que o petista Lula passasse na sua frente na apuração. A deputada Carla Zambelli (PL-SP) chegou a fazer uma live no domingo disseminando a informação falsa de fraude na apuração. Ontem, o TSE determinou que o vídeo da parlamentar fosse retirado do ar.

Tradicionalmente o teste a que as urnas eletrônicas são submetidas conta apenas com a participação de servidores da Justiça. As máquinas são levadas para os tribunais regionais que simulam a votação. Esse tipo de teste era feito desde 2002.

Este ano, por pressão dos militares, eleitores participaram da checagem. Em 58 seções espalhadas pelas cinco regiões do País, votantes foram convidados a ceder suas digitais para ativar a urna sob teste. Esses votos não foram computados, serviram apenas para atestar que os votos dados a determinado candidato apareciam depois no boletim de urna impresso pelo equipamento ao final do processo.

As Forças Armadas exigiram o uso da biometria dos eleitores sem vínculos com o Poder Judiciário sob a alegação de que seria uma medida necessária para evitar que servidores da Justiça Eleitoral fraudassem o procedimento ou que as urnas fossem alvo de um código malicioso na votação.

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A região Sudeste do País contou com o maior número de eleitores que concordaram em participar do teste dos militares, 562 ao todo, seguidos pelo Nordeste, com 426 pessoas. Na sequência figuram as regiões Centro Oeste, com 380 eleitores, Norte, com 369, e Sul, com 307. O novo modelo de testagem com a participação do eleitorado foi realizado simultaneamente com o método tradicional feito nos Tribunais Regionais Eleitorais em 641 seções.

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O presidente do TSE destacou que o número de seções testadas costumava ser de apenas 100. Este ano foram 641, além das 58 que passaram pelo exame exigido pelos militares com biometria. “Todos se recordam que, em vez das 100 urnas tradicionais, realizamos em 641. E como só poderia acontecer, todas as urnas conferiram os votos dados com os votos dados em papel. Lembrando que o teste de integridade é filmado integralmente para comparar os votos em papel, que são preenchidos anteriormente, e digitados no momento do teste de integridade pelos servidores da Justiça Eleitoral”, disse Moraes, ontem na sessão do TSE, quando anunciou o resultado da testagem.

Sem elementos para comprovar suas acusações de fraudes nas urnas, Bolsonaro mirou em novo alvo. Passou a atacar os institutos de pesquisa para justificar seu desempenho no primeiro turno. Alegou que o fato de figurar atrás de sua adversário nos levantamentos de intenção de voto teria contribuído para a diferença entre ele e Lula.

A campanha do presidente já identificou que o ataque às urnas e ameaças que sugerem não respeitar o resultado da votação são temas que afastam uma parte do eleitorado que ele precisa atrair para vencer a eleição. Antes do primeiro turno, o PL, partido do presidente, apresentou uma auditoria questionando as urnas. Diante da repercussão negativo, a legenda responsabilizou o autor do estudo para blindar Bolsonaro.

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