Escolhido pela população do Mato Grosso do Sul em um segundo turno apertado entre dois bolsonaristas, o governador eleito Eduardo Riedel (PSDB) acredita que a polarização política pode arrefecer em 2023. Passada a disputa, o tucano afirma que aceita trabalhar com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em busca de uma agenda de desenvolvimento do País clara e compartilhada com os Estados, dentro de critérios de responsabilidade fiscal.
Representante do agronegócio, Riedel afirma que inclui nesse cardápio políticas de preservação dos biomas, com redução do desmatamento e balanço de carbono. “Não vejo essas questões como antagônicas”, afirmou.
Em entrevista exclusiva ao Estadão, o pecuarista Riedel diz que uma parte do agronegócio falha em sua forma de se comunicar e que é preciso ajustar o discurso tendo em vista a confluência de mesmos objetivos. “Resguardar a integridade dos biomas para biodiversidade e fazer o balanço de carbono são as grandes agendas do mundo globalizado e o Mato Grosso do Sul tem já uma agenda muito clara que envolve a energia renovável, boas práticas na agropecuária e programas de incentivo fiscal vinculados à eficiência de emissão de carbono”, disse.
A expectativa, de acordo com o governador eleito, é a de trabalhar com Lula dentro de uma relação de respeito e baseada em uma agenda que ele entende ser a necessária para o Mato Grosso do Sul. “Sob esse ponto de vista, ele (Lula) terá o meu apoio e também a minha cobrança. Nós temos que despersonalizar um pouquinho as questões políticas e focar nos resultados.”
Integrante de uma ala menos radical do bolsonarismo, Riedel diz acreditar que a polarização não foi e não é boa para o País. Segundo o tucano, ela pode arrefecer a partir de 2023, caso Lula estabeleça um governo com propostas claras e de responsabilidade fiscal.
“Em cima disso vamos ter discussões políticas e ideológicas. Para mim, por exemplo, o ajuste fiscal do Estado é muito importante. Você pode debater, numa emergência, deixar o social fora do teto de gastos por um ano. É uma decisão do Congresso Nacional, mas não concordo em dar um salvo conduto de quatro anos para o governo colocar o Bolsa Família e outras dobrinhas orçamentárias fora do teto.”
Com ou sem teto, Riedel não defende que o PSDB se posicione neste momento sobre o governo Lula. “Defendo cautela. Seremos parceiros nas agendas que forem importantes para o País. Mas entendo que a gente não deve nos assumir como base. Essa é a minha opinião pessoal.”
Sobre o PSDB, o governador eleito diz que o partido não alcançou uma boa expressão no Congresso e que, por isso, deve pensar em uma nova junção, seja por meio de uma confederação, seja a partir de uma fusão. No seu caso, porém, o partido foi essencial, diz Riedel.
“(O PSDB) Me ajudou muito, até pela musculatura que temos no Estado que já governamos. Dos 79 municípios, temos quase 40 prefeitos e outros 17 vice-prefeitos. Conseguimos angariar uma expressão política muito forte, mas o PSDB vive uma crise interna, diante da polarização, e até uma perda de identidade. Então, fui também muito criticado aqui, até por ser do agronegócio.”
Lançado pelo atual governador, Reinaldo Azambuja, o então secretário de governo deixou claro desde o início que apoiaria Bolsonaro na eleição presidencial. Foi o único candidato do PSDB a assumir tal postura publicamente, mas nem por isso levou todos os votos do bolsonarismo no Estado. Seu adversário, Capitão Contar (PRTB), chegou a receber uma declaração de apoio do presidente e passou ao segundo turno na primeira colocação.
“Bolsonaro teve 60% dos votos no Estado. Acho que esses outros 40%, que representa a esquerda, entenderam que eu era um candidato de mais fácil diálogo e de um conteúdo programático mais assertivo em relação à agenda que não é de esquerda nem de direita. E o meu adversário não tinha consistência no discurso. Era só o contra tudo e contra todos. Minha agenda trouxe para o debate questões relacionadas ao meio ambiente e à proteção de terras indígena juntamente com o desenvolvimento do agronegócio”, afirma.
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