Um dia depois de clã Bolsonaro sinalizar trégua com Marçal, ex-presidente faz videochamada com Nunes

Prefeito confirmou ao Estadão ter recebido, nesta quinta-feira, ligação do ex-presidente para ‘desejar boa sorte’ e ‘demonstrar apoio’

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Foto do author Pedro Lima
Atualização:

Um dia após o clã Bolsonaro levantar a bandeira branca em direção a Pablo Marçal (PRTB), sinalizando um armistício com o ex-coach, o prefeito Ricardo Nunes fez uma videochamada com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e elevou o tom contra o adversário, chamando-o de “estelionatário”.

“Ele (Bolsonaro) ligou durante a agenda minha e do Mello aqui em Guaianases (bairro da zona leste da capital). (A ligação) foi para desejar boa sorte, demonstrar apoio”, afirmou Ricardo Nunes ao Estadão, acrescentando que o ex-presidente também conversou com apoiadores que estavam em sua volta.

Ricardo Nunes e Bolsonaro em evento do PL no último sábado, 6. Foto: Fernando Antunes e Wesley Viana/PL/Divulgação Foto: Fernando Antunes e Wesley Viana/PL/Divulgação

O momento foi compartilhado por Mello Araújo nas redes sociais. No vídeo, Nunes aparece dizendo que já está com a sua camiseta amarela para o dia 7 de setembro, se referindo à manifestação convocada pelo ex-presidente.

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Em vídeo publicado no Instagram nesta quarta-feira, 28, o vice de Nunes, coronel Mello Araújo (PL), nome indicado pelo próprio Bolsonaro para compor a chapa do MDB, reforça sua relação com o ex-mandatário: “Eu fui escolhido pelo presidente Bolsonaro para representar a direita na cidade de São Paulo”, declara o ex-comandante da Rota.

“Vou estar junto com o prefeito Ricardo Nunes, como vice, sendo o ouvido, os olhos e o braço da direita aqui na cidade de São Paulo”, completa. Sem citar o nome de Marçal, mas referindo-se a ele, Mello diz: “não vou aceitar pessoas disfarçadas pelo crime organizado entrando aqui na nossa cidade”. “Juntamente com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o prefeito Ricardo Nunes e com o apoio do nosso presidente Bolsonaro, a gente vai fazer uma cidade muito melhor.”

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Na manhã desta quinta, 29, durante a agenda na zona leste de São Paulo, Nunes afirmou que não se incomodou com a fala de Bolsonaro, em que insinuava um convite a Marçal para participar dos atos, mas dedicou cerca de sete dos 13 minutos de entrevista com os jornalistas para falar sobre o adversário. “(Bolsonaro) Jamais vai apoiar alguém que foi condenado, preso, principalmente por fraudar e tomar dinheiro de aposentados em golpes de banco e alguém que está envolvido até o nariz com pessoas do seu partido ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), com uma quadrilha em torno do candidato.”

Para Nunes, “Bolsonaro é um cara de palavra”. “Ele já declarou que tem o apoio à nossa candidatura”, disse. Durante a fala, seu vice o interrompeu para dizer que Bolsonaro, em videochamada, havia desejado “boa sorte” na campanha para os dois, “mostrando de que lado ele está”. Mello, sem citar Marçal nominalmente, diz que “algumas pessoas fazem cortes e modificam o contexto. Utilizar meios para enganar uma pessoa e conduzir para o caminho errado... Isso é estelionato, é golpe.”

O prefeito do MDB seguiu a linha de raciocínio de seu companheiro de chapa, e seguiu chamando Marçal de “estelionatário”. “Estamos aí com um estelionatário, que comete estelionato o tempo inteiro, desde os 18 anos, cometendo crime, ludibriando as pessoas”. Nunes se refere ao ex-coach como “personagem”, e que os eleitores vão perceber, até a data do pleito, que o empresário “mente para as pessoas.”

As falas de Nunes e Mello acontecem depois de integrantes da família Bolsonaro ensaiarem uma reaproximação do clã com o ex-coach. O vereador do Rio de Janeiro e candidato à reeleição Carlos Bolsonaro (PL) conversou por telefone com Marçal e disse, em publicação no X, antigo Twitter, que o empresário foi “educado e bacana” na conversa. Carlos finaliza a publicação deixando um “fraterno abraço a Pablo e que saíamos todos mais fortes para um Brasil que os brasileiros desejam”.

Em entrevista ao Flow Podcast, também nesta quarta, 28, Marçal revelou que quem intermediou a ligação entre os dois foi o deputado federal Nikolas Ferreira (PL). “Hoje foi a primeira vez que eu falei com ele (Carlos Bolsonaro) no telefone. Eu liguei pra ele. Na verdade, um amigo nosso, o Nikolas, me ligou e falou: ‘você topa falar com ele?’. Colocou na videochamada e a gente resolveu nosso problema. Tá resolvido”, disse o ex-coach.

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Na semana passada, depois do vereador carioca declarar que “consideraria Marina Helena (Novo) como uma possibilidade de voto”, o candidato do PRTB chamou o filho do ex-presidente de “retardado mental” e “imbecil” em vídeo publicado em seu Instagram. Ele ainda afirmou que o vereador pelo Rio “não tem escrúpulos”.

