TSE corta fala de Marco Aurélio em programa de Bolsonaro; ex-ministro pede ‘censurar nunca mais’

Decisão ordenou exclusão de propaganda, mas apenas declaração de que STF não inocentou Lula acabou suprimida

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Foto do author Luiz Vassallo
Atualização:

O ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Paulo de Tarso Sanseverino, determinou suspensão de um programa eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL) a pedido da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A decisão, do dia 12, veda referências ao petista como “verdadeiro ladrão” e “corrupto”, proferidas pelo locutor do programa.

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Após o despacho, um trecho da inserção foi cortado. Em seu lugar, foi inserido um QR Code que leva a um canal de WhatsApp do TSE. Abaixo, consta a frase: “exibido para substituir programa suspenso por infração eleitoral”. A parte cortada do vídeo se refere a uma declaração do ex-ministro do STF Marco Aurélio Mello sobre as anulações de processos do ex-presidente Lula na Corte.

Na versão original, o ex-ministro aparece afirmando que “o Supremo não o inocentou”. “O Supremo assentou a nulidade dos processos-crime, o que implica o retorno à fase anterior, à fase inicial”. A versão editada, com o corte, traz metade da declaração de Marco Aurélio.

Imagem de QR Code do TSE sobre propaganda eleitoral suspensa Foto: Reprodução

A decisão do TSE, no entanto, não ordenou a retirada de trechos específicos do programa. O minsitro ordenou a “imediata suspensão da veiculação da propaganda eleitoral impugnada na televisão, em qualquer modalidade (inserções ou bloco), sob pena de multa no valor de 50.000,00 (cinquenta mil reais) por cada divulgação”.

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Em seu despacho, Sanseverino grifou declarações que considerou abusivas veiculadas no horário eleitoral, sem referência explícita a um juízo sobre a fala do ex-ministro do STF. “Nesse passo, in casu, a ilegalidade da propaganda impugnada encontra-se na utilização das expressões ‘corrupto’ e ‘ladrão’, atribuídas abusivamente ao candidato da coligação representante, em violação a presunção de inocência e em ofensa”, diz.

Ao Estadão, o ex-ministro afirma que está “tudo nebuloso”, e que, a partir de sua leitura da decisão do ministro do TSE, entendeu que ela atinge “o programa” e, não a sua fala, “no que esta se limitou a veicular a verdade”.

Marco Aurélio ainda afirmou que não sabe se o corte se deu pela “parte administrativa do TSE”. “Paciência”. “Tempo estranhos”, afirma. “Fui presidente do Tribunal Superior Eleitoral e nunca vi disso. Olha: censurar nunca mais. Falei à Band a pura verdade: o Supremo não absolveu o ex-presidente. Não julgou o mérito das ações penais. Anulou os processos ante o que viu, não concordei, como incompetência da 13 de Curitiba”, afirmou.

Marco Aurélio disse ainda que jamais chamaria o ex-presidente de “ladrão”, como fez a propaganda de Bolsonaro: “Eu sou um homem que guardo a urbanidade, jamais diria isso.”

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Marco Aurélio foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral em três mandatos distintos. Questionado sobre a atuação do TSE nestas eleições, o ministro afirma que nas ocasiões em que trabalhou no tribunal a atuação da Justiça Eleitoral era “minimalista”. “Estou achando que os tempos são estranhos. Não podemos permitir censura a quem quer que seja”, concluiu o ministro.

A reportagem entrou em contato com o TSE para comentar a supressão da fala do ex-ministro Marco Aurélio. A assessoria de imprensa do tribunal não informou se houve erro. “O que temos sobre o caso é apenas a decisão do ministro [Sanseverino]”, diz a resposta enviada ao Estadão.

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