Malafaia não vê problema em Nunes e Marçal participarem de atos no 7 de Setembro

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Uma declaração publicada no perfil do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) nesta quarta, 28, o antigo mandatário diz que as manifestações organizadas para 7 de Setembro são um movimento suprapartidário e “como um candidato a prefeito queria comparecer, nós autorizamos, assim como qualquer outro candidato a prefeito da capital está autorizado a subir no carro de som também”, afirmou o filho do ex-presidente.

O coordenador dos atos, pastor Silas Malafaia, disse ao Estadão que Marçal ensaiou um apoio ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes depois de vazamentos de mensagens do magistrado. “Se o cara está apoiando o Moraes, ele tem que ir pra um outro palanque”, disse Malafaia. Perguntado se Nunes e Marçal poderiam subir, ao mesmo tempo, no carro de som, o pastor reiterou: “todos vão subir. O evento não é partidário.”

“Se a menina do Novo (Marina Helena) for, vai subir (no carro de som), se ele (Marçal) for, vai subir, se o prefeito for, vai subir. Não tenho nenhum problema com isso”, ressaltou Malafaia, dizendo que coordena o evento, mas não é dono. Mesmo não sendo um evento partidário, o ato é organizado pelo pastor que, desde 2018, declara publicamente seu apoio a Bolsonaro. Silas também não citou os nomes de Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) para dizer que os candidatos seriam bem-vindos ao ato.

Clã Bolsonaro x Pablo Marçal

Nas últimas semanas, Marçal se dedicou a capturar o eleitorado bolsonarista da cidade que não se identifica com Ricardo Nunes. Para isso, Marçal passou a mimetizar Bolsonaro. Na convenção que oficializou sua candidatura, Leonardo Avalanche, presidente nacional do PRTB, repetiu o slogan “Deus, Pátria e Família”, utilizado na campanha de Bolsonaro. O ex-coach se refere aos seus filhos da mesma maneira que Bolsonaro, utilizando números para identificá-los.

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O sucesso de Marçal em atrair parte do eleitorado bolsonarista sem o apoio do ex-presidente virou motivo de incômodo para o clã Bolsonaro, que passou a mirar sua artilharia em Marçal. O ex-presidente usou o seu canal no WhatsApp na semana passada para compartilhar um vídeo reunindo diferentes momentos em que Marçal fez declarações contrárias a ele, inclusive comparando-o a Lula. No Instagram, o ex-presidente também alfinetou o ex-coach ao reagir, com ironia, a um comentário em que Marçal dizia: “Pra cima, capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós”. Bolsonaro respondeu: “Nós? Um abraço.”

O irmão de Marçal, Hudson Marçal (PL), candidato a vereador em Goiânia (GO), em contrapartida, é apoiado por Eduardo Bolsonaro. Em 6 de agosto, Hudson postou uma foto com Eduardo na convenção do Partido Liberal. A imagem foi apagada das redes, mas outras fotos com a família Bolsonaro ainda aparecem em seu Instagram.

Tarcísio se torna mais presente na campanha de Nunes

Por conta dessa aproximação de Marçal ao bolsonarismo, Tarcísio de Freitas tornou-se o principal articulador da candidatura de Ricardo Nunes, atuando nos bastidores para manter os partidos de sua base na coligação do emedebista e evitar a fragmentação da direita em São Paulo. O governador atuou, também, para evitar que o ex-presidente continuasse a flertar com a candidatura do ex-coach em um movimento político que começa a não ter o resultado esperado.

Tarcísio tem atuado para alertar bolsonaristas que estariam deslumbrados com a popularidade digital do influenciador e querem surfar a onda de curtidas do candidato do PRTB nas redes sociais. Na visão do líder do Executivo estadual, se eleito, Marçal não faria uma boa administração, abrindo caminho para um governo de esquerda na capital paulista em 2028. Tarcísio sustenta que tudo aquilo que acontece em São Paulo impacta diretamente a região metropolitana e pode prejudicar o grupo em eleições futuras.

Na prática, o governador se tornou o principal defensor de Nunes dentro do bolsonarismo, sendo também o mais vocal em expressar seu apoio. Tarcísio tem utilizado suas entrevistas para falar sobre a importância da colaboração entre Estado e município e, nas redes sociais, defende ativamente a administração de Nunes — o que Bolsonaro ainda reluta em fazer.

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Bolsonaro marcará presença no programa de TV de Nunes

O prefeito dominará a propaganda eleitoral gratuita, com mais de 60% do tempo total. Com uma coligação formada por 12 siglas, Nunes terá 6 minutos e 30 segundos, mais 54 inserções por dia. Suas primeiras aparições já contarão com a presença de Tarcísio e de Bolsonaro. O horário eleitoral começa nesta sexta, 30.

Aliados do prefeito esperam que o amplo tempo de TV dê um novo fôlego à campanha de Nunes, que foi impactada com o avanço de Marçal na disputa. A participação de Bolsonaro e Tarcísio faz parte de um esforço do prefeito de reconquistar parte do eleitorado simpático ao bolsonarismo que migrou para o ex-coach.

Nunes deve aproveitar seu extenso tempo de televisão para atacar Marçal. Uma das peças produzidas pela campanha resgata uma declaração polêmica do influenciador em que ele afirma que mulheres não deveriam permitir que seus maridos tenham amigas, porque “um homem de verdade não tem amiga”. Outro episódio que será destacado é o relato de que Marçal tentou, sem sucesso, fazer uma mulher em cadeira de rodas voltar a andar.

